As sociedades estabelecem, em cada época, normas de condutas impostas aos indivíduos para docilizar seus corpos. A exemplo, destacam-se Manuais de etiqueta, que agem como dispositivos (FOUCAULT, 2018) para disciplinar comportamentos e regular a vida social, determinando como as pessoas devem se portar em diversas situações. Em 1530, a leitura da obra Da civilidade em crianças, de Erasmo de Rotterdan, se tornou uma tradição na Europa. No Brasil, com a chegada da corte portuguesa, na primeira metade do século XIX, publicações como Códigos de Bom-Tom, Regras Civilidade e de Bem viver no Século XIX (1845), de autoria do cônego J. I. Roquette, se tornaram leitura obrigatória. Os manuais eram, em sua maioria, dirigidos às mulheres, e circulavam, sobretudo, no âmbito doméstico já que cabia a elas a função de mãe e dona de casa, devendo zelar pela administração do lar (MOYZES, 2017). Na contemporaneidade, as mulheres ainda continuam sendo alvo de normas e regras de civilidade e sobre elas são produzidos vários discursos que ainda a subjetivam como mãe, esposa. Este trabalho tem por objetivo analisar que saberes são produzidos sobre a mulher no zine Manual da esposa pós-moderna (MEPM), publicado em 2019 pela cartunista Bruna Maia. Dividido em duas partes – “Escolhendo seu Homem Feministo”, “Tornando-se a esposa pós-moderna perfeita para seu homem feministo” – o MEPM, segundo Maia (2019), “buscou promover a autoconsciência feminina sobre determinados padrões ainda reproduzidos pelas próprias mulheres em anos de patriarcado nas relações heterossexuais”. Para atingir nosso objetivo, iremos analisar práticas discursivas e não discursivas (FOUCAULT, 1969) que colaboram na subjetivação dessa mulher. O sujeito, ao publicar o Manual da esposa pós-moderna, em pleno século XXI, e ao lhe atribuir esse título, enuncia fazendo uso da ironia como um recurso de modalização. Esse sujeito enunciador mobiliza um arquivo (FOUCAULT, 1969) que numa dada época, e para uma determinada sociedade, mantém uma memória em que os discursos definiam formas de dizibilidade e produziam saberes sobre ser esposa (agradar sempre o seu marido e tentar preservar o seu casamento), ao mesmo tempo em que promove um esquecimento na medida em que a esposa do MEPM é uma mulher que possui uma vida autônoma, tendo controle sobre ela (tem o corpo tatuado, usa cabelos coloridos, é independente financeiramente) e é uma mulher que sabe dar a volta por cima quando a relação a dois termina.
A segunda edição do Seminário do Grupo de Pesquisa em Linguagem, Discurso, Mídia e Educação (II SELIDIME) teve o seguinte tema: "Estudos do Discurso no Brasil: trajetória e perspectivas". A proposta era discutir a trajetória dos estudos do discurso realizados no Brasil nas suas mais diversas abordagens e as perspectivas para sua ampliação e desenvolvimento, mantendo nosso objetivo de promover diálogos entre pesquisadores e pesquisadoras das várias regiões brasileiras interessados/as em investigar o fenômeno da linguagem com foco no discurso, especialmente daqueles que circulam nas áreas da Comunicação Social e da Educação.
Como resultado, obtivemos a submissão de variados trabalhos discutindo temas e objetivos diversos pela perspectiva dos Estudos do Discurso, os quais depois de avaliados, apresentados e discutidos em nosso seminários, têm aqui seus resumos apresentados.
Agradecemos a todos/as e todos que contribuíram para a riqueza e qualidade das discussões geradas a partir das pesquisas apresentadas.
Comissão Organizadora
Grupo de Pesquisa em Linguagem, Discurso, Mídia e Educação - LIDIME
Profa. Dra. Regysane Botelho C Alves (UFMA)
Prof. Dr. Marcos Fábio Belp Matos (UFMA)
Comissão Científica
Profa. Ma. Ana Paula Campos Fernandes (UNIPAC)
Profa. Dra. Luciane Cristina Eneas Lira (IFB)
Profa. Dra. Maria Felícia Romeiro Mota Silva (UFOB)
Profa. Dra. Regysane Botelho C Alves (UFMA)