O conto “Pai contra mãe” (1906) retrata a maternidade de duas mães: Armina, mulher negra escravizada e Clara, mulher branca livre. No fim da narrativa, só uma das crianças sobrevive e não é a de Armina. Assim, Machado de Assis expõe uma crítica às estruturas sociais do Brasil oitocentista. Por sua vez, o conto “Canção de ninar” (2017), de Eliana Alves Cruz, também aborda a temática da mãe negra que, em meio a um tiroteio, tenta manter a filha longe do destino trágico que tiveram outras crianças na periferia do Rio de Janeiro. Diante disso, este trabalho tem por objetivo analisar comparativamente os textos supracitados, focando-nos na maneira como retratam a maternidade negra como espaço de resistência em meio às estruturas sociais e raciais de suas respectivas épocas, problematizando as intersecções entre gênero, raça e classe a partir de uma perspectiva decolonial. Para tanto, utilizaremos como referência teórica as noções de Quijano (2005) a respeito da colonialidade, as contribuições de Lugones (2015) e os estudos de Davis (2016) sobre a relação entre mulher e raça. Concluímos que “Canção de ninar” mostra como na contemporaneidade algumas questões já apontadas pelo Bruxo do Cosme Velho ainda se fazem presentes e como o pensamento decolonial se faz importante para entendermos elementos que estruturam a sociedade brasileira.
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