Para a consolidação de um cuidado integral à saúde de crianças e adolescentes é preciso considerar que existem aspectos construídos socialmente, como o racismo e o sexismo, que são constitutivos dos processos de produção de subjetividade; e que os prejuízos provocados por essas estruturas sociais são potencializados na infância e juventude. As práticas em saúde precisam acolher os efeitos do racismo - assim como do sexismo - e entendê-lo como uma questão central para a luta antimanicomial.
Considerando esse contexto, este relato tem como objetivo compartilhar uma experiência de psicólogas ocorrida durante a Residência Multiprofissional em Saúde da Família (FESF-SUS), no campo da gestão em saúde, na Rede de Atenção Psicossocial do município de Dias d’Ávila-BA. A prática relatada é o processo de inserção das pautas de raça, gênero e sexualidade na construção da Linha de Cuidado em Saúde Mental Infanto-juvenil do município. A Linha de Cuidado estava no seu processo inicial e já era possível perceber a demanda por qualificar a práxis da equipe num sentido antirracista e antissexista. Por esse motivo, consideramos oportuno realizar uma ação de Educação Permanente em Saúde (EPS) intitulada “Interseccionalidade em Saúde Mental Infantojuvenil”.
A EPS foi conduzida através da Metodologia da Roda, proposta por Campos (2003), e teve como público alvo a equipe do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), responsável por iniciar essa construção junto à gestão. Inicialmente foi feito um levantamento de conhecimentos prévios; quando foi possível perceber que os profissionais, em sua maioria, não possuíam um conhecimento estruturado sobre o tema, ou ainda, aqueles que o tinham de forma mais contundente, não demonstraram articulação com a prática. Com essas informações, as discussões seguiram com a apresentação dialogada dos marcos teóricos e legais e conceitos que embasam um cuidado integral comprometido com a diversidade.
Além disso, foi discutida a prerrogativa de que não é possível desenvolver um cuidado em saúde mental sem que as questões de raça, gênero e sexualidade sejam basilares, não se trata de uma escolha, mas de uma postura ético-política. Para consolidar as discussões foram realizadas propostas de estratégias de cuidado, como por exemplo, a criação de um grupo com os usuários e familiares para abordar essas questões. Ao final, a equipe sugeriu que esse tema fosse abordado transversalmente durante as próximas etapas da construção da Linha de Cuidado (tanto nas reuniões de equipe, quanto no diálogo com outros atores e dispositivos da rede) e que fosse utilizado para guiar a redação do referido documento.
Por entendermos que práticas racistas e sexistas ainda são comuns na assistência em saúde, e que essas são construções sociais, acreditamos na necessidade aquilombar os serviços de saúde, como proposto por David (2018), tendo a EPS como uma das ferramentas possíveis. Acreditamos que o Estado é responsável por garantir políticas públicas que barrem os efeitos das mais diversas violências às quais estão expostas as crianças e os adolescentes brasileiros, principalmente os meninos e meninas pretas, para que possamos realizar uma prática efetivamente emancipatória.
Ao longo dos anos os campos de práticas em Psicologia vêm se ampliando e alcançando os mais variados âmbitos, principalmente se considerarmos os avanços das políticas sociais, bem como o atual quadro de retrocessos enfrentados na presente conjuntura de crise social e política que, por sua vez, influencia direta ou indiretamente nos espaços em que a psicologia ocupa.
Atualmente, as políticas públicas se configuram como o espaço de grande inserção desses profissionais, como discutido por Mandelbaum (2012) que vê o campo social como “território fértil”, um verdadeiro laboratório para a produção em Ciências Humanas, uma vez que cada vez mais o social e o psicológico são concebidos de modo indissociável.
Com o objetivo de visibilizar práticas ligadas à psicologia e políticas públicas, bem como de interiorizar e desse modo divulgar o que tem sido proposto e desenvolvido no estado baiano, o Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), órgão operacional do Conselho Regional de Psicologia 3ª região (CRP-03), tem procurado construir espaços coletivos de discussão, convocando a categoria e os estudantes de Psicologia a repensarem seus papéis nas políticas públicas e assim potencializar os espaços de atuação em todas as suas instâncias.
A Mostra de Práticas em Psicologia e Políticas Públicas concretiza esse papel. Desde sua primeira edição, em 2016, agrega trabalhos de todo o estado da Bahia, evidenciando a pluralidade do fazer psi nesse território.
Em sua terceira edição, a Mostra celebrou os 15 anos do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) na Bahia e pautou os seguintes eixos temáticos nos trabalhos submetidos e nos debates da programação em geral: a) PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A POPULAÇÃO LGBTQI+, SEXUALIDADES E QUESTÕES DE GÊNERO; b) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS; c) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO; d) PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE; e) PSICOLOGIA E SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL; f) PSICOLOGIA EM INTERFACE COM A JUSTIÇA; g) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS, MOBILIDADE HUMANA E TR NSITO; h) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS, TRABALHO E ORGANIZAÇÕES; i) PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS NO ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA DA COVID-19.
ORGANIZAÇÃO DOS ANAIS
Natani Evlin Lima Dias
Pablo Mateus dos Santos Jacinto
Gabriela Evangelista Pereira
COMISSÃO ORGANIZADORA
Conselho Regional de Psicologia da 3ª Região
Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP)
Gabriela Evangelista Pereira (CRP-03/6656)
Monaliza Cirino de Oliveira (CRP-03/9621)
Natani Evlin Lima Dias (CRP-03/16212)
Pablo Mateus dos Santos Jacinto (CRP-03/14425)
Renan Vieira de Santana Rocha (CRP-03/11280)
COMISSÃO CIENTÍFICA
Gabriela Evangelista Pereira (CRP-03/6656)
Monaliza Cirino de Oliveira (CRP-03/9621)
Natani Evlin Lima Dias (CRP-03/16212)
Pablo Mateus dos Santos Jacinto (CRP-03/14425)
Renan Vieira de Santana Rocha (CRP-03/11280)
AVALIADORAS/ES
Ailena Júlie Silva Conceição
Alana Oliveira Cintra Pedreira
Ana Caroline Moura Cabral
Candice Santana Souza de Oliveira
Carmem Virgínia Moraes da Silva
Cintia Palma Bahia
Claudson Cerqueira Santana
Denise Viana Silva
Gabriela Evangelista Pereira
Giuliano Almeida Gallindo
Glória Maria Machado Pimentel
Iara Maria Alves da Cruz Martins
Jaqueline de Lima Braz Santos
Lara Araújo Roseira Cannone
Lívia Guimarães Farias
Luana Souza Barros Palmeira
Mailson Santos Pereira
Monaliza Cirino de Oliveira
Natani Evlin Lima Dias
Pablo Mateus dos Santos Jacinto
Renan Vieira de Santana Rocha
Rodrigo Márcio Santana
Ruthe Castro de Aquino Pinheiro
Silier Andrade Cardoso Borges
Thais Santos Ouais
Thaís Teixeira Cardoso
Tiago Ferreira da Silva
Valdineia Aragao dos Santos
Vanina Miranda da Cruz
Washington Luan Gonçalves de Oliveira
Equipe CREPOP:
crepop03@crp03.org.br