Com o movimento da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial, a família passa a ser considerada um dos atores essenciais para a produção de cuidados, buscando-se observar e compreender como a dinâmica familiar tem impacto nos processos de saúde-doença dos sujeitos. Quando pensamos nessa produção relacionada ao público infantojuvenil, torna-se ainda mais necessário essa atenção às repercussões da organização familiar nas vidas de adolescentes acompanhadas pelo serviço de Saúde Mental. Nesse sentido, este trabalho trata de um relato de experiência sobre o atendimento de usuárias por psicólogas residentes em um Centro de Atenção Psicossocial à Infância e Adolescência, na cidade de Salvador/Bahia, no período de março a julho de 2021, visando discutir a prática das psicólogas no suporte às famílias no campo da saúde mental e as implicações para o cuidado além dos muros institucionais. Para tanto, serão apresentados casos de duas adolescentes em que a dinâmica familiar aparece como central para a produção do cuidado. Em um dos casos, além do acompanhamento da adolescente, ofertamos periodicamente escutas individuais para os pais separadamente e em casal, constituindo-se um espaço importante para abordar questões como parentalidade, maternagem e interferência dos conflitos conjugais no cuidado com a adolescente. Assim, foi possível estimular a comunicação entre os membros da família, atuando especialmente na mediação de conflitos, trabalhar o investimento da família no cuidado à usuária, que, por vezes, passava pelo estigma do transtorno mental, e repactuar os papéis de cada membro da família, com objetivo de compartilhar responsabilidades e propiciar uma convivência mais saudável entre eles. No outro caso, não foi possível a continuidade da articulação com a família, sendo este um analisador importante da implicação da família no processo de cuidado da adolescente e do próprio grupo familiar. No breve contato com essa família, foi realizado o acolhimento de um dos familiares e foram fornecidas orientações para o cuidado. A partir desse acolhimento, surgiram questões importantes sobre a compreensão da família quanto a situação da usuária, a influência desse adoecimento no sistema familiar e as expectativas quanto ao tratamento. Diante dos exemplos acima, o dever ético dos profissionais que acompanham essas famílias, e que foi a nossa aposta enquanto acompanhamos esses casos, é compreender que não se trata de uma culpabilização ou adequação dos usuários e suas famílias a um determinado modelo de relação, mas que existe uma totalidade na dinâmica familiar que influencia no modo de ser e agir de cada um de seus membros, sendo que a promoção de mudanças em um dos membros promove mudanças também nos demais. Nesse sentido, nosso papel enquanto psicólogas no acompanhamento dos casos é o de potencializar a família como unidade de referência; reconhecer os diversos arranjos familiares e acompanhar as mudanças na dinâmica desse grupo; valorizar as particularidades de cada grupo familiar; fortalecer esses vínculos e articular as famílias em seu contexto comunitário. Assim, entedemos que a Psicologia no campo das políticas públicas deve ser resistência à despolitização de práticas clínicas e aos modos de saber-fazer que tentam interditar as configurações plurais de existência, para então repensar e requalificar nossos saberes e práticas a partir de contextos concretos dos serviços públicos de saúde.
Ao longo dos anos os campos de práticas em Psicologia vêm se ampliando e alcançando os mais variados âmbitos, principalmente se considerarmos os avanços das políticas sociais, bem como o atual quadro de retrocessos enfrentados na presente conjuntura de crise social e política que, por sua vez, influencia direta ou indiretamente nos espaços em que a psicologia ocupa.
Atualmente, as políticas públicas se configuram como o espaço de grande inserção desses profissionais, como discutido por Mandelbaum (2012) que vê o campo social como “território fértil”, um verdadeiro laboratório para a produção em Ciências Humanas, uma vez que cada vez mais o social e o psicológico são concebidos de modo indissociável.
Com o objetivo de visibilizar práticas ligadas à psicologia e políticas públicas, bem como de interiorizar e desse modo divulgar o que tem sido proposto e desenvolvido no estado baiano, o Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), órgão operacional do Conselho Regional de Psicologia 3ª região (CRP-03), tem procurado construir espaços coletivos de discussão, convocando a categoria e os estudantes de Psicologia a repensarem seus papéis nas políticas públicas e assim potencializar os espaços de atuação em todas as suas instâncias.
A Mostra de Práticas em Psicologia e Políticas Públicas concretiza esse papel. Desde sua primeira edição, em 2016, agrega trabalhos de todo o estado da Bahia, evidenciando a pluralidade do fazer psi nesse território.
Em sua terceira edição, a Mostra celebrou os 15 anos do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) na Bahia e pautou os seguintes eixos temáticos nos trabalhos submetidos e nos debates da programação em geral: a) PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A POPULAÇÃO LGBTQI+, SEXUALIDADES E QUESTÕES DE GÊNERO; b) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS; c) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO; d) PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE; e) PSICOLOGIA E SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL; f) PSICOLOGIA EM INTERFACE COM A JUSTIÇA; g) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS, MOBILIDADE HUMANA E TR NSITO; h) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS, TRABALHO E ORGANIZAÇÕES; i) PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS NO ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA DA COVID-19.
ORGANIZAÇÃO DOS ANAIS
Natani Evlin Lima Dias
Pablo Mateus dos Santos Jacinto
Gabriela Evangelista Pereira
COMISSÃO ORGANIZADORA
Conselho Regional de Psicologia da 3ª Região
Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP)
Gabriela Evangelista Pereira (CRP-03/6656)
Monaliza Cirino de Oliveira (CRP-03/9621)
Natani Evlin Lima Dias (CRP-03/16212)
Pablo Mateus dos Santos Jacinto (CRP-03/14425)
Renan Vieira de Santana Rocha (CRP-03/11280)
COMISSÃO CIENTÍFICA
Gabriela Evangelista Pereira (CRP-03/6656)
Monaliza Cirino de Oliveira (CRP-03/9621)
Natani Evlin Lima Dias (CRP-03/16212)
Pablo Mateus dos Santos Jacinto (CRP-03/14425)
Renan Vieira de Santana Rocha (CRP-03/11280)
AVALIADORAS/ES
Ailena Júlie Silva Conceição
Alana Oliveira Cintra Pedreira
Ana Caroline Moura Cabral
Candice Santana Souza de Oliveira
Carmem Virgínia Moraes da Silva
Cintia Palma Bahia
Claudson Cerqueira Santana
Denise Viana Silva
Gabriela Evangelista Pereira
Giuliano Almeida Gallindo
Glória Maria Machado Pimentel
Iara Maria Alves da Cruz Martins
Jaqueline de Lima Braz Santos
Lara Araújo Roseira Cannone
Lívia Guimarães Farias
Luana Souza Barros Palmeira
Mailson Santos Pereira
Monaliza Cirino de Oliveira
Natani Evlin Lima Dias
Pablo Mateus dos Santos Jacinto
Renan Vieira de Santana Rocha
Rodrigo Márcio Santana
Ruthe Castro de Aquino Pinheiro
Silier Andrade Cardoso Borges
Thais Santos Ouais
Thaís Teixeira Cardoso
Tiago Ferreira da Silva
Valdineia Aragao dos Santos
Vanina Miranda da Cruz
Washington Luan Gonçalves de Oliveira
Equipe CREPOP:
crepop03@crp03.org.br