A reforma educacional instituída pela Lei n.º 13.415/2017 reorganizou o Ensino Médio brasileiro, introduzindo os Itinerários Formativos. Essa mudança reconfigurou o papel do professor, levando muitos a ministrar componentes curriculares distintos de sua formação inicial. Neste trabalho, analisamos quais discursos sustentam as narrativas dos sujeitos-professores de línguas na rede pública de Ensino Médio de Chapecó sobre ser professor nos itinerários formativos. Para isso, mobilizamos a Análise de Discurso (AD), representada por Pêcheux ([1983] 1990b) e Orlandi (2015), com ênfase nos conceitos de discurso, sujeito e formação imaginária. O corpus da pesquisa foi constituído a partir de entrevistas semiestruturadas, realizadas no segundo semestre de 2022, com professores de línguas que passaram a atuar na parte flexível do currículo. A partir das sequências discursivas analisadas, identificamos contradições e regularidades nos modos de significar a prática profissional. Os efeitos de sentido que emergem dessas narrativas apontam que, ao ministrar conteúdos que consideram fora de sua especialidade, os professores experienciam insegurança e deslocamento, colocando em xeque a certeza sobre o próprio domínio de conhecimento. Além disso, observamos que a reestruturação curricular, orientada por um discurso neoliberal, opera na constituição da prática docente, submetendo-a a uma lógica produtivista, voltada à formação de trabalhadores e não à ampliação dos sentidos de educação. Este estudo insere-se no debate sobre os impactos da flexibilização curricular e da precarização do trabalho docente, contribuindo para uma reflexão crítica sobre os processos que atravessam a educação pública no Brasil.
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