A comunidade internacional vivencia a maior crise humanitária: a população global que sofre migração forçada devido a conflitos, perseguições e violações de direitos humanos cresce substancialmente (UNHCR, 2023). O migrante que se desloca à força se vê, de repente, diante da necessidade de recomeçar em outro país, não raro onde nunca se imaginou antes. A língua, a diferença cultural e o desconhecimento sobre funcionamento das leis e da cidade são barreiras que se erguem no processo de adaptação. Assim, o ensino da língua do país anfitrião — conhecido, neste contexto, como português como língua de acolhimento (PLAc) — é essencial, pois é a ponte de acesso a espaços sociais e laborais (ANÇÃ, 2008). Essas pessoas precisam se comunicar, a fim de se tornarem autônomas na participação desta nova sociedade e o PLAc é a ferramenta que lhes possibilita falar e, mais importante, falar de si (PEREIRA, 2017); construindo suas próprias narrativas e retomando, aos poucos, à normalidade que o caos do deslocamento à força lhes tomou. Após a invasão do Talibã em 2021, assistimos à chegada de nacionais do Afeganistão em São Paulo, configurando um novo cenário nas aulas de PLAc: ensinar mulheres que se comunicam apenas no idioma nativo (Dari) cujo alfabeto e sistema de escrita se diferem do latino. Com isso, apresenta-se este relato de experiência, como professora e pesquisadora, a partir do curso de alfabetização em PLAc para mulheres refugiadas afegãs em São Paulo, com o objetivo de que possa ser replicado, com as devidas adaptações, em outras salas de aulas cujo contexto se assemelha. Para tanto, este trabalho parte dos estudos de ensino de PLAc, alinhados ao campo da linguística aplicada e da educação intercultural.
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Victor Barros
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