Compreendemos a Atenção Básica como um nível de atenção estratégico para o cuidado em saúde mental, pautado nos princípios da Reforma Psiquiátrica, que traz contribuições decisivas na forma de conceber e perceber a família enquanto aliada e protagonista no cuidado reabilitador de seu familiar em sofrimento psíquico. A Estratégia Saúde da Família, a partir de seus princípios, diretrizes e tecnologias possíveis, favorece a orientação para este cuidado. A família como foco da atenção é um dos atributos da Atenção Primária em Saúde e sua inserção nas políticas públicas se consolida na Constituição Federal de 1988, que traz no artigo 226 a família como base da sociedade e com especial proteção do Estado.
A família é, ao mesmo tempo, objeto e sujeito do processo de cuidado e de promoção da saúde pelas equipes de Saúde da Família. Tais características tornam a família uma unidade de cuidados, devendo ser compreendida pelos profissionais de saúde em suas interrelações, ao mesmo tempo em que é uma unidade prestadora de cuidados, podendo tornar-se uma parceira importante dos serviços de saúde no cuidado de seus membros.
Contudo, a lógica curativo-individualista, verticalizada e fragmentada presente nas práticas de saúde apresenta-se como um desafio à atuação da psicologia nas equipes de Saúde da Família. Pensando na superação deste desafio, este trabalho visa a relatar a experiência de um conjunto de ações desenvolvidas na USF de um Distrito Sanitário de Salvador, Bahia, pela residente de psicologia do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família, da FESF-SUS e Fiocruz.
Realizou-se, assim, uma práxis centrada na família, comunidade e no território, pautada na Clínica Ampliada, utilizando-se de ferramentas de intervenção, como o genograma e ecomapa, com o objetivo de ampliar o olhar da clínica para o indivíduo em suas relações. Para tanto, foram utilizadas estratégias de apoio matricial com as equipes, como discussão de casos, atendimentos compartilhados, Projetos Terapêuticos Singulares, visitas domiciliares, atividades coletivas, Educação Permanente, além da articulação de redes.
Como repercussões dessa prática, possibilitou-se o extrapolamento do olhar centrado no indivíduo, a ampliação na compreensão do fazer da Psicologia para além do transtorno mental e dos atendimentos individualizados, bem como a produção de relações menos verticalizadas e mais democráticas. Foram encontrados desafios, como dificuldade na compreensão e concepção de saúde mental, pautada no modelo médico centrado, fragmentação dos saberes e cuidados, além da prática assistencial ter se dado de forma hegemônica sobre o indivíduo, e de modo incipiente sobre a família. Com isto, percebeu-se a premência de aprofundar discussões sobre o tema, para qualificar a atenção às famílias pela USF. Desenvolveu-se, assim, momentos de Educação Permanente, para trabalhar as lacunas de aprendizagem.
A perspectiva é que essa experiência, ancorada na abordagem familiar e comunitária, produza efeitos qualitativos na produção do cuidado em saúde mental no território, contribuindo para a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) e para a reorganização da Atenção Primária à Saúde, por meio da Estratégia Saúde da Família, bem como para a implementação e re-existência de políticas de saúde psicossociais e antimanicomiais.
Ao longo dos anos os campos de práticas em Psicologia vêm se ampliando e alcançando os mais variados âmbitos, principalmente se considerarmos os avanços das políticas sociais, bem como o atual quadro de retrocessos enfrentados na presente conjuntura de crise social e política que, por sua vez, influencia direta ou indiretamente nos espaços em que a psicologia ocupa.
Atualmente, as políticas públicas se configuram como o espaço de grande inserção desses profissionais, como discutido por Mandelbaum (2012) que vê o campo social como “território fértil”, um verdadeiro laboratório para a produção em Ciências Humanas, uma vez que cada vez mais o social e o psicológico são concebidos de modo indissociável.
Com o objetivo de visibilizar práticas ligadas à psicologia e políticas públicas, bem como de interiorizar e desse modo divulgar o que tem sido proposto e desenvolvido no estado baiano, o Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), órgão operacional do Conselho Regional de Psicologia 3ª região (CRP-03), tem procurado construir espaços coletivos de discussão, convocando a categoria e os estudantes de Psicologia a repensarem seus papéis nas políticas públicas e assim potencializar os espaços de atuação em todas as suas instâncias.
A Mostra de Práticas em Psicologia e Políticas Públicas concretiza esse papel. Desde sua primeira edição, em 2016, agrega trabalhos de todo o estado da Bahia, evidenciando a pluralidade do fazer psi nesse território.
Em sua terceira edição, a Mostra celebrou os 15 anos do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) na Bahia e pautou os seguintes eixos temáticos nos trabalhos submetidos e nos debates da programação em geral: a) PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A POPULAÇÃO LGBTQI+, SEXUALIDADES E QUESTÕES DE GÊNERO; b) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS; c) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO; d) PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE; e) PSICOLOGIA E SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL; f) PSICOLOGIA EM INTERFACE COM A JUSTIÇA; g) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS, MOBILIDADE HUMANA E TR NSITO; h) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS, TRABALHO E ORGANIZAÇÕES; i) PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS NO ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA DA COVID-19.
ORGANIZAÇÃO DOS ANAIS
Natani Evlin Lima Dias
Pablo Mateus dos Santos Jacinto
Gabriela Evangelista Pereira
COMISSÃO ORGANIZADORA
Conselho Regional de Psicologia da 3ª Região
Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP)
Gabriela Evangelista Pereira (CRP-03/6656)
Monaliza Cirino de Oliveira (CRP-03/9621)
Natani Evlin Lima Dias (CRP-03/16212)
Pablo Mateus dos Santos Jacinto (CRP-03/14425)
Renan Vieira de Santana Rocha (CRP-03/11280)
COMISSÃO CIENTÍFICA
Gabriela Evangelista Pereira (CRP-03/6656)
Monaliza Cirino de Oliveira (CRP-03/9621)
Natani Evlin Lima Dias (CRP-03/16212)
Pablo Mateus dos Santos Jacinto (CRP-03/14425)
Renan Vieira de Santana Rocha (CRP-03/11280)
AVALIADORAS/ES
Ailena Júlie Silva Conceição
Alana Oliveira Cintra Pedreira
Ana Caroline Moura Cabral
Candice Santana Souza de Oliveira
Carmem Virgínia Moraes da Silva
Cintia Palma Bahia
Claudson Cerqueira Santana
Denise Viana Silva
Gabriela Evangelista Pereira
Giuliano Almeida Gallindo
Glória Maria Machado Pimentel
Iara Maria Alves da Cruz Martins
Jaqueline de Lima Braz Santos
Lara Araújo Roseira Cannone
Lívia Guimarães Farias
Luana Souza Barros Palmeira
Mailson Santos Pereira
Monaliza Cirino de Oliveira
Natani Evlin Lima Dias
Pablo Mateus dos Santos Jacinto
Renan Vieira de Santana Rocha
Rodrigo Márcio Santana
Ruthe Castro de Aquino Pinheiro
Silier Andrade Cardoso Borges
Thais Santos Ouais
Thaís Teixeira Cardoso
Tiago Ferreira da Silva
Valdineia Aragao dos Santos
Vanina Miranda da Cruz
Washington Luan Gonçalves de Oliveira
Equipe CREPOP:
crepop03@crp03.org.br