Não obstante a escola deva ter como múnus respeitar as peculiaridades linguístico-culturais dos sujeitos aprendizes, bem como sensibilizá-los para o incontornável fenômeno da diversidade cultural e da heterogeneidade linguística característicos dos fluxos migratórios do milênio da globalização (QUIJANO, 2002; SANTOS, 2005), figuram na mídia portuguesa, como nos periódicos Público e Diário de Notícias, relatos de discentes migrantes da CPLP sobre uma nociva intolerância no lócus educacional português acerca do uso das variedades não-europeias da língua portuguesa. Isso indica que tem-se tramado, em Portugal, um descompasso entre a preceituação teórica do comprometimento pedagógico a elementares princípios educacionais, como compreensão, respeito e sensibilização à multiplicidade linguístico-cultural dos países oficiais de língua portuguesa, e a sua factual consumação, entendendo-se o referido país como espaço de encontro entre falantes desta língua que é prototipicamente pluricêntrica e que possui mais de um marco normativo nacional (BATOREO & SILVA, 2012). Ademais, esse descompasso aparenta ser uma reminiscência dos vetustos grilhões coloniais que ainda operaram sobre a língua portuguesa, subalternizando as variedades nacionais típicas de suas ex-colônias, evidenciando a efervescência de um preconceito avesso àquilo que destoa da utópica eugenia da língua, portanto, afixando a práxis escolar no leito do racismo linguístico (NASCIMENTO, 2019). Para enfrentamento desse quadro, analisado a partir de depoimentos nos supracitados periódicos jornalísticos, trar-se-á à baila uma proposta didática de abordagem transdisciplinar, fomentadora de reflexões e pensamento crítico para docentes e discentes no trato da língua escolarizada (LUCIANO & SÁ, 2019), em que se congregam aspectos históricos, políticos, geográficos, linguísticos relacionados à migração e ao pluricentrismo da língua portuguesa (SEVERO, 2019). No concernente à metodologia, essa consiste em uma senda bibliográfica, recorrendo-se ao alinhavamento de conceitos e noções de diferentes ramos disciplinares para a construção de um arcabouço teórico-metodológico que ancore práticas docentes decoloniais de ensino de língua pluralista, variacionista, antirracista e globalista para o português em escolas lusas. Como resultado, notabiliza-se a fulcralidade de uma perspectiva transdisciplinar para que as escolas portuguesas se tornem um espaço ensaístico de democracia linguístico-cultural para portugueses e migrantes, no qual sejam abolidas vilipendiações às formas da língua para além de sua identidade eurocêntrica em todo Portugal.
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Victor Barros
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