O número de pessoas encarceradas e em situação de cumprimento de medidas cautelares cresce a cada dia, assim como o índice de violência urbana nos grandes centros, e a inacessibilidade a direitos. As pessoas mais afetadas por essas questões são os jovens negros, moradores de periferias e com baixa escolaridade, revelando o racismo como promotor do encarceramento em massa e de grande número dos processos criminais, cumpridos através das alternativas penais. Nesse sentido, torna-se importante compreender a complexidade de funcionamento identitário da pessoa que acessa o sistema prisional e da complexidade que envolve a prisão, para que sejam pensadas quais tipos de intervenções serão capazes de evidenciar, o racismo e a classe pertencente como categorias utilizadas para aproximar esses jovens da responsabilidade criminal.
Pretende-se com este trabalho, debater sobre a experiência da profissional de psicologia que atuou na Central Integrada de Alternativas Penais - CIAP¹, na cidade Salvador, no acompanhamento de pessoas em situação de cumprimento de medidas cautelares diversas da prisão. Serão destacadas as repercussões emocionais e sociais geradas na vida de cumpridores, a partir da aplicação da medida cautelar de comparecimento periódico em juízo. A pretensão em discutir o tema ocorre pela relevância em dar visibilidade a assuntos que fazem parte de uma frequente situação que ocorre na vida da população jovem, negra, periférica, masculina e de baixa escolaridade em todo o país.
A CIAP faz parte de um dispositivo da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária e Ressocialização do Governo da Bahia, denominado de CEAPA – Central de Apoio e Acompanhamento às Penas e Medidas Alternativas, que acompanha os cumpridores de penas restritivas de direitos, transação penal, suspensão condicional da pena e suspensão condicional do processo. Com a implantação da CIAP, passa a abarcar as medidas cautelares diversas da prisão a partir do termo de colaboração com uma Organização da Sociedade Civil, responsável pela execução do projeto. Esta apresentação se baseará na atuação da profissional de psicologia da CIAP, que desde sua implantação em 2018, presta serviço ao projeto, por meio de contratação pela organização executora.
Durante o período de funcionamento (2018-2021), percebe-se uma mudança na forma do cumprimento das medidas cautelares com a atuação da CIAP, na forma como esse projeto foi implantado em Salvador, tendo em vista a formação de uma equipe majoritariamente negra, para atuar com assistidos com a mesma característica, fato que gera uma aproximação e uma potente formação de vínculo e confiança. Para além de fazer cumprir o dever jurídico, este projeto oportuniza atendimento e acompanhamento social, viabilizando a inserção em cursos profissionalizantes, retorno aos estudos, organização de documentos civis, acesso a benefícios assistenciais e à rede de políticas públicas, além do suporte psicológico que motiva e orienta as pessoas que estão em cumprimento de processo criminal a lidarem com os sintomas como medos, ansiedades, sentimento de incapacidade com as injustiças cometidas pelo estado e sobre sua própria responsabilidade nessa situação. Destaca-se portanto a necessidade de incluir nesse rol a rede intersetorial como uma estratégia de viabilizar a garantia de direitos das pessoas assistidas e de suas famílias, entendendo que o meio onde o cumpridor se insere é onde o mesmo necessitará de acolhimento e segurança para lidar com as repercussões do processo.
Nota¹- Por questões administrativas e gerencias, a CIAP, teve seus serviços suspensos, em setembro de 2021.
Ao longo dos anos os campos de práticas em Psicologia vêm se ampliando e alcançando os mais variados âmbitos, principalmente se considerarmos os avanços das políticas sociais, bem como o atual quadro de retrocessos enfrentados na presente conjuntura de crise social e política que, por sua vez, influencia direta ou indiretamente nos espaços em que a psicologia ocupa.
Atualmente, as políticas públicas se configuram como o espaço de grande inserção desses profissionais, como discutido por Mandelbaum (2012) que vê o campo social como “território fértil”, um verdadeiro laboratório para a produção em Ciências Humanas, uma vez que cada vez mais o social e o psicológico são concebidos de modo indissociável.
Com o objetivo de visibilizar práticas ligadas à psicologia e políticas públicas, bem como de interiorizar e desse modo divulgar o que tem sido proposto e desenvolvido no estado baiano, o Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), órgão operacional do Conselho Regional de Psicologia 3ª região (CRP-03), tem procurado construir espaços coletivos de discussão, convocando a categoria e os estudantes de Psicologia a repensarem seus papéis nas políticas públicas e assim potencializar os espaços de atuação em todas as suas instâncias.
A Mostra de Práticas em Psicologia e Políticas Públicas concretiza esse papel. Desde sua primeira edição, em 2016, agrega trabalhos de todo o estado da Bahia, evidenciando a pluralidade do fazer psi nesse território.
Em sua terceira edição, a Mostra celebrou os 15 anos do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) na Bahia e pautou os seguintes eixos temáticos nos trabalhos submetidos e nos debates da programação em geral: a) PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A POPULAÇÃO LGBTQI+, SEXUALIDADES E QUESTÕES DE GÊNERO; b) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS; c) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO; d) PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE; e) PSICOLOGIA E SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL; f) PSICOLOGIA EM INTERFACE COM A JUSTIÇA; g) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS, MOBILIDADE HUMANA E TR NSITO; h) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS, TRABALHO E ORGANIZAÇÕES; i) PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS NO ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA DA COVID-19.
ORGANIZAÇÃO DOS ANAIS
Natani Evlin Lima Dias
Pablo Mateus dos Santos Jacinto
Gabriela Evangelista Pereira
COMISSÃO ORGANIZADORA
Conselho Regional de Psicologia da 3ª Região
Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP)
Gabriela Evangelista Pereira (CRP-03/6656)
Monaliza Cirino de Oliveira (CRP-03/9621)
Natani Evlin Lima Dias (CRP-03/16212)
Pablo Mateus dos Santos Jacinto (CRP-03/14425)
Renan Vieira de Santana Rocha (CRP-03/11280)
COMISSÃO CIENTÍFICA
Gabriela Evangelista Pereira (CRP-03/6656)
Monaliza Cirino de Oliveira (CRP-03/9621)
Natani Evlin Lima Dias (CRP-03/16212)
Pablo Mateus dos Santos Jacinto (CRP-03/14425)
Renan Vieira de Santana Rocha (CRP-03/11280)
AVALIADORAS/ES
Ailena Júlie Silva Conceição
Alana Oliveira Cintra Pedreira
Ana Caroline Moura Cabral
Candice Santana Souza de Oliveira
Carmem Virgínia Moraes da Silva
Cintia Palma Bahia
Claudson Cerqueira Santana
Denise Viana Silva
Gabriela Evangelista Pereira
Giuliano Almeida Gallindo
Glória Maria Machado Pimentel
Iara Maria Alves da Cruz Martins
Jaqueline de Lima Braz Santos
Lara Araújo Roseira Cannone
Lívia Guimarães Farias
Luana Souza Barros Palmeira
Mailson Santos Pereira
Monaliza Cirino de Oliveira
Natani Evlin Lima Dias
Pablo Mateus dos Santos Jacinto
Renan Vieira de Santana Rocha
Rodrigo Márcio Santana
Ruthe Castro de Aquino Pinheiro
Silier Andrade Cardoso Borges
Thais Santos Ouais
Thaís Teixeira Cardoso
Tiago Ferreira da Silva
Valdineia Aragao dos Santos
Vanina Miranda da Cruz
Washington Luan Gonçalves de Oliveira
Equipe CREPOP:
crepop03@crp03.org.br