Glossário Do Patrimônio Cultural do Recife em Libras: os caminhos de uma construção lexicográfica coletiva
Carlos Antonio Fontenele Mourão (UFPE)
Nilson da Rocha Cordeiro (FUNDARPE)
Marcelo Renan de Souza (FUNDARPE)
Amanda Carla Gomes Paraíso (FUNDARPE)
Introdução: As primeiras experiências lexicográficas em Libras que resultaram em publicações para o ensino desse idioma, remontam ao pioneirismo de Flausino José da Gama e sua indispensável obra: Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos (1845). Para uma língua eminentemente visual, como a Libras, cujo principal suporte de registro, por muito tempo, foi apenas a memória de grupos restritos, a criação de um trabalho lexicográfico, por menos abrangente e precário que seja, ganha dimensões maiores no contexto das línguas de sinais, ainda mais reforçadas quando tal trabalho aborda um tema que não é facilmente presente na realidade da população usuária de Libras. Essa é uma das principais problemáticas que levou um grupo de pesquisadores surdos e ouvintes, oriundos de instituições distintas a se unirem em torno de dois temas pouco fronteiriços em suas trajetórias: três pesquisadores ligados à Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (FUNDARPE), Marcelo Renan, Nilson Cordeiro e Amanda Paraíso foram os idealizadores de um projeto desenvolvido em parceria com estudantes e professores ligados ao Programa de Acessibilidade em Libras (Proacesso Libras), do Curso de Licenciatura em Letras/Libras da UFPE. Sob financiamento da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Recife, o projeto, intitulado Glossário do Patrimônio Cultural do Recife em Libras produziu, coletivamente, ao final de um ano, um glossário inovador em seus aspectos imagéticos e metodológicos, com mais de trinta termos ligados ao Patrimônio Cultural da cidade de Recife. O trabalho priorizou a exposição em Libras por agentes surdos e agregou ainda traduções para a língua portuguesa e a escrita de sinais (signwriting) em um conjunto de vídeos editados de forma a trazer um conteúdo ilustrado, atrativo e funcional que refletisse o tema em tela. Objetivo Geral: Relatar a experiência e participação nos processos de elaboração do Glossário do Patrimônio Cultural do Recife em Libras. Objetivos específicos: a) Dispor aos estudos lexicográficos em Libras, o caminho metodológico coletivo realizado na construção deste Glossário; b) Refletir sobre sua importância para a construção de conhecimento na comunidade surda brasileira e dimensionar o acesso da população surda a conceitos ligados ao tema “Patrimônio Cultural” através da Libras. Metodologia: O percurso que nos levou à construção deste GLOSSÁRIO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DO RECIFE EM LIBRAS, contém em cada um dos mais de trinta sinais-termos trabalhados, um longo estudo lexicográfico que seguiu as seguintes etapas: a) Estudo coletivo de termos-chaves para a temática escolhida (patrimônio cultural da cidade de Recife) entre os idealizadores do projeto, pesquisadores e membros voluntários da comunidade surda pernambucana; b) Levantamento de sinais-termos, seus conceitos e exemplos, junto à comunidade surda circunscrita ao tema; c) Registro espontâneo de sinais-termos com o publico participante; d) Avaliação dos termos pelo grupo proponente; e) Construção de sinais-termos essenciais ao tema, mas sem registro junto à comunidade envolvida; f) detalhamento lexicográfico, fonológico e conceitual dos sinais-termos em fichas baseadas nos estudos de Ferreira (2021) e Fleuri (2019); g) Filmagem, editoração e edição do glossário para testagem e retorno do público envolvido; h) Revisão final e disponibilização do glossário ao grande público na web (ver site: https://www.youtube.com/playlist?list=PLMkTlfNiE-u2M7cou9QXqma-ptO5mdFoq). Resultados: Como principal contribuição deste trabalho lexicográfico em Libras, destacamos a construção de conhecimento coletiva e democrática realizada em zonas fronteiriças entre públicos e termas marcadamente distintos, ao mesmo tempo em que circulam por um espaço cultural comum, a cidade de Recife, que pelo seu potencial é considerada uma das matrizes culturais do país. Outro ponto de destaque é o alcance educativo do glossário produzido. Quanto a isso, será necessário aguardar o tempo de recepção deste trabalho pela população. Estamos atentos a suas provocações futuras, tanto entre surdos e ouvintes. Conclusões: Concluímos que pesquisar, produzir e publicar um glossário sinalizado em Libras no formato proposto, garante não somente o direito linguístico, mas também o acesso à cultura, através do conhecimento de termos, locais e histórias antes distantes ou invisíveis para a comunidade surda. Para qualquer área do conhecimento que a Libras avance, um trabalho lexicográfico acessível, que respeite o saber comunitário dos povos surdos como este que se apresenta, é uma etapa indispensável no desenvolvimento socioeducativo desta população. Faz-se, portanto, necessário o incentivo à pesquisa e desenvolvimento dos estudos lexicográficos em Libras.
Palavras-Chave: Lexicografia; Língua Brasileira de Sinais; Patrimônio; Cultura.
Comissão Organizadora
Dr. Humberto Meira de Araujo Neto (UFAL)
Dr. Jair Barbosa da Silva (UFAL)
Dr. Alexandre Melo de Souza (UFAL)
Dr. Nágib José Mendes dos Santos (UFAL)
Dr. Paulo Rogério Stella (UFAL)
Me. Thiago Bruno de Souza Santos (UFAL)
Comissão Científica
Dr. Alexandre Melo de Souza (UFAL)
Dr. Anderson Almeida da Silva (UFPE)
Dr. Bruno Gonçalves Carneiro (UFT)
Dra. Camila Tavares Leite (UFU)
Dr. Charley Pereira Soares (UFMG)
Dra. Dayane Celestino de Almeida (Unicamp)
Dr. Guilherme Lourenço de Souza (UFMG)
Dr. Humberto Meira de Araujo Neto (UFAL)
Dr. Jair Barbosa da Silva (UFAL)
Dra. Lígia dos Santos Ferreira (UFAL)
Dra. Lorena Araújo de Oliveira Borges (UFAL)
Dra. Miriam Royer (UFCA)
Dr. Nágib José Mendes dos Santos (UFAL)
Dr. Paulo Rogério Stella (UFAL)
Dra. Rita de Cássia Souto Maior Siqueira Lima (UFAL)
congressointernellis@gmail.com
Publicação dos anais do II Congresso Internacional de Estudos em Linguística de Línguas de Sinais | Internellis - celebrando os 10 anos do curso de Letras-Libras da UFAL.
ISBN: 978-65-01-25702-0