Corpos Marginalizados: assassinatos de travestis em jornais sob uma perspectiva discursiva
Ulisses Bertoldo
Mônica Cruz
Uma investigação da cobertura jornalística dos assassinatos de travestis no Maranhão, analisando como a mídia local constrói e perpetua discursos de marginalização e violência acerca dessa população. Com base na Análise do Discurso (AD) francesa, a pesquisa examina os títulos de notícias publicadas no jornal O Imparcial nos últimos cinco anos, identificando os efeitos de sentido produzidos sobre essas mortes. Utilizando conceitos como formação discursiva, memória discursiva e condições de produção, a análise revela que a ênfase nos detalhes violentos e o uso recorrente da identidade de gênero das vítimas contribuem para reforçar representações históricas estigmatizantes, reduzindo essas identidades a marcadores de marginalidade e transgressão. Os resultados indicam que o discurso jornalístico tende a legitimar e reproduzir hierarquias de poder, reduzindo as travestis a uma posição de vulnerabilidade simbólica. No entanto, a pesquisa também identifica fissuras discursivas que desafiam sentidos estabilizados e possibilitam gestos de resistência. Um exemplo disso é o título “Gays doam sangue pela primeira vez no Maranhão”, que, ao deslocar a narrativa tradicional de exclusão, evidencia brechas na estrutura discursiva hegemônica. Embora este estudo dialogue com perspectivas da História, a análise se concentra na abordagem discursiva, permitindo compreender as contradições internas ao discurso midiático e as possibilidades de ressignificação. Conclui-se que, mesmo em espaços rigidamente regulados como o jornalismo, existem tensões discursivas que permitem a emergência de novos sentidos.
Palavras-chave: Análise do Discurso, assassinatos de travestis, acontecimento discursivo, jornalismo.
Comissão Organizadora
EDITORA PHILLOS ACADEMY
Comissão Científica