O presente trabalho analisa, no âmbito da política ultraconservadora que assolou o Brasil com a ascensão da extrema direita e de Bolsonaro ao cargo de Presidente da República, como a cultura foi discursivizada e significada nessa conjuntura, na tentativa de compreender, tendo em conta as particularidades da formação social brasileira, as contradições que permearam o discurso neofascista desse governo em seu projeto de desmonte da pasta cultural. Essa perspectiva nos permite investigar o corpus selecionado a partir das relações sociais concretas em que este se insere, articulando o processo de produção/reprodução/transformação da vida material e os processos discursivos, tentando, assim, alcançar o caráter material dos sentidos, sempre levando em consideração a associação entre língua, história, sujeito e ideologia e as relações de classe inerentes à sociedade capitalista. Como resultado, verificamos, no geral, que os sentidos em torno do termo cultura analisados funcionaram como uma estratégia para esvaziar a cultura de sua “dimensão político-histórico-social”, de sua pluralidade, de suas contradições, de seu “caráter paradoxal” e de sua compreensão ontológica, reduzindo-a à condição de mera mercadoria, objeto de entretenimento, determinada pela lógica de exploração capitalista. As análises demonstram, assim, que o modelo de cultura encarnado no governo Bolsonaro se caracterizou pela busca da reprodução ideológica desta sociedade, em particular, em sua faceta neofascista, visando à homogeneização, à naturalização e o controle dos sentidos em jogo nas relações de poder existentes no sistema do capital.
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