Neste ensaio propomos gestos de interpretação acerca do discurso institucional para o acesso de sujeitos-estudantes haitianos à educação superior, com o objetivo de analisar a noção de hospitalidade pelo viés da desconstrução derridiana em uma perspectiva discursivo-desconstrutivista. A análise aponta para três mo(vi)mentos, os quais nomeamos como saber a língua para/e (demonstrar) saberes sobre, saber a língua e (demonstrar) saber sobre a língua e provar saber a língua, que mostram deslocamentos nos modos de hospitalidade ou hostilidade, em que a língua portuguesa é tomada como língua de (não) acolhimento. Nesses três mo(vi)mentos, observamos que há modificações na forma de ingresso que exigem cada vez mais que o candidato domine a língua portuguesa. Assim, ao mesmo tempo em que se procura receber o outro a partir da hospitalidade, também está presente o que Derrida (2004) chama de hos(ti)pitalidade, pois o sujeito-estudante haitiano precisará cumprir as exigências do processo seletivo em uma língua que não é a sua. Assim, hospitalidade e hostilidade se convocam pois, embora a universidade busque constantemente revisar e ajustar os modos de acesso, assim como ampliar o programa com foco não só no acesso, mas também na permanência e êxito acadêmico, as exigências em relação à língua portuguesa vão gradativamente aumentando. Sobre isso, ao longo do trabalho, buscamos mostrar que a língua dita de acolhimento ainda é uma barreira tanto para o acesso quanto para a permanência desse estudante, mas também nos demais âmbitos da sociedade, pois essa é uma língua do dia a dia do sujeito, necessária para a sua plena cidadania. Portanto, compreendemos que, para além do espaço acadêmico, é necessário cada vez mais atenção e ações voltadas a minimizar e vencer essa barreira, considerando nesse processo de acolhimento a voz e a língua do imigrante.
Comissão Organizadora
Victor Barros
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