Esta comunicação oral tem como finalidade apresentar uma análise do diário Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus, à luz da teoria de Bakhtin (2018) acerca dos cronotopos de uma narrativa, tendo em vista a extensão que fizemos desse conceito, que considera o mercado editorial brasileiro e as interseccionalidades discutidas por Pereira (2021). Em nossa concepção, o cronotopo do mercado editorial é um lugar de poder, de decisão sobre a escrita do outro, aquilo que valida ou invalida a produção artística. É formado por ideias calcificadas sobre o que é a Literatura e o que é a Literatura Negra. É um espaço dominado pela branquitude e pelo sexismo, onde se estabelecem normas para a publicação. Isso é percebido ao longo da história da literatura brasileira já que os escritores negros precisaram romper barreiras raciais e de gênero para que pudessem publicar, além disso, quando se alcança a publicação ainda há casos de apagamento, como ocorreu com Machado de Assis e Maria Firmina dos Reis. No diário de Carolina, ela escreve a partir de sua vivência e marca uma personalidade que subverte os estereótipos racistas e sexistas. Ao longo das páginas, a autora demonstra desejo de publicar seu livro, mas encontra entraves, próprios do cronotopo do mercado editorial. A publicação de Carolina e de outras escritoras negras faz parte de uma luta de resistência e ocupação de um espaço que lhes era negado.
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