O colonialismo produziu transformações em escala planetária, tanto ao nível estrutural quanto nas relações intersubjetivas. Seus impactos, duradouros em múltiplos âmbitos da vida social, instituem o que é conceituado por determinados teóricos como “colonialidade”. Por conseguinte, as migrações, enquanto “fato social total” como nos alertou Sayad, são parte e produto dessas mudanças. Atravessadas pelos impactos da colonialidade, as experiências de migrantes, oriundos do sul global e que se deslocam para o norte, são gestadas por aspectos nos quais raça, etnia, gênero, classe social e nacionalidade se interseccionam e condicionam suas vivências. Posto isso, este artigo se coloca frente ao objetivo de analisar a experiência migratória de brasileiras em Portugal, buscando compreender a construção das representações sobre essas mulheres, presentes no imaginário português e os estigmas que estas condicionam. No que tange à metodologia, destacam-se os materiais empíricos oriundos a partir de uma etnografia virtual (conduzida em dois grupos de imigrantes brasileiros em Portugal na rede social Facebook) e da condução de cinco entrevistas semi-estruturadas com brasileiras imigrantes em Portugal. Como resultado, o texto apresenta o esforço de analisar aspectos teóricos do fluxo – colonialidade e colonialidade de gênero, histórico, discursos e representações institucionais e a questão ideológica do luso-tropicalismo e da lusofonia - à luz dos conflitos observados na etnografia virtual e narrados pelas imigrantes brasileiras em Portugal. Este caminho permitiu que o luso-tropicalismo, como doutrina construída por Gilberto Freyre, e a lusofonia constituam os pilares que delineiam a re-produção de discursos essencialistas coloniais e patriarcais sobre a mulher brasileira, discursos estes que fundamentam um tipo ideal nesta construção simbólica, e que foi denominado como “mulher luso-tropical”.
Comissão Organizadora
Victor Barros
Comissão Científica