A conversação está ligada à interação cotidiana das pessoas e os estudos que abarcam esse fenômeno linguístico estão pautados nas análises da língua em uso por seus interactantes. Neste sentido, considerar os fenômenos linguísticos que envolvem o ato conversacional, requer a compreensão de fatores inerentes a movimentos executados de forma intencional durante a interação de uma ou mais pessoas, elaboradas e executadas de forma simultânea. Assim como nas línguas orais, nas línguas de sinais a construção da conversação acontece por meio da interação entre seus pares, usuários desta língua, e está em constante desenvolvimento. Apesar de, ainda, percebermos um quadro tímido de representatividade em pesquisas relacionadas aos seus aspectos linguísticos, quando comparados aos estudos linguísticos das línguas orais. Quadros et. al (2018, p. 21) nos apontam que as pesquisas acerca das línguas de sinais têm se voltado para “investigações com base empírica no sentido de analisar aspectos que são comuns e diferentes das línguas de sinais e as línguas faladas. Nessa direção, as pesquisas identificaram os efeitos da modalidade nas formas linguísticas”. Tais afirmações tem apontado para iniciativas de análises e descrições destas línguas, o que indica um vasto campo na área das pesquisas linguísticas. O presente estudo possui o objetivo principal de analisar e evidenciar o uso de elementos linguísticos denominados Marcadores Discursivos, utilizados na interação conversacional entre surdos fluentes na Língua Brasileira de Sinais- Libras. Como objetivos específicos elencamos a difusão dos estudos linguísticos na Libras por meio da análise e descrição de línguas e descrever o processo de construção do texto em Libras em situação real de comunicação. Para isso, tivemos como aporte teórico estudos de autores do campo de pesquisa da Análise da Conversação como: Castilho (1989, 1994, 2000); Burgo e Araujo (2018); Marcuschi (1989, 2006); Risso (1995); Urbano (1997); Galembeck e Carvalho (1997), dentre outros. Buscamos, também, por pesquisadores do campo da linguística das línguas de sinais como: Quadros e Karnop (2004); Quadros (2017, 2018); Gesser (2009); Pereira (2009); Leite (2008, 2013), dentre outros que tem contribuído para a área de análise e descrição das línguas de sinais. O corpus desta pesquisa foi retirado de trechos de vídeos compostos pela interação em Libras de pessoas surdas, tais vídeos foram mapeados e coletados em um acervo do projeto Corpus de Libras, parte que compõe o Inventário Nacional de Libras, organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina em parceria com outras instituições e disponibilizado no site do projeto. Para a análise dos dados, utilizamos um software desenvolvido pelo Max Plank Institute, instrumento este que se encontra disponível de forma livre e recebe o nome de Sistema de Anotação Eudico Annotator-ELAN. Por meio deste sistema foi possível a transcrição dos vídeos de conversação de forma mais detalhada, pois alguns recursos contribuem para o processo de transcrição e tradução da língua de sinais. Como resultado e discussão deste estudo, obtivemos a identificação da utilização de Marcadores Discursivos durante trechos das conversas analisadas, o que nos permitiu evidenciar que, assim como nas línguas orais, estes elementos são típicos da organização da fala e podem ser acionados à medida que o sinalizante intencionalmente pretende marcar ou monitorar seu discurso. Localizamos, nos vídeos analisados, a incidência do uso de marcadores correspondentes a função ideacional (voltados para o texto) e de função interacional (voltados para o interlocutor). Percebemos que a Libras possui sua construção e elaboração da enunciação planejada de maneira análoga às línguas orais auditivas. Galembeck e Carvalho (1997) assinalam como algumas características básicas da língua falada, a ausência de uma etapa nítida de planejamento, a existência do espaço partilhado entre os interlocutores e o envolvimento dos interlocutores. Essas características, de igual forma, puderam ser evidenciadas na Libras e as análises nos permitiram apontar a legitimidade do uso destes elementos nas construções sentenciais das conversações, corroborando, assim, com a desconstrução de possíveis visões equivocadas quanto às línguas de sinais, visões essas alicerçadas em uma sociedade que, nem sempre, respeita e tampouco valoriza aquilo que é diferente do convencional. Concluímos que a divulgação dos resultados obtidos pode acrescentar na legitimação da língua de sinais por parte dos usuários da mesma e de toda sua comunidade, dando a visibilidade necessária a fim de que o respeito à diversidade linguística ocorra de maneira efetiva.
Comissão Organizadora
Dr. Humberto Meira de Araujo Neto (UFAL)
Dr. Jair Barbosa da Silva (UFAL)
Dr. Alexandre Melo de Souza (UFAL)
Dr. Nágib José Mendes dos Santos (UFAL)
Dr. Paulo Rogério Stella (UFAL)
Me. Thiago Bruno de Souza Santos (UFAL)
Comissão Científica
Dr. Alexandre Melo de Souza (UFAL)
Dr. Anderson Almeida da Silva (UFPE)
Dr. Bruno Gonçalves Carneiro (UFT)
Dra. Camila Tavares Leite (UFU)
Dr. Charley Pereira Soares (UFMG)
Dra. Dayane Celestino de Almeida (Unicamp)
Dr. Guilherme Lourenço de Souza (UFMG)
Dr. Humberto Meira de Araujo Neto (UFAL)
Dr. Jair Barbosa da Silva (UFAL)
Dra. Lígia dos Santos Ferreira (UFAL)
Dra. Lorena Araújo de Oliveira Borges (UFAL)
Dra. Miriam Royer (UFCA)
Dr. Nágib José Mendes dos Santos (UFAL)
Dr. Paulo Rogério Stella (UFAL)
Dra. Rita de Cássia Souto Maior Siqueira Lima (UFAL)
congressointernellis@gmail.com
Publicação dos anais do II Congresso Internacional de Estudos em Linguística de Línguas de Sinais | Internellis - celebrando os 10 anos do curso de Letras-Libras da UFAL.
ISBN: 978-65-01-25702-0