Este escrito arrisca apresentar alguns “retalhos” da experiência que tivemos no Projeto em Intensificação de Cuidados na Atenção Primária à Saúde Marcus Vinicius e Antonio Lancetti (ProIC-APS), vinculado à Universidade Federal do Sul da Bahia, onde estudamos Psicologia. Considerando que a escrita não dá conta de resumir a experiência, apresentamos algumas linhas, agulhas, tecidos, retalhos, cortes e possíveis costuras. Contamos com a parceria da coordenadora da Unidade de Saúde da Família de um bairro periférico no Extremo Sul da Bahia. Atendemos em dupla o caso da costureira A. que entre lutos, costuras e linhas, falou de suas “atribulações”, esquecimentos, camisas sem pregar botões e sobre seus conflitos de querer experimentar o que nomeou de liberdade e ter que lidar com a pandemia, família, lutos e sua religião. Silêncios: aqueles momentos que não soubemos lidar no início se fizeram presentes, ocupando parte de um tempo que se encerra aos 50 minutos. Supervisões e outras linhas para costurar os retalhos: algumas provocações e reflexões sobre a importância do silêncio e respeito ao tempo de elaboração da questão que surge. O silêncio agora incomoda menos: foi necessário escutar docentes e discentes que discutem os casos como uma equipe. Provocações: momentos para refletir sobre como somos afetadas por aquilo que aparece como linhas que tracejam os tecidos de A. Imprevistos: tivemos que aprender a lidar com os mais variados. Foi necessário entender que, no momento pandêmico que estamos, algumas dificuldades eram inevitáveis: ficamos congelados, conexões instáveis cortando os fluxos dos retalhos que nos eram apresentados: uma trajetória biográfica marcada por décadas de perdas e lutos não elaborados: o pai, a mãe, o marido, o irmão, demarcando um sofrimento que aparece na queixa como exterioridade, na procura por médicos que possa nomear clinicamente os esquecimentos daquilo que A. procura, sem sucesso, não lembrar. Luto, religião, cuidado e silenciamentos: foram necessárias provocações para pensar em como meus retalhos estavam sendo colocados; notamos que algumas associações apareceram, a experiência de cuidado e a doação de A. com sua família lembrou minha mãe. Mas minha mãe não costura; A. ocupou outro lugar na minha escuta, pois houve abertura à experiência de A. pela sensibilidade ético-política-estética que orientou a escuta clínica, fortalecida no espaço de reflexividade da supervisão. Escuta qualificada: aprendizados com a equipe do projeto para escutar A. sem fazermos a costura que é dela e sem deixar que nossos retalhos encham seu ateliê. É importante costurar com outras linhas o tecido que essa experiência tem confeccionado. A. em conflito, costura, se movimenta e enfrenta o luto que revive nos meses de outubro, novembro e dezembro. E o que quer uma bixa no ProIC-APS? Eu, bixa estudante, me angustio, reflito, aprendo a escutar a experiência e confecciono tecidos com agulhas compartilhadas com A., inventando linhas cartográficas de cuidado em saúde mental.
Ao longo dos anos os campos de práticas em Psicologia vêm se ampliando e alcançando os mais variados âmbitos, principalmente se considerarmos os avanços das políticas sociais, bem como o atual quadro de retrocessos enfrentados na presente conjuntura de crise social e política que, por sua vez, influencia direta ou indiretamente nos espaços em que a psicologia ocupa.
Atualmente, as políticas públicas se configuram como o espaço de grande inserção desses profissionais, como discutido por Mandelbaum (2012) que vê o campo social como “território fértil”, um verdadeiro laboratório para a produção em Ciências Humanas, uma vez que cada vez mais o social e o psicológico são concebidos de modo indissociável.
Com o objetivo de visibilizar práticas ligadas à psicologia e políticas públicas, bem como de interiorizar e desse modo divulgar o que tem sido proposto e desenvolvido no estado baiano, o Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), órgão operacional do Conselho Regional de Psicologia 3ª região (CRP-03), tem procurado construir espaços coletivos de discussão, convocando a categoria e os estudantes de Psicologia a repensarem seus papéis nas políticas públicas e assim potencializar os espaços de atuação em todas as suas instâncias.
A Mostra de Práticas em Psicologia e Políticas Públicas concretiza esse papel. Desde sua primeira edição, em 2016, agrega trabalhos de todo o estado da Bahia, evidenciando a pluralidade do fazer psi nesse território.
Em sua terceira edição, a Mostra celebrou os 15 anos do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) na Bahia e pautou os seguintes eixos temáticos nos trabalhos submetidos e nos debates da programação em geral: a) PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A POPULAÇÃO LGBTQI+, SEXUALIDADES E QUESTÕES DE GÊNERO; b) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS; c) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO; d) PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE; e) PSICOLOGIA E SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL; f) PSICOLOGIA EM INTERFACE COM A JUSTIÇA; g) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS, MOBILIDADE HUMANA E TR NSITO; h) PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS, TRABALHO E ORGANIZAÇÕES; i) PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS NO ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA DA COVID-19.
ORGANIZAÇÃO DOS ANAIS
Natani Evlin Lima Dias
Pablo Mateus dos Santos Jacinto
Gabriela Evangelista Pereira
COMISSÃO ORGANIZADORA
Conselho Regional de Psicologia da 3ª Região
Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP)
Gabriela Evangelista Pereira (CRP-03/6656)
Monaliza Cirino de Oliveira (CRP-03/9621)
Natani Evlin Lima Dias (CRP-03/16212)
Pablo Mateus dos Santos Jacinto (CRP-03/14425)
Renan Vieira de Santana Rocha (CRP-03/11280)
COMISSÃO CIENTÍFICA
Gabriela Evangelista Pereira (CRP-03/6656)
Monaliza Cirino de Oliveira (CRP-03/9621)
Natani Evlin Lima Dias (CRP-03/16212)
Pablo Mateus dos Santos Jacinto (CRP-03/14425)
Renan Vieira de Santana Rocha (CRP-03/11280)
AVALIADORAS/ES
Ailena Júlie Silva Conceição
Alana Oliveira Cintra Pedreira
Ana Caroline Moura Cabral
Candice Santana Souza de Oliveira
Carmem Virgínia Moraes da Silva
Cintia Palma Bahia
Claudson Cerqueira Santana
Denise Viana Silva
Gabriela Evangelista Pereira
Giuliano Almeida Gallindo
Glória Maria Machado Pimentel
Iara Maria Alves da Cruz Martins
Jaqueline de Lima Braz Santos
Lara Araújo Roseira Cannone
Lívia Guimarães Farias
Luana Souza Barros Palmeira
Mailson Santos Pereira
Monaliza Cirino de Oliveira
Natani Evlin Lima Dias
Pablo Mateus dos Santos Jacinto
Renan Vieira de Santana Rocha
Rodrigo Márcio Santana
Ruthe Castro de Aquino Pinheiro
Silier Andrade Cardoso Borges
Thais Santos Ouais
Thaís Teixeira Cardoso
Tiago Ferreira da Silva
Valdineia Aragao dos Santos
Vanina Miranda da Cruz
Washington Luan Gonçalves de Oliveira
Equipe CREPOP:
crepop03@crp03.org.br