Local: Sala 1 (Bloco de Letras-Libras)
INTERPRETAÇÃO COMUNITÁRIA E INTERPRETAÇÃO FORENSE: (IM)POSSIBILIDADES LINGUÍSTICAS NO CONTEXTO JURÍDICO
LUCAS GONÇALVES DIAS, Igor Antônio Lourenço da Silva, Flávia Medeiros Álvaro-Machado
A interpretação comunitária e a interpretação forense em contexto jurídico em línguas de diferentes modalidades, português e Libras, tem sido objeto de interesse de muitos pesquisadores, no envolto dos Estudos Linguísticos e dos Estudos da Interpretação. Esta pesquisa de mestrado visa analisar as ocorrências lexemáticas do TILS quando realiza uma interpretação comunitária com desdobramentos no contexto forense, observando, assim, se há nessa interpretação a garantia legal do princípio da isonomia em relação às estratégias interpretativas utilizadas na garantia linguística do acusado/réu durante um processo jurídico. Tomam-se como base teórica Lakoff (1987), Pöchhacker (2006), Russel (2002), Santos (2013) e Machado (2012/2014/2017), dentre outros, que discutem o sentido semântico cognitivo das ocorrências lexemáticas. A problematização refere-se a discutir, a partir de um experimento voltado para a análise do processo cognitivo, a correlação entre escolhas linguísticas e cumprimento do dever legal na atuação dos TILS em contextos jurídicos. A construção do corpus envolve uma metodologia quali-quantitativa, seguida de procedimentos de uma situação controlada com uso de textos elaborados para um experimento a partir de uma súmula de processos jurídicos. As análises dos dados enfocam as ocorrências lexemáticas em Libras durante a interpretação simultânea do TILS e seu impacto no âmbito da garantia do princípio da isonomia. Os resultados esperados são os aspectos que envolvem a atividade cognitiva do TILS em situações de alta complexidade conceitual no que se refere à compreensão do "juridiquês” e às formalidades inerentes ao ambiente de audiências.
AÇÃO CONSTRUÍDA NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE ENUNCIADOS MATEMÁTICOS
ROBERTA ALENA DE ALCANTARA BRANDÃO, Jurema Lindote Botelho Peixoto
Na Educação Matemática para pessoas surdas, deve-se considerar a diferença linguística no processo de comunicação, a qual interfere diretamente nos métodos de ensino-aprendizagem e nos estilos possíveis de tradução e interpretação dos enunciados. Esta diferença, frequentemente, fica suscetível às escolhas e estratégias de que dispõe o tradutor intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras). A compreensão das situações-problema depende, entre outros fatores, da interpretação do texto na Língua Portuguesa (LP) ou, no caso de surdos sinalizantes que transitam entre duas línguas, de uma tradução congruente com o que o problema quer indagar. A presente pesquisa é um recorte de uma dissertação em andamento cujos objetivos são: (i) investigar o desenvolvimento de pessoas surdas na resolução de situações-problema do campo aditivo, mediados pela Libras, utilizando o recurso tradutório da Ação Construída (AC) como elemento extralinguístico; (ii) analisar a influência dos enunciados traduzidos em Libras, com base na AC, visando a resolução das situações aditivas e (iii) identificar os esquemas em Libras, mobilizados por surdos durante a resolução das situações. Como aporte teórico, utiliza-se a Teoria dos Campos Conceituais de Gérard Vergnaud (1990), considerando as contribuições de Magina et al. (2008) e Peixoto (2015). Em relação aos aspectos linguísticos da tradução interpretação em Libras, são considerados os estudos de Bernardino (2020), Gurunga, Lessa-de-Oliveira e Oliveira (2021). Os participantes da pesquisa são dois estudantes surdos, um dos anos finais do Ensino Fundamental e um do Ensino Médio, dois tradutores intérpretes de Libras e um consultor surdo licenciado e proficiente em Libras. A pesquisa é de abordagem qualitativa e, como técnicas de produção de dados, foram utilizadas entrevistas semiestruturadas, diário de bordo e filmagens, analisadas por meio da Análise Textual Discursiva (Moraes e Galiazzi, 2016). Os dados estão sendo produzidos em duas escolas na cidade de Canavieiras, localizada no litoral sul da Bahia O estudo está sendo realizado, segundo as etapas: (i) análise e definição dos enunciados das situações-problema; ii) entrevistas com os participantes; (iii) tradução das situações-problemas; iv) produção de vídeo-Libras dos enunciados; (iv) apresentação dos enunciados aos estudantes surdos em LP, seguido da tradução do tradutor intérprete da sala de aula e dois meses após em vídeo-Libras; vi) Análise micro genética associada à videografia das respostas dos estudantes (Meira, 1994). Considera-se como resultados parciais: a análise das entrevistas das tradutoras intérpretes de Libras que atuam diretamente nas escolas com estes participantes e a obtenção dos enunciados de três situações do campo aditivo nas categorias de comparação, composição e transformação traduzidos em vídeo-Libras na AC. A análise das respostas das tradutoras intérpretes de Libras revelou que ambas fizeram apenas cursos livres como forma de capacitação nos últimos dez anos, possivelmente devido à falta de acesso a espaços dedicados ao ensino e aprendizagem dos estudos de Tradução e Interpretação. Essa carência de espaços, aliada a poucas experiências em contextos diversos, ao uso limitado da língua em diferentes ambientes, à insuficiente formação dos tradutores que se desenvolvem em serviço e à pouca familiaridade com a Matemática, resulta em defasagens significativas na formação e traz implicações para a atuação como intérpretes educacionais. Destaca-se que a tradução interpretação dos enunciados, partiu do português escrito no gênero injuntivo (instrutivo argumentativo) para a modalidade gestual-visual na língua de sinais utilizando AC, essa transferência de modalidade possibilitou ampliar as informações contextuais de cada situação usando o gênero narrativo, dando vida aos personagens, suas ações e às relações matemáticas envolvidas. O evento descrito no enunciado matemático deixou de ser meramente instrucional e breve, como acontece em português, para se transformar em um evento mais extenso em Libras. Na LP, a situação-problema sempre aparece na modalidade escrita, estática, mas na Libras, o texto é visual, é corpo em movimento que produz significados e negociação de sentidos nos discursos. O diagrama de Vergnaud, uma representação gráfica das relações presentes no problema, não aparece de forma transparente no português na modalidade escrita, a menos que o professor queira usá-lo como recurso imagético para explicar a solução após a enunciação. Em síntese, a apresentação em vídeo-Libras, apontou que existe uma possibilidade de elaboração mais sistematizada para apresentação dos enunciados do campo aditivo às pessoas surdas.. Conclui-se que esse estudo possa contribuir com a produção de conhecimento científico na área de Educação Matemática para pessoas surdas, podendo apontar caminhos e estratégias para auxiliar os tradutores intérpretes de Libras em sala de aula. Dessa forma, as pessoas surdas terão a possibilidade de acessar o conhecimento matemático através de versões que compreendem as dimensões linguísticas e culturais das pessoas surdas, promovendo uma perspectiva equânime no processo de ensino-aprendizagem.
A FORMAÇÃO DE DISCURSOS ENVOLVENTES SOBRE A DISCIPLINA DE LIBRAS POR DISCENTES NA EDUCAÇÃO SUPERIOR
Denise Maria dos Santos Melo
Devido a crescente presença de estudantes surdos das escolas, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) tornou-se disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores (Brasil, 2002), visando atender às especificidades linguísticas, metodológicas e culturais dos sujeitos surdos nesse espaço escolar. Assim, como parte do recorte da pesquisa de Mestrando realizada em 2024, esse trabalho tem como objetivo geral apresentar os Discursos Envolventes (Souto Maior, 2009, 2013), sobre a disciplina de Libras produzidos por estudantes ouvintes do curso de licenciatura em Letras-Português da UFAL campus Arapiraca e como objetivo específico descrever como esses Discursos Envolventes podem influenciar sua formação e atuação em sala de aula com os alunos surdos. Propomos para isso um estudo de abordagem qualitativa (Flick, 2009; André, 2005; Lüdke; André, 2022), de cunho etnográfico (Paiva, 2019), cujos instrumentos de construção de dados para essa etapa foram seleção e cotejo da produção de textos escritos no início e no final do semestre de 2023.2. Este trabalho insere-se no campo de estudos da Linguística Aplicada Indisciplinar (Moita Lopes, 2006), da LA Implicada (Souto Maior, 2022) e da análise discursiva bakhtiniana. Especificamente sobre a Libras e o ensino da Libras, centramo-nos nas reflexões de alguns autores como Pires (2018), Pires e Santos (2020), Quadros (2004, 2015, 2019, 2022) e Gesser (2006, 2009, 2008, 2019). Concluímos que esses Discursos Envolventes geram a formação de um loop discursivo, mas existe a possibilidade da quebrar desses loops, por meio de uma proposta curricular que parta dos problemas que vivenciamos nos territórios, na própria história do ensino de Libras, uma carga horária que considerasse a transdisciplinaridade dessa disciplina e por parte do professor de Libras, diante do cenário atual de marginalização e descriminação que circula sobre o surdo e sua língua, necessitam ter uma perspectiva e uma prática reflexiva metodológica.
Um panorama da denominação dos tradutores e intérpretes de Libras-Português no Brasil com base no OTRADILIS
Shaiane Passos Santos De Oliveira, Neiva de Aquino Albres
Introdução: O Programa de Extensão “Observatório da Tradução e da Interpretação de Línguas de Sinais” (Otradilis) foi concebido e desenvolvido na Universidade Federal de Santa Catarina, no âmbito do Departamento de Libras, do Programa de Pós-graduação em Estudos da Tradução e do Núcleo de Pesquisas InterTrads. A presente pesquisa integra o Otradilis e constitui uma investigação realizada com base em artigos científicos publicados entre 1997 e 2024 em periódicos científicos. Objetivo: O objetivo principal é analisar as mudanças históricas na terminologia utilizada para denominar os tradutores e intérpretes de Libras-português (TILSP), visando construir um panorama das principais tendências e influências sócio-históricas na área. Referencial teórico: Fundamenta-se na linguística aplicada (Moita-Lopes, 1998), referente à existência de problemas sociais que requerem uma compreensão, em uma dimensão interdisciplinar articula-se com a filosofia da linguagem para o estudo do signo (Bakhtin e o círculo). Metodologia: Adotamos como metodologia a pesquisa documental de abordagem quantitativa/qualitativa, utilizando os princípios da cienciometria. O corpus foi construído a partir de artigos catalogados pelo programa Otradilis. O corpus atual compreende 605 artigos publicados sobre tradutores e intérpretes de línguas de sinais. Resultados: Os temas abordados nos artigos incluem a atuação do intérprete educacional, do intérprete juramentado no contexto legal e do tradutor ou intérprete atuando em eventos artísticos como teatro e shows de música, entre outros. Ao " traçar um perfil dos campos científicos, identificar a posição dos principais autores dentro do mapa e analisar as representações específicas de cada um dos ramos do conhecimento" (Vanti, 2002, p. 156). De certa forma, cada esfera pretende cunhar uma denominação específica. Esses elementos "oferecem um panorama do comportamento de um grupo de conhecimento através da produção científica publicada" (Maz et al., 2009, p. 186). Conclusão: Acreditamos que esta pesquisa pode contribuir significativamente para um entendimento histórico e social mais profundo sobre os tradutores e intérpretes de Libras no Brasil. Os resultados revelam que as representações sociais sobre o trabalho do TILP interferiram nas relações que a profissionalização e nas práticas da atividade, contribuindo para mudanças de concepções. O estudo evidenciou também o desejo de reconhecimento da profissão e o detalhamento de suas distintas tarefas (tradução, interpretação, revisão, consultoria, entre outras), assim como o reconhecimento dos surdos como tradutores e intérpretes.
ESTRATÉGIAS COMUNICATIVAS DE MÃES OUVINTES NÃO FLUENTES EM LIBRAS: considerações sobre a relação entre comunicação e desenvolvimento de Surdos
Danielly Caldas de Oliveira, Nadja Maria Vieira da Silva
Conquistas nos cenários institucionais brasileiro, como a aprovação da Lei 10.436 de 2002, que reconhece a Libras como língua e o Decreto 5.626, de 2005, que dentre outras providências, determina a inserção desta língua como disciplina em cursos superiores, e a recente aprovação da Lei 14.191/21, que determina a educação bilíngue como modalidade de ensino na educação de surdos, marcam as últimas décadas (BRASIL, 2005; BRASIL, 2002; BRASIL, 2021). Apesar desses avanços e do lugar de visibilidade ocupado pela Libras no cenário social e acadêmico, as relações comunicativas entre mães ouvintes e filhos surdos parecem permanecer no que Solé (2005, p. 59) chama de ‘estrangeiridade’, “na qual não há uma língua comum que possa mediar essa relação”. Diante dessa “estrangeiridade” nos perguntamos o que as mães ouvintes têm a dizer sobre a relação comunicativa com seus filhos surdos. Realizamos, então, no Programa de Pós-graduação em Psicologia (UFAL), uma pesquisa do tipo estudo de casos, de natureza idiográfica (VALSINER, 2012). Cujo objetivo geral foi investigar processos comunicativos emergentes a partir de histórias contadas por mães ouvintes não fluentes em Libras, sobre sua relação com um filho surdo. E os objetivos específicos foram: destacar estratégias comunicativas utilizadas pelas mães na ausência da Libras. Destacar processos nas narrativas das mães implicados na relação entre comunicação e desenvolvimento de Surdos. Salientamos que, aqui nos ocuparemos em apresentar apenas um recorte dos resultados gerais da pesquisa, no qual evidenciamos o percurso evolutivo das estratégias comunicativas utilizadas pelas mães ouvintes. No nosso desenho metodológico, trabalhamos com narrativas autobiográficas (BRUNER, 2004), enquanto instrumento teórico e metodológico da Psicologia Cultural (VALSINER, 2012) que viabilizou a análise de significados historicamente construídos pelos narradores. Participaram da pesquisa três mães ouvintes não fluentes em Libras, que têm um filho surdo em atendimento em um Centro de Capacitação de Profissionais de Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez – CAS. Para fomentar as narrativas autobiográficas foram realizadas de forma individual cinco entrevistas episódicas (FLICK, 2009), para focalizar experiências passadas, atuais e expectativas futuras da relação comunicativa das mães participantes com seu filho surdo. Ao fim da etapa das entrevistas, reunimos um total de quinze histórias (narrativas autobiográficas), cinco de cada mãe: duas no passado, duas no presente e uma no futuro. Efetivamente, as narrativas foram analisadas a partir dos procedimentos (decisões) descritos abaixo: Releitura da transcrição das entrevistas após sua transformação em formato de histórias. A releitura foi conduzida sem parâmetros a priori, para favorecer a captura de processos próprios da história de cada participante. Com esse procedimento exercemos pressupostos de uma perspectiva idiográfica da pesquisa científica no campo da Psicologia, que se refere à configuração singular das informações analisadas. Além disso, exercemos também funções descritas no ciclo epistêmico ou ciclo metodológico (VALSINER, 2012), relacionadas com o papel ativo da intuição e conhecimentos prévios do pesquisador. Seleção de trechos nos quais às mães se referiam ao processo de comunicação. Como critério para essa seleção, observamos, primeiramente o uso da palavra comunicação. Mas não limitamos a seleção à presença dessa palavra; consideramos também, para seleção desses trechos, situações nas quais observamos que a mãe se referia, como sentido, à comunicação, à interação ou às formas de falar e escutar o filho. Através desses trechos, observamos o uso de estratégias comunicativas e sua evolução ao longo da história narrada pelas mães. Construímos, então, figuras (1, 2 e 3) nas quais nomeamos as estratégias e indicamos os trechos correspondentes nas narrativas que ilustram o uso das diferentes estratégias. Análise da evolução no uso das estratégias, na medida em que também destacamos as transformações/negociação de sentidos das mães acerca da comunicação com seu filho surdo. Isto é, relacionamos, analiticamente, a evolução/diferenciação no uso de estratégias comunicativas à negociação de sentidos das mães acerca da comunicação com o filho surdo; além disso, discutimos a relação entre a variação no uso de estratégia e a mudança na forma de pensar sobre a comunicação com o filho surdo. Na análise das narrativas apontamos características da relação comunicativa entre mãe e filho, a partir do percurso das estratégias comunicativas utilizadas por cada mãe e confirmamos a hipótese do lugar constitutivo que a Libras ocupa no desenvolvimento de Surdos, mediante dialogo com os postulados teóricos de Vygotsky (2008; 2010). Diante dos resultados obtidos na pesquisa, defendemos que a Libras precisa atravessar os corpos maternos ouvintes, de maneira que ela se torne o elo mediador na relação comunicativa entre mães ouvintes e filhos surdos sinalizadores.
A LÍNGUA BRASLEIRA DE SINAIS E A ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO: O USO DE MARCADORES DISCURSIVOS NA INTERAÇÃO ENTRE SURDOS
Sheyla Cristina Araujo Matoso, Vanessa Hagemeyer Burgo, Claudinèia da Silva
A conversação está ligada à interação cotidiana das pessoas e os estudos que abarcam esse fenômeno linguístico estão pautados nas análises da língua em uso por seus interactantes. Neste sentido, considerar os fenômenos linguísticos que envolvem o ato conversacional, requer a compreensão de fatores inerentes a movimentos executados de forma intencional durante a interação de uma ou mais pessoas, elaboradas e executadas de forma simultânea. Assim como nas línguas orais, nas línguas de sinais a construção da conversação acontece por meio da interação entre seus pares, usuários desta língua, e está em constante desenvolvimento. Apesar de, ainda, percebermos um quadro tímido de representatividade em pesquisas relacionadas aos seus aspectos linguísticos, quando comparados aos estudos linguísticos das línguas orais. Quadros et. al (2018, p. 21) nos apontam que as pesquisas acerca das línguas de sinais têm se voltado para “investigações com base empírica no sentido de analisar aspectos que são comuns e diferentes das línguas de sinais e as línguas faladas. Nessa direção, as pesquisas identificaram os efeitos da modalidade nas formas linguísticas”. Tais afirmações tem apontado para iniciativas de análises e descrições destas línguas, o que indica um vasto campo na área das pesquisas linguísticas. O presente estudo possui o objetivo principal de analisar e evidenciar o uso de elementos linguísticos denominados Marcadores Discursivos, utilizados na interação conversacional entre surdos fluentes na Língua Brasileira de Sinais- Libras. Como objetivos específicos elencamos a difusão dos estudos linguísticos na Libras por meio da análise e descrição de línguas e descrever o processo de construção do texto em Libras em situação real de comunicação. Para isso, tivemos como aporte teórico estudos de autores do campo de pesquisa da Análise da Conversação como: Castilho (1989, 1994, 2000); Burgo e Araujo (2018); Marcuschi (1989, 2006); Risso (1995); Urbano (1997); Galembeck e Carvalho (1997), dentre outros. Buscamos, também, por pesquisadores do campo da linguística das línguas de sinais como: Quadros e Karnop (2004); Quadros (2017, 2018); Gesser (2009); Pereira (2009); Leite (2008, 2013), dentre outros que tem contribuído para a área de análise e descrição das línguas de sinais. O corpus desta pesquisa foi retirado de trechos de vídeos compostos pela interação em Libras de pessoas surdas, tais vídeos foram mapeados e coletados em um acervo do projeto Corpus de Libras, parte que compõe o Inventário Nacional de Libras, organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina em parceria com outras instituições e disponibilizado no site do projeto. Para a análise dos dados, utilizamos um software desenvolvido pelo Max Plank Institute, instrumento este que se encontra disponível de forma livre e recebe o nome de Sistema de Anotação Eudico Annotator-ELAN. Por meio deste sistema foi possível a transcrição dos vídeos de conversação de forma mais detalhada, pois alguns recursos contribuem para o processo de transcrição e tradução da língua de sinais. Como resultado e discussão deste estudo, obtivemos a identificação da utilização de Marcadores Discursivos durante trechos das conversas analisadas, o que nos permitiu evidenciar que, assim como nas línguas orais, estes elementos são típicos da organização da fala e podem ser acionados à medida que o sinalizante intencionalmente pretende marcar ou monitorar seu discurso. Localizamos, nos vídeos analisados, a incidência do uso de marcadores correspondentes a função ideacional (voltados para o texto) e de função interacional (voltados para o interlocutor). Percebemos que a Libras possui sua construção e elaboração da enunciação planejada de maneira análoga às línguas orais auditivas. Galembeck e Carvalho (1997) assinalam como algumas características básicas da língua falada, a ausência de uma etapa nítida de planejamento, a existência do espaço partilhado entre os interlocutores e o envolvimento dos interlocutores. Essas características, de igual forma, puderam ser evidenciadas na Libras e as análises nos permitiram apontar a legitimidade do uso destes elementos nas construções sentenciais das conversações, corroborando, assim, com a desconstrução de possíveis visões equivocadas quanto às línguas de sinais, visões essas alicerçadas em uma sociedade que, nem sempre, respeita e tampouco valoriza aquilo que é diferente do convencional. Concluímos que a divulgação dos resultados obtidos pode acrescentar na legitimação da língua de sinais por parte dos usuários da mesma e de toda sua comunidade, dando a visibilidade necessária a fim de que o respeito à diversidade linguística ocorra de maneira efetiva.
Efetividade no Ensino de Libras no Ensino Superior: Análise da Teoria e da Prática Docente
Adeilson da Silva Alves
Com a promulgação do Decreto nº 5.626/2005, o ensino de Libras passou a ser obrigatório no ensino superior para os cursos de licenciatura e Fonoaudiologia. Pode-se considerar que essa decisão foi um passo muito importante para a inclusão de pessoas surdas, pois, dessa forma, os novos profissionais formados poderiam romper com as barreiras de aprendizagem e assim incluírem alunos e pacientes surdos em suas vivências. Contudo, a realidade está aquém do que é estabelecido na legislação. Embora não se possa negar o fato de que a existência desse decreto e de outras leis foram fundamentais para que fosse possível se avançar em quesitos de inclusão e melhorias no cenário educacional brasileiro, ainda existe um déficit muito grande quando se trata do ensino da Libras no Ensino Superior. Diante essa problemática, este trabalho tem como objetivo geral analisar a prática docente dos professores de Libras e a teoria que lhes fundamentam. Os objetivos específicos são: investigar as metodologias utilizadas pelos professores de Libras no Ensino Superior e sua eficácia na formação de novos professores; examinar a percepção dos alunos dos cursos de licenciatura sobre o ensino de Libras e sua aplicação prática em contextos profissionais; analisar a infraestrutura e recursos disponíveis nas instituições de Ensino Superior para o ensino de Libras; e explorar as barreiras e desafios enfrentados pelos professores de Libras no Ensino Superior e propor estratégias para superá-los. Os textos de Rossi (2011) e de Sousa, Ferreira e Neto (2017) fundamentaram as análises desta pesquisa. Esta é uma pesquisa qualitativa de análise bibliográfica e pesquisa etnográfica. Até o presente momento, apenas as análises bibliográficas foram realizadas, mediante leitura e interpretação dos textos. A próxima etapa será uma pesquisa etnográfica com professores de Libras do Ensino Superior e com estudantes de cursos de licenciatura que já tenham cursado a disciplina em período anterior a esta pesquisa. A pesquisa procurou discutir como as ementas das disciplinas de Libras e como a prática dos professores têm se efetivado. Aqui se destaca a ausência de debate e aporte teórico em muitas aulas. Após analisar algumas ementas, foi possível perceber que existe uma prática docente centrada no ensino de sinais fora de contexto e na ausência de discussões socioeducacionais sobre o tema, sobretudo para explicar o que é surdez, quais as terminologias corretas, o que é a Libras e quais as diferenças para a Língua Portuguesa, dentre outros temas importantes para que os egressos dessas licenciaturas consigam atuar de forma eficiente para com os seus possíveis alunos surdos. Com isso, concorda-se com Rossi (2011) quando a autora afirma que é necessário que os profissionais sejam devidamente preparados durante a sua formação para que a inclusão de pessoas surdas no sistema de ensino brasileiro aconteça de forma efetiva. Para isso que seja possível, é preciso que os futuros professores estejam aptos para dominar a Libras, entender conceitos culturais que permeiam a comunidade surda e saber respeitar o processo comunicativo dos seus estudantes surdos. Sousa, Ferreira e Neto (2017) exemplificam como isso pode ser feito. Ao analisarem a ementa de uma disciplina de introdução à Libras, mostraram uma organização curricular que consegue suprir o teórico e o prático da Libras de acordo com o nível de formação proposto. Segundo o relato dos autores, a sinalização na prática em sala de aula com os estudantes de graduação se desenvolveu de forma a integrá-los com contextos de sala de aula, que envolvem a sua formação, possibilitando que os alunos experimentassem o processo comunicativo de forma lúdica e consciente. Entretanto, uma única disciplina não é suficiente para explicar todos os contextos sociopolíticos que envolvem a comunidade surda, bem como não é possível ensinar toda uma língua. Embora esse breve contato seja crucial para a formação dos futuros docentes, a formação dos professores para a Libras e para a comunidade surda não pode se resumir a esse contato. Portanto, mesmo que a pesquisa ainda não esteja concluída, pode-se afirmar que a formação em Libras precisa ser constante para que se possa melhorar. A proposta analisada por Sousa, Ferreira e Neto (2017) concebe uma perspectiva de ensino que chama atenção para o fato que essa formação deveria ser concebida desde a Educação Infantil. Outrossim, a Libras enquanto disciplina no Ensino Superior precisa perpassar pelos campos teóricos e práticos de forma integrada, contextualizada e com contato com a comunidade surda, para que haja a devida valorização dos professores surdos e o aprendizado efetivo para a sua futura prática docente.