A migração de brasileiros para a Europa está em ascensão, abarcando também os afrodescendentes, que constituem 56% da população brasileira. Diante da escassez de estudos que abordam suas particularidades e da intrincada interação entre gênero, raça e dinâmica cultural no ambiente empreendedor das mulheres negras, o propósito deste artigo é investigar e compreender a narrativa de nove mulheres afroempreendedoras brasileiras que conduzem negócios na Alemanha, utilizando a teoria da incorporação mista para avaliar variáveis ambientais em níveis macro, meso e micro. A análise de conteúdo seguiu a metodologia Gioia para explorar o fenômeno do afroempreendedorismo, revelando questões relativas a: i) legislação e normas locais; ii) identificação de oportunidades; iii) ambiente de negócios e fornecedores; iv) aspectos intrínsecos ao empreendedor e suas características. Evidencia-se no nível macro, barreiras institucionais, refletindo ameaças de fiscalização e denúncias que são apresentadas como maior dificuldade de abrir um negócio na Alemanha do que no Brasil, entretanto, há uma percepção de oportunidades no país devido às políticas públicas de incentivo para formação e à criação de negócios e da abertura do povo alemão diante da cultura brasileira. No nível meso observa-se o empreendedorismo vinculado aos negócios étnicos voltados à comunidade brasileira, sendo que gradativamente se expandem para o público alemão. Exemplos de negócios incluem tratamento de cabelos, culinária (feijoada), dança brasileira etc. Os negócios começam de modo informal, sendo que, apesar da resistência por parte dos brasileiros em empregarem outros brasileiros (para manterem autenticidade na entrega dos serviços), os alemães são os que se preocupam em gerar oportunidades para os brasileiros. No nível micro, a falta de proficiência no idioma e a dificuldade de validar seus diplomas, podem ser reconhecidas como barreiras enfrentadas pelas empreendedoras negras da Alemanha, impactando, inclusive na legalização dos negócios.
Comissão Organizadora
Victor Barros
Comissão Científica