Nota-se cada vez mais crescente a presença das mulheres nos percursos migratórios, porém, por muito tempo, o género não era considerado na caracterização deste fenômeno, existindo uma tendência a privilegiar as características patriarcais da migração masculina, e a generalizar esse processo como um todo. Os processos migratórios são multidimensionais e complexos, e além dos desdobramentos característicos ao processo de mudança, contemplam, igualmente, impactos de natureza psicológica, cultural, econômica, social e política. Embora não configure de forma isolada um fator de risco à saúde mental, pode favorecer condições de vulnerabilidade devido a desigualdades no acesso aos cuidados de saúde, suporte inadequado e exposição à inúmeras formas de discriminação e de racismo. A saúde mental das populações migrantes representa um desafio para os pressupostos culturais e organizacionais dos sistemas de proteção social dos países ocidentais, que nem sempre atentam às questões da diversidade cultural e às especificidades identitárias tais como o gênero e raça. Portugal, não é excepção. Configurado como um local de esperança para milhares de mulheres que se deslocam das mais distintas geografias mundiais, é marcado por uma história colonialista, onde o racismo ainda é estrutural e a desigualdade no acesso e utilização dos serviços de saúde é ainda atreito a muitos obstáculos. Face a ausência de estudos que visibilizem os percursos de mulheres imigrantes racializadas e que compreendam a relação entre a diversidade, bem-estar psicológico e práticas em saúde mental culturalmente adaptadas, esta comunicação retrata de uma forma teórica os fatores que influenciam a (in)acessibilidade das mulheres imigrantes e racializadas aos cuidados de saúde mental no contexto português e quais aspectos se assumem como cruciais nos cuidados que sejam específicos a esta população. Pretende-se com este trabalho contribuir com conhecimento científico que potencie a reflexão necessária com vistas a minimizar as desigualdades de acesso aos cuidados de saúde mental, e a ser uma medida potencializadora de uma melhor integração dessas mulheres no país de recepção. Bem como potencializar mudanças políticas, sociais e institucionais necessárias para um acesso aos serviços de saúde mental que sejam de qualidade e sensíveis às diferentes pertenças identitárias de seus clientes.
Comissão Organizadora
Victor Barros
Comissão Científica