REPENSANDO O PROCESSO DE VIOLÊNCIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UM ESTÁGIO.

  • Autor
  • Emanuelli Zequinelli Rosa dos Santos
  • Resumo
  •  

     Esse relato de experiência descreve a prática em Estágio Supervisionado I do curso de Psicologia da UESB em parceria com o Núcleo de Práticas Psicológicas da UESB (NUPPSI), que foi pensada a partir da necessidade encontrada de trabalhar a violência de gênero, sobretudo no contexto doméstico. A atividade realizada consistia em oferecer um espaço de escuta e acolhimento para homens que foram autuados pela Lei Maria da Penha, nº 11.340/2006, e receberam a medida restritiva de urgência, obrigando o afastamento do lar e a não aproximação do acusado da vítima e familiares desta. Durante o período de agosto a novembro de 2019 foram realizados atendimentos individuais na e encontros grupais com os homens acusados. O objetivo principal do projeto foi promover espaços de escuta e de reflexão que possibilitassem o rompimento do ciclo de violência, sobretudo da violência doméstica e àquela cometida contra mulheres. Objetivou-se também contribuir, a partir de uma atuação específica, com as mudanças na abordagem da justiça nesta complexa problemática, tornando-a menos punitivista e policialesca, de modo a inserir na condução dos processos a interpretação psicológica da situação vivida pelos acusados. Para isto, pretendeu-se alcançar mudanças significativas na introjeção da cultura masculina, pelos acusados, e promover reflexões acerca dos papeis de gênero e sobre o uso da violência.  Além disso, garantiu-se o direito ao acesso universal da população ao serviço psicológico, como defendido pelo Código de Ética Profissional do Psicólogo. Foram delineadas estratégias que se caracterizaram em realizar de forma individual, atividade psicoterápica de caráter terapêutico, baseada teórica e metodologicamente pela concepção de uma psicoterapia breve de caráter psicanalítico. Concomitantemente a esta atividade, realizou-se O Grupo de Escuta Especializado, seguindo o modelo de grupo operativo proposto por utilizando como fundamento Bleger (1998) e a técnica de grupos-operativos de Pichon-Rivière (2005). Os encontros semanais totalizaram 12 encontros, nos quais as reflexões eram promovidas a partir de temas como masculinidade, papéis de gênero, relacionamentos amorosos, formas de diálogo, Lei Maria da Penha e orientações sobre a Medida Protetiva. Ao todo, os atendimentos individuais resultaram em 15 pessoas acolhidas. A partir da prática realizada pôde-se perceber a necessidade de um espaço de escuta e acolhimento, grupal ou individual, em contextos institucionais de resolução de conflitos com a lei. Na situação em questão, onde os conflitos se davam em torno da violência doméstica, e principalmente contra mulheres, foram perceptíveis os efeitos positivos alcançados com a escuta dos sujeitos acusados.  A prática reforçou a importância dos instrumentos extrajudiciais na resolução de conflitos, mais precisamente, as audiências de conciliação e mediação como forma de diminuir os impactos sociais, emocionais, financeiros que o processo judicial pode ter não só na vida do acusado como na vida dos envolvidos. A inserção da Psicologia, nesses contextos, tem muito a contribuir ao possibilitar acesso a saberes a uma população econômica e socialmente vulnerável que na maioria das vezes é excluída do acesso a condições de vida promotoras de saúde, o que inclui o desenvolvimento de habilidades emocionais e pessoais.  Assim, essa prática além de possibilitar uma visão holística dos sujeitos envolvidos e da dinâmica relacional destes, assegurou a importância de uma escuta eficaz sem julgamentos morais ou reforço da acusação, a partir da defesa dos seus direitos, ou simplesmente do direito de terem igualmente acesso aos serviços psicológicos.

     

  • Palavras-chave
  • Violência de Gênero, Acolhimento, Grupos de Encontro.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • Eixo A: PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A POPULAÇÃO LGBTQIA+, SEXUALIDADES E QUESTÕES DE GÊNERO
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Ao longo dos anos os campos de práticas em Psicologia vêm se ampliando e alcançando os mais variados âmbitos, principalmente se considerarmos os avanços das políticas sociais, bem como o atual quadro de retrocessos enfrentados na presente conjuntura de crise social e política que, por sua vez, influencia direta ou indiretamente nos espaços em que a psicologia ocupa.

Atualmente, as políticas públicas se configuram como o espaço de grande inserção desses profissionais, como discutido por Mandelbaum (2012) que vê o campo social como “território fértil”, um verdadeiro laboratório para a produção em Ciências Humanas, uma vez que cada vez mais o social e o psicológico são concebidos de modo indissociável.

Com o objetivo de visibilizar práticas ligadas à psicologia e políticas públicas, bem como de interiorizar e desse modo divulgar o que tem sido proposto e desenvolvido no estado baiano, o Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), órgão operacional do Conselho Regional de Psicologia 3ª região (CRP-03), tem procurado construir espaços coletivos de discussão, convocando a categoria e os estudantes de Psicologia a repensarem seus papéis nas políticas públicas e assim potencializar os espaços de atuação em todas as suas instâncias.

A Mostra de Práticas em Psicologia e Políticas Públicas concretiza esse papel. Desde sua primeira edição, em 2016, agrega trabalhos de todo o estado da Bahia, evidenciando a pluralidade do fazer psi nesse território.

Em sua terceira edição, a Mostra celebrou os 15 anos do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) na Bahia e pautou os seguintes eixos temáticos nos trabalhos submetidos e nos debates da programação em geral: a) PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A POPULAÇÃO LGBTQI+, SEXUALIDADES E QUESTÕES DE GÊNERO; b) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS; c) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO; d) PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE; e) PSICOLOGIA E SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL; f) PSICOLOGIA EM INTERFACE COM A JUSTIÇA; g) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS, MOBILIDADE HUMANA E TR NSITO; h) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS, TRABALHO E ORGANIZAÇÕES; i) PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS NO ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA DA COVID-19.

  • Eixo A: PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A POPULAÇÃO LGBTQIA+, SEXUALIDADES E QUESTÕES DE GÊNERO
  • Eixo B: PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
  • Eixo C: PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO
  • Eixo D: PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
  • Eixo E: PSICOLOGIA E SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
  • Eixo F: PSICOLOGIA EM INTERFACE COM A JUSTIÇA
  • Eixo G: PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS, MOBILIDADE HUMANA E TRÂNSITO
  • Eixo H: PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS, TRABALHO E ORGANIZAÇÕES
  • Eixo I: PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS NO ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA DA COVID-19

ORGANIZAÇÃO DOS ANAIS 
Natani Evlin Lima Dias 
Pablo Mateus dos Santos Jacinto 
Gabriela Evangelista Pereira

COMISSÃO ORGANIZADORA

Conselho Regional de Psicologia da 3ª Região
Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP)

Gabriela Evangelista Pereira (CRP-03/6656)
Monaliza Cirino de Oliveira (CRP-03/9621)
Natani Evlin Lima Dias (CRP-03/16212)
Pablo Mateus dos Santos Jacinto (CRP-03/14425)
Renan Vieira de Santana Rocha (CRP-03/11280)

COMISSÃO CIENTÍFICA

Gabriela Evangelista Pereira (CRP-03/6656)
Monaliza Cirino de Oliveira (CRP-03/9621)
Natani Evlin Lima Dias (CRP-03/16212)
Pablo Mateus dos Santos Jacinto (CRP-03/14425)
Renan Vieira de Santana Rocha (CRP-03/11280)

 

AVALIADORAS/ES

Ailena Júlie Silva Conceição
Alana Oliveira Cintra Pedreira
Ana Caroline Moura Cabral
Candice Santana Souza de Oliveira
Carmem Virgínia Moraes da Silva
Cintia Palma Bahia
Claudson Cerqueira Santana
Denise Viana Silva
Gabriela Evangelista Pereira
Giuliano Almeida Gallindo
Glória Maria Machado Pimentel
Iara Maria Alves da Cruz Martins
Jaqueline de Lima Braz Santos
Lara Araújo Roseira Cannone
Lívia Guimarães Farias
Luana Souza Barros Palmeira
Mailson Santos Pereira
Monaliza Cirino de Oliveira
Natani Evlin Lima Dias
Pablo Mateus dos Santos Jacinto
Renan Vieira de Santana Rocha
Rodrigo Márcio Santana
Ruthe Castro de Aquino Pinheiro
Silier Andrade Cardoso Borges
Thais Santos Ouais
Thaís Teixeira Cardoso
Tiago Ferreira da Silva
Valdineia Aragao dos Santos
Vanina Miranda da Cruz
Washington Luan Gonçalves de Oliveira

 

Equipe CREPOP:

crepop03@crp03.org.br