A partir de experiências pedagógicas com povos indígenas e famílias ribeirinhas do alto e médio rio negro, esta oficina busca expor perspectivas psicopedagógicas acerca das metodologias de ensino aplicadas por professores indígenas na contemporaneidade. Destaca-se que a autora da oficina também é uma mulher indígena, do povo Tapuia, que a partir de suas pesquisas, desde o doutorado, retoma saberes filosóficos dos povos originários em suas práticas de ensino.
O título da oficina, muito simbólico para a cosmovisão aqui defendida, indica o encaminhamento metodológico que propomos para a realização deste momento. As águas do rio a tudo incorporam para continuarem em movimento fluido, sem apegos ou separações. Do mesmo modo, a pedagogia dos povos indígenas incorpora uma concepção identitária que vê todos os seres da floresta como partes do mesmo organismo, assim, nesta ótica há “gente-pedra”, “gente-aranha”, “gente-flor”, “gente-rio” e tantas outras formas de vida reconhecidas como sujeitos ativos. Em outras palavras, todos os seres compõem uma gama de conhecimentos que podem dialogar e conviver entre si. O rio é um avô, relembra Ailton Krenak, na obra Futuro Ancestral (2024), sobre a relação do rio Watu (rio Doce) e o povo Krenak. De modo parecido, a presente oficina buscará compreender, a partir de fotografias autorais acompanhadas de narrativas orais ou poemas de crianças e adolescentes de diferentes povos indígenas ou comunidades ribeirinhas, sobre o diálogo entre Educação, Ciência e Sustentabilidade Social (eixo 2 deste evento e no qual esta oficina se inscreve) para os povos da floresta, em comparação ao pensamento filosófico de Krenak e de outras lideranças indígenas brasileiras, como Daniel Munduruku e Kaká Werá Jecupé. A oficina tem a finalidade de contribuir para que estes pensamentos sejam, cada vez mais, compreendidos por estudantes, professores e pesquisadores de fora destes territórios, compondo uma corrente, assim como o próprio rio, que se avoluma e desemboca em saberes descolonizadores. Ao todo, serão apresentadas 10 fotografias de rios da Amazônia, com trechos (de poemas ou narrativas) coletados entre março de 2021 a fevereiro de 2024 (escritos por alunos ribeirinhos ou indígenas), em territórios entre o Amazonas e o Pará. Após esta primeira apresentação, serão expostas possibilidades de sequências didáticas para diversas idades – tanto para crianças e adolescentes de territórios ribeirinhos e indígenas – quanto para estudantes das cidades acerca da cultura e dos saberes dos povos indígenas. Para conclusão da oficina, a autora realizará um breve relato pessoal de sua experiência como estudante e depois como pesquisadora indígena na Amazônia, expondo seus desafios e as necessidades atuais de indígenas nas Universidades. Espera-se que esta proposta possa alcançar visibilidade e incentivar professores e pesquisadores a estabelecerem práticas cada vez mais sensíveis à causa indígena, bem como a construções de ensino descolonizadoras e promovedoras da cultura e dos saberes da Amazônia.
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