Com base na Análise de Discurso materialista e nos estudos interseccionais e decoloniais (Carneiro, 2023; Gonzalez, 1984; McClintock, 2010), analisamos um discurso classista racializado de gênero (Cestari, 2017) sobre a maternidade em circulação no Brasil no século XIX. Esse discurso é uma releitura à brasileira do mito do amor materno e da exaltação da família formulados na Europa. O corpus da pesquisa é constituído a partir do periódico A Mãi de Família (1879-1888), publicado no Rio de Janeiro, abarcando discursos médicos e moralistas atravessados pelo racismo, pelo patriarcalismo, pelo higienismo, pelo republicanismo e pelo abolicionismo. Com foco nas condições de produção, a pesquisa mostra que esse discurso sobre a maternidade, ao atribuir às mulheres a responsabilidade pelos cuidados com as crianças no projeto nacional da elite, hierarquiza valores e funções maternas, contrastando o imaginário da figura da mãe branca com a da mãe preta pelo trabalho da memória discursiva (Indursky, 2012; Pêcheux, 1984). Assim, os resultados de nossas análises tensionam o discurso fundador (Orlandi, 1993) do encontro das três raças e do mito da democracia racial no Brasil, compreendendo que esses discursos seguem produzindo efeitos na contemporaneidade e são objeto de contra-discursos.
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