Este resumo propõe discutir o entrelaçamento entre produções cinematográficas brasileiras e o processo de patologização ocorrido no contexto nacional. Como base para essa discussão, traz-se ao campo do debate o documentário Holocausto Brasileiro, dirigido por Daniela Arbex e baseado no livro de mesmo nome, o qual revela as atrocidades cometidas no Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais, onde mais de 60 mil pessoas morreram em condições desumanas ao longo do século XX. A obra expõe como esse hospital psiquiátrico se transformou em um espaço de exclusão sistemática, encarcerando indivíduos que, muitas vezes, foram institucionalizados por razões sociais, econômicas, de gênero ou por não se enquadrarem naquilo que se compreendia como normalidade na época. Historicamente, as ideias acerca da anormalidade, da deficiência e da loucura influenciaram as ações do Estado em relação aos direitos e às variadas formas de atenção oferecida às pessoas identificadas com alguma deficiência. Ao analisar o documentário, tendo como referência os estudos de Silva (2022), percebe-se uma crítica convergente à lógica da patologização e do controle social, especialmente sobre os corpos considerados desviantes. Arbex revela como a institucionalização em Barbacena baseava-se em uma medicalização da vida, em que a diferença era transformada em doença. Do mesmo modo, no cenário atual, pode-se evidenciar, a partir de outras perspectivas, a utilização excessiva — e muitas vezes arbitrária — de diagnósticos médicos no ambiente escolar, com o objetivo de classificar e patologizar estudantes. O documentário Holocausto Brasileiro e Silva (2022) apontam para uma lógica perversa: a construção de mapas institucionais que pretendem nomear, diagnosticar e controlar os sujeitos, em alguns momentos, desconsiderando suas singularidades. No caso de Barbacena, o território humano foi anulado por uma estrutura que tratava pessoas como resíduos sociais. No caso da escola, segundo Silva (2022), ocorre algo semelhante, quando diagnósticos substituem um olhar mais contextual por uma rotulação que impede o encontro com o território real do sujeito — sua história, seus vínculos, suas singularidades, habilidades e sua potência. Desse modo, o presente resumo propõe realizar uma crítica à desumanização das práticas sociais baseadas no modelo biomédico hegemônico na educação, que transforma as singularidades da infância em possíveis patologias. Destaca-se ainda que o episódio ocorrido em Barbacena não se configura como um fato isolado no contexto brasileiro. As práticas de exclusão sociais fazem parte de um período em que a sociedade adotava estratégias de segregação para lidar com aqueles considerados “desviantes da norma”, seja em hospitais psiquiátricos, seja em escolas e classes especiais. Nesse sentido, ressalta-se a importância de produções como o documentário Holocausto Brasileiro, que nos convoca a um chamado ético e político pela ruptura com sistemas que oprimem sob o manto de uma suposta “normalidade”. Estabelecendo diálogo com as reflexões que o documentário propõe, e com os processos de escolarização e patologização, indicamos que a necessidade de reinvenção do espaço escolar se apresenta como imprescindível: um território de encontros, e não de classificações, que proponha uma escuta sensível e que vá além de um mapa diagnóstico.
O III Colóquio Processos de Despatologização na Educação e na Saúde aconteceu nos dias 24 a 26 de setembro de 2025 na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul sendo promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Educação/Faculdade de Educação/Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Programa de Pós-Graduação em Educação/Centro de Educação/Universidade Federal de Santa Maria contando com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superio (CAPES) através do edital de Programa de Apoio a Eventos no País (Edital PAEP nº 22/2024).
No ano de 2018, após ser contemplado pelo edital 35/2017 do Programa de Apoio a Eventos no País (PAEP), aconteceu o I Colóquio Processos de Despatologização na Educação e Saúde de forma presencial ocorrendo transmissão online para demais participantes do Brasil. Com o primeiro Colóquio essa rede aumentou e nos anos seguintes uma série de atividades foram realizadas culminando com a realização, em 2021, do II Colóquio Processos de Despatologização na Educação e Saúde de forma online. Contou com uma rede colaborativa para a realização que inclui o Núcleo de Estudos em Políticas de Inclusão Escolar (NEPIE/UFRGS); a Faculdade de Educação da UFRGS; a Associação Brasileira de Psicologia Escolar do Estado do Rio Grande do Sul; o Conselho Regional de Psicologia do Estado do Rio Grande do Sul; a Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas e a Rede Despatologiza.
Neste III Colóquio Processos de Despatologização na Educação e na Saúde nossa rede aumentou, buscando construir laços de internacionalização com outros países como Espanha, Portugal e Uruguai buscando a possibilidade de criação de uma Rede de Pesquisa Internacional.
Foram 66 trabalhando encaminhados sendo 58 aceitos para as Rodas de Conversa. Os trabalhos dizem da multiplicidade dos processos para se pensar na despatologização na educação e na saúde de diversas instituições como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre; Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; Universidade Federal de Santa Maria; Universidade Federal do Rio Grande; Centro de Estudo Superior Riograndense; Universidade do Vale do Taquari; Universidade de Santa Cruz do Sul; Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões; Universidade do Extremo Sul Catarinense; Escola Superior de Criciúma; Universidade Estadual do Paraná; Universidade Federal do Paraná; Universidade de São Paulo; Universidade de Brasília; Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
1) Informações Gerais:
O III Colóquio Processos de Despatologização na Educação e na Saúde espera receber resumos de trabalhos científicos de diferentes origens: artigos, dissertações, teses, pesquisas, relatos e/ou sistematização de experiências.
Os trabalhos inscritos serão analisados pela Comissão Científica e poderão ser selecionados para rodas de conversa que irão acontecer no dia 25 de setembro, na parte da tarde.
Os trabalhos poderão ser inscritos por professoras e professores da educação básica, alunas e alunos de graduação e pós-graduação, pesquisadoras e pesquisadores das temáticas.
A inscrição dos trabalhos será feita, exclusivamente, pelo sistema de submissões da Plataforma Doity. Não serão aceitas propostas enviadas por e-mail, correio convencional ou diretamente à Comissão Científica.
Serão aceitos no máximo 02 (dois) trabalhos por autor principal e não há limites para trabalhos em coautoria. Trabalhos que apresentem orientador(a) deverão incluí-lo(a) como coautor(a).
Todos os trabalhos aprovados serão apresentados na modalidade oral, em formato de roda de conversa. Não serão utilizados gráficos, tabelas, banner ou outros recursos visuais para a apresentação, este formato permitirá maior interação e participação dos(as) autores(as) e coautores(as) dos trabalhos nas rodas de conversa e maior compartilhamento entre os participantes. A dinâmica de manter apenas apresentações orais é uma iniciativa que valoriza a sustentabilidade, reduzindo a impressão de material gráfico e uso de tecnologias.
Somente estarão disponíveis para apresentação os trabalhos que, conforme regra da submissão, pelo menos um(a) dos(as) autores(as) estejam inscritos(as) no Colóquio. Qualquer um(a) dos(as) autores(as) e coautores(as) poderá representar o trabalho na atividade.
Será emitido 01 (um) certificado por trabalho apresentado, onde constarão os nomes de todos(as) os(as) autores(as) e coautores(as).
Os(As) autores(as) e coautores(as) dos trabalhos aprovados autorizam a Comissão Científica do III Colóquio Processos de Despatologização na Educação e na Saúde a publicar ou divulgar o resumo com a finalidade da socialização da produção científica apresentada no evento, em âmbito nacional, internacional e em todos os meios de comunicação, não cabendo qualquer pagamento por direito autoral.
Os Resumos do III Colóquio Processos de Despatologização na Educação e na Saúde serão publicados posteriormente em livro a ser organizado pela Comissão Organizador.
2) Prazo para Submissões:
Os participantes interessados em submeter trabalhos devem preencher o formulário de submissão até as 23 horas e 59 minutos (horário de Brasília) do dia 21/07/2025.
3) Normas para apresentação de resumos:
Os resumos devem ser submetidos no formulário eletrônico, que deve ser preenchido em todos os seus campos e não devem ser inseridos gráficos, tabelas ou outros recursos visuais, apenas redigir o texto.
Os resumos poderão ser apresentados na forma de resumo simples ou resumo expandido.
4) Das modalidades e formatação:
Os trabalhos poderão ser enviados em forma de:
Resumo Simples: contendo no mínimo de 250 e o máximo de 500 palavras.
Citações e referências não devem ser inseridas nos resumos simples ou expandidos, considerando que o número de palavras é limitado.
O texto deve ser escrito em língua portuguesa, espanhola, francesa, inglesa ou italiana.
5) Os resumos deverão conter os seguintes elementos estruturais:
Tema - título;
Apresentação: do que trata o trabalho e o objetivo;
Desenvolvimento do trabalho: descrição da experiência ou método do estudo;
Resultados: os efeitos percebidos decorrentes da experiência, ou resultados esperados ou encontrados na pesquisa;
Considerações finais;
6) Dos critérios para aprovação:
O resumo deve respeitar as normas de submissão;
O tema deve ser relevante para a temática do III Colóquio Processos de Despatologização na Educação e na Saúde;
O texto deve ser compreensível aos leitores, coerente e com encadeamento lógico entre os elementos estruturais;
Os resumos devem ser originais e os(as) autores(as) e coautores(as) assumem a responsabilidade de que o trabalho não foi publicado anteriormente. A originalidade, na compreensão que orienta esse processo, diz respeito à um texto autoral (sem plágio e sem uso de recursos de inteligência artificial) e sem restrições de publicação por decorrência de publicação prévia.
Todos trabalhos recebidos serão submetidos a um sistema de verificação de similaridades, sendo a ocorrência de plágios um dos critérios para reprovação. Exceções se aplicam a produções que são frutos de trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses dos próprios autores.
Comissão Organizadora:
Claudia Rodrigues de Freitas (UFRGS)
Elisandro Rodrigues (UFRGS/GHC)
Fabiane Romano de Souza Bridi (UFSM)
Leandra Bôer Possa (UFSM)
Comitê Científico:
Amanda Diehl (UFSM)
Anna Letícia Ventre (UFRGS)
Bianca Isabel Pederiva (UFRGS)
Carla Maciel da Silva (UFRGS)
Denise Ferreira da Rosa (UFSM)
Elisangela Reinheimer de Bittencourt (UFRGS)
Karen Moretti da Rosa (UFSM)
Karine Ribas Pereira (UFRGS)