As relações de poder e saber historicamente se utilizaram de discursos biologizantes, científicos e religiosos para orientar as práticas e os afetos do sujeito mulher na tentativa de naturalizar as posições sociais e políticas ocupadas (ou não) por esses corpos. Com a ascensão dos feminismos e a massificação dos Estudos de Gênero e de Raça, os discursos que fabricaram a mulher-mãe na sociedade brasileira sofreram deslocamentos e descontinuidades. Diante disso, o objetivo desse trabalho – recorte de uma pesquisa maior, cujo interesse é compreender o funcionamento do dispositivo da maternidade na atualidade –, é cartografar a constituição e o funcionamento da maquinaria de poder em questão, tal como ela se revela, nos séculos XIX e XX. Para tanto, analisaremos enunciados publicados no jornal brasileiro A MÃI DE FAMILIA (1879-1888) e discursos materializados na revista brasileira VIDA DOMESTICA (1920-1962). Dessa forma, buscaremos examinar como as relações saber-poder, os enunciados, as práticas discursivas e os elementos heterogêneos que constituem esse dispositivo se organizam e se articulam, estrategicamente, com o intuito de docilizar os corpos das mulheres e conduzir suas condutas, promovendo, desse modo, a liberação ou a interdição de determinados lugares sociais e de certas atividades domésticas e de cuidado. Pretendemos, ainda, compreender como os efeitos dessa maquinaria de poder despolitizam e invisibilizam os trabalhos de reprodução e manutenção da vida, valendo-se de uma lógica biologizante, classista, racista e ciscentrada. Como aporte teórico-metodológico, utilizamos os Estudos Discursivos Foucaultianos articulados com os Estudos de Gênero.
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