O QUE APRENDEMOS SOBRE E COM PACIENTES DIFÍCIES?

O QUE APRENDEMOS SOBRE E COM PACIENTES DIFÍCIES?

• Autor
• Mirhaylla De Jesus Alves Dias
• Co-autores
• Silvia Raquel Santos de Morais
• Resumo

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  Introdução: No curso de Psicologia, o estágio curricular é o momento formativo necessário para o aprimoramento de habilidades e competências profissionais. Na área clínica, o estagiário trabalha com diferentes públicos mediante oferta de várias modalidades de atenção, principalmente, a psicoterapia. O estudante que inicia nesse percurso é considerado aprendiz da clínica, sendo designado a acompanhar pessoas em situação de sofrimento, por meio de um cuidado processual/sistemático. Em algumas situações, o estudante recebe pacientes considerados “difíceis”. Tais casos geralmente apresentam dificuldade de engajamento e corresponsabilização para consigo mesmo e com seus pares. Objetivos: O objetivo do relato é descrever as afetações emergentes ao longo de um acompanhamento psicoterapêutico de um caso clínico ‘difícil’ no serviço escola de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco(UNIVASF). Método: O caso foi conduzido por uma perspectiva fenomenológica existencial heideggeriana, priorizando-se a interpretação das experiências desveladas mediante uso da hermenêutica.  Resultados e discussão: Trata-se de uma mulher de meia idade, com queixa de depressão e ansiedade, a qual já havia passado por diferentes estagiários em um mesmo serviço-escola público, ao longo de anos. Observou-se que, na maioria do tempo, a paciente apresentava narrativa desconectada do compromisso de descoberta do saber-de-si, delongando-se em falas superficiais/teatralizadas/eufóricas sobre acontecimentos cotidianos, com baixa disposição afetiva para implicar-se em seu processo de cuidado. O falatório da paciente denotava distanciamento de sua condição de indeterminação existencial. Parecia evitar contato com a finitude/angústia que clamava por passagem em sua demanda obscurecida. Apresentava queixas repletas de exaltação à positividade e desejo de controlar o curso das sessões, evitando tocar em experiências limítrofes e aprofundamento de demandas. Ao longo de 12 encontros, houve recomendação de avaliação psiquiátrica. Aprendemos que em processos como esse, são as tonalidades afetivas superficiais (medo, alegria) que se sobressaem, em detrimento das tonalidades mais profundas (angústia,  tédio). As afetações presentes ao longo desse processo, foram: sensação de manipulação, raiva, medo, angústia, revolta, decepção, desmotivação. Tais afetos estavam presentes e foram elucidados nas supervisões clínicas, momento em que compartilhamos da compreensão de que o Dasein estava prestes a desvelar-se, mas ainda insistia no encobrimento. Conclusão: A singularidade e a especificidade do caso em questão possibilitaram amadurecimento profissional, elucidando questões significativas para a formação do psicólogo, tais como: dificuldades de interação na prática clínica,  modos de condução da psicoterapia em contextos públicos,  necessidade de se trabalhar o desvelamento/compreensão dos afetos em prol de uma formação para além do currículo formal. Por fim, sugere-se que estudos nessa direção sejam realizados para esclarecer questões de suposta resistência ao processo de cuidado, bem como, possíveis frustrações oriundas da experiência como aprendizes da clínica com pacientes “difíceis”.  

• Palavras-chave
• Psicoterapia, Psicologia Clínica, Supervisão clínica, Estágio, Clínica-escola.
• Modalidade
• Pôster
• Área Temática
• 4. Intervenção em Saúde Mental no Contexto da Educação Superior: envolve ações de prevenção, intervenção e restauração da saúde mental para os diversos membros da comunidade acadêmica (discentes, docentes e demais trabalhadores).