A variação fonológica é um fenômeno presente tanto nas línguas orais quanto nas línguas de sinais (LS). Esse fenômeno é perceptível na comunicação quando indivíduos de diferentes regiões se encontram, compreendendo que Labov (2008) define o foco da Sociolinguística como a análise da linguagem oral em seu contexto social. O ponto de partida é a comunidade linguística, que é vista como um grupo de pessoas que não apenas interagem por meio da linguagem, mas também seguem um conjunto de regras comuns relacionadas ao uso da mesma. Logo, podemos exemplificar, o que ocorre na língua portuguesa com a palavra PORTA, uma variação fonológica na pronúncia: /poRta/ e /porta/ que tem a pronúncia realizada de forma diferente, dependendo do indivíduo ou região, enquanto o /R/ retroflexo, é semelhante ao “r” em inglês, característico do falar “caipira”, o /r/ vibrante pode ter duas variantes, a vibrante alveolar, que é o som mais suave, como em “caro” e “faro” e o vibrante velar, que é o som mais carregado, grafando-se com “r” no início e “rr” no meio, como em “carro” e “torre”. Entretanto, na modalidade escrita permanece sem alterações. Na LS não é diferente, logo, a pergunta da nossa pesquisa é: como variações na produção da configuração de mão de sinais em Libras são representadas na escrita? Nesta pesquisa, analisaremos as variações fonológicas das configurações de mão “S” e “O” na Língua Brasileira de Sinais (Libras). Utilizaremos o sistema de escrita de sinais: SignWriting.
O objetivo geral é analisar as variações fonológicas das CM, S e O na Libras, utilizando o SignWriting. Com o propósito de compreender como essas variações afetam a compreensão dos sinais. Os objetivos específicos: i. investigar se ambas CM pertencem à mesma classe fonêmica, isso auxiliará no entendimento da relevância dessas variações em termos de significado e por fim ii. analisar se a modificação na CM altera o significado do sinal, nos permitindo compreender melhor a relação entre a forma da mão e o conteúdo semântico dos sinais. Battison (1978 apud Alecrim 2022, p. 27) explica que as CM podem ser de dois tipos: marcadas e não-marcadas, portanto, selecionamos do grupo das não-marcadas as configurações de mão S e O, por observarmos uma variação na pronúncia do sinal CRIAR. Identificamos que em algumas escritas, surdos e ouvintes tendem a usar variantes entre-sujeitos.
A metodologia de pesquisa é de caráter quantitativo, onde um corpus de sinais escritos, registrados no site Signbank, serão coletados, buscando pelas CM em S e O, com o intuito de investigar a variação fonológica presente nos sinais que possuem ambas as CM supracitadas. A partir da coleta e análise do corpus e levando em consideração que os registros são realizados por sujeitos sinalizantes e as possíveis variações de escrita dos sinais, será possível investigar a variação que ocorre em ambas as CM e se pertencem à mesma classe fonêmica, visto que em algumas situações, ambas são utilizadas para execução do mesmo sinal. Em seguida, para quantificar e refinar os sinais que correspondem às características da análise da pesquisa, utilizaremos uma tabela onde os registros serão armazenados. Serão usados como critério de categorização as seguintes características: bimanualidade, monomanualidade, dinamicidade, estabilidade e se há influência da letra inicial.
Resultados parciais: Identificamos variantes no Signbank. Categorizamos alguns sinais como: ENSINAR, CRIAR, CIDADE e outros 17 que apresentaram variação em suas CM: S e O. Logo, essa pesquisa se baseia em uma análise a partir de registros de usuários do Signbank. Estes registros podem ser válidos para análises e pesquisas futuras acerca da escrita da língua de sinais. Posto isso, através do refinamento dos registros e a análise dos mesmos, será possível constatar se ambas as CM pertencem à mesma classe fonêmica e quais particularidades e similitudes elas possuem para estar na mesma classe. Além disso, identificamos que as configurações mencionadas são mais recorrentes em sinais dinâmicos, ou seja, com mudança na CM durante a sinalização. Esta pesquisa lança luz sobre como os sinalizadores a partir de sua produção linguística efetuam suas escolhas ortográficas em SW.
REFERÊNCIAS
ALECRIM, Elisane Conceição. A variação fonético-fonológica da configuração de mão na Libras. Curitiba, 2022.
BARRETO, Madson e BARRETTO, Raquel. Escrita de sinais sem mistérios. Belo Horizonte: Ed. do autor, 2012.
LABOV, William. Padrões sociolinguísticos. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
LABOV, William et al. Fundamentos Empíricos para uma Teoria da Mudança Linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
SILVA JÚNIOR, Daltro Roque Carvalho da. A configuração de mão como unidade significativa na formação de sinais da Libras. Florianópolis, 2023.
Comissão Organizadora
Dr. Humberto Meira de Araujo Neto (UFAL)
Dr. Jair Barbosa da Silva (UFAL)
Dr. Alexandre Melo de Souza (UFAL)
Dr. Nágib José Mendes dos Santos (UFAL)
Dr. Paulo Rogério Stella (UFAL)
Me. Thiago Bruno de Souza Santos (UFAL)
Comissão Científica
Dr. Alexandre Melo de Souza (UFAL)
Dr. Anderson Almeida da Silva (UFPE)
Dr. Bruno Gonçalves Carneiro (UFT)
Dra. Camila Tavares Leite (UFU)
Dr. Charley Pereira Soares (UFMG)
Dra. Dayane Celestino de Almeida (Unicamp)
Dr. Guilherme Lourenço de Souza (UFMG)
Dr. Humberto Meira de Araujo Neto (UFAL)
Dr. Jair Barbosa da Silva (UFAL)
Dra. Lígia dos Santos Ferreira (UFAL)
Dra. Lorena Araújo de Oliveira Borges (UFAL)
Dra. Miriam Royer (UFCA)
Dr. Nágib José Mendes dos Santos (UFAL)
Dr. Paulo Rogério Stella (UFAL)
Dra. Rita de Cássia Souto Maior Siqueira Lima (UFAL)
congressointernellis@gmail.com
Publicação dos anais do II Congresso Internacional de Estudos em Linguística de Línguas de Sinais | Internellis - celebrando os 10 anos do curso de Letras-Libras da UFAL.
ISBN: 978-65-01-25702-0