É preciso dizer que é sobre raça? – Racializando o olhar pesquisador sobre práticas da Psicologia

É preciso dizer que é sobre raça? – Racializando o olhar pesquisador sobre práticas da Psicologia

• Autor
• Thayna Miranda da Silva
• Co-autores
• Lara Steigleder Wayne , Carla Mariela Carriconde Tomasi
• Resumo

• Este relato aborda a experiência do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (Crepop-07) de racialização de roteiro local de pesquisa, realizada pela Rede Crepop, sobre a atuação dos psicólogos em determinadas políticas públicas. Essa proposta, disparada por tensionamentos de uma estagiária negra pesquisadora na área de Psicologia Social e Relações Étnico-Raciais, compreende que o contexto do racismo denegado pelo mito da democracia racial no Brasil exige que as dinâmicas institucionais sejam transversalmente racializadas.

  Embora intelectuais negros venham buscando desmitificar a narrativa hegemônica da democracia racial, as instituições, organizadoras das estruturas e ideologias, seguem garantindo a possibilidade de atribuir vantagens e desvantagens a grupos racialmente distintos. Compreendendo que concepções e práticas cotidianas das organizações são personagens ativas na dinâmica das relações raciais e reconhecendo que os pactos narcísicos da branquitude permitem que o Brasil siga silenciando as desigualdades raciais, percebemos a urgência da apropriação dessa discussão nas ações do Crepop-07.

  A equipe do Crepop-07, formada por uma psicóloga Conselheira de referência, uma técnica Assessora de Políticas Públicas e duas estagiárias de Psicologia, acolheu a proposta de produzir um roteiro que potencializasse a racialização das pesquisas, compreendendo as relações raciais como estruturantes do processo, mesmo quando não são o objeto central do estudo. Fundamentando esse movimento estudando autores como Silvio Almeida, Cida Bento, Lélia Gonzalez, Jurema Werneck e Grada Kilomba, reformulamos o roteiro da pesquisa já em andamento, que, originalmente, apresentava duas questões que tangenciavam as relações raciais. Compreendendo o racismo como transversal às práticas, buscamos descobrir, ao longo de todos os eixos: se existem fichas com autodeclaração racial, de gênero e de sexualidade e se tais marcadores são levados em conta; como é descrito o perfil de usuário; se há percepção sobre razões comuns que levam ao sofrimento psíquico em determinadas populações; como manifestam-se racialidades em relatos descritivos de experiência.

  Resultados parciais indicam que, dificilmente, os profissionais abordam seus relatos a partir de um olhar racializado. Foi possível perceber dificuldades para nomear racialidades, seja pela associação de termos como “negro” a ofensas, seja pela não marcação de pessoas brancas, posicionadas como universais. Também recorrente nas entrevistas foi a relação entre sofrimento  psíquico e vulnerabilidades sociais associada à condição de classe, com negação da influência das desigualdades raciais. Além da ausência, em alguns serviços, de registros oficiais sobre raça, os profissionais não parecem encarar o racismo como estrutural, afirmando que questões raciais somente são consideradas quando declaradas explicitamente pelo usuário.

   

  A racialização da estrutura da pesquisa – pensando o racismo não como tema pontual no roteiro, mas como elemento transversal à integralidade das políticas públicas – permite perceber que a prática da Psicologia ainda mantém os pactos narcísicos da branquitude em funcionamento por meio da negação do racismo como problemática estrutural. Racializar integralmente os processos de pesquisa do Crepop inaugura outras possibilidades de visibilizar o cenário das práticas da Psicologia no cotidiano e potencializa a construção de referências técnicas clínico-politicamente implicadas no combate às desigualdades raciais.

• Palavras-chave
• Relações Étnico-raciais, Políticas Públicas, Racialização
• Modalidade
• Comunicação oral
• Área Temática
• Eixo B: PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS