RESUMO: Este trabalho se configura como um relato de experiência decorrente das vivências no curso de doutorado em Educação PPGE – UFAM no interim de 2020-2024, de uma pesquisa com lideranças quilombolas e seu processo formativo. Trata-se de uma retomada do percurso metodológico desde o ingresso no curso até o encontro com a abordagem metodológica. Um caminho que nos levou a analisar o “problema de pesquisa” por diversas óticas e enriqueceu significativamente o processo formativo.
PALAVRAS-CHAVE: Teoria, Método, Percurso.
INTRODUÇÃO
Este trabalho propõe apresentar um relato de experiência decorrente das vivências no curso de doutorado em Educação PPGE – UFAM no interim de 2020-2024, sobre uma pesquisa com lideranças quilombolas e seu processo formativo.
Busca-se retomar o percurso metodológico, com destaque para as certezas e incertezas que atravessaram o processo formativo no curso de doutorado desde o ingresso no PPGE-UFAM até o momento da decisão por uma abordagem teórico-metodológica.
Um caminho repleto de desafios, em que as certezas iniciais passaram a ser incertezas, que nos levaram a analisar o “problema de pesquisa” por diversas óticas epistemológicas, enriquecendo significativamente o processo formativo da pesquisadora.
METODOLOGIA
Para esse relato de experiência, utilizamos a narrativa, que segundo Anabel Moriña (2016) “en este tipo de métodos es frecuente utilizar términos como co-investigación, co-autoría, co-propiedad”, no qual podemos ser agentes da pesquisa e pesquisadores, simultaneamente.
DISCUSSÃO
A metodologia da pesquisa fundamental para qualquer investigação cientifica, geralmente, se configura como um desafio para os pesquisadores. Pois por mais que eles saibam sobre o que desejam pesquisar, por vezes, se encontram em um labirinto teórico-metodológica, em meio a um universo de correntes filosóficas, métodos e técnicas de pesquisa.
No processo de sistematização da investigação e escrita da tese de doutorado, fomos guiados a conhecer diferentes abordagens teóricas, logo métodos e técnicas alinhadas a elas. Essa jornada, se divide em 8 trajetos epistêmicos, dos quais apresentaremos 6 neste relato.
No primeiro momento, por uma questão de familiaridade com a abordagem teórico-metodológica, buscamos analisar o até então, problema de pesquisa pela ótica da Complexidade (Edgar Morim), mas notamos que os princípios da teoria ao nosso ver não abrangiam a complexidade dos nossos objetivos.
Observando as mudanças no nosso cenário de pesquisa, natural da pesquisa social, visto que ocorre em tempos e espaços mutáveis passamos a estudar sobre a Cartografia (Deleuze e Guatarri,), considerando que nos possibilita “elaborar um mapa mutante, o qual é aberto, é conectável em todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber modificações constantemente” (Deleuze e Guatarri, 1995, p.22). Contudo, à medida que fomos avançando empiricamente, observamos que a aplicabilidade da Cartografia não se mostrava como a mais promissora para nossos objetivos.
Nesse contexto, passamos pela Base epistemológica da Fenomenologia (Edmund Husserl) a qual “o pesquisador considera sua vivência em seu mundo vida, uma experiência que lhe é própria, permitindo-lhe questionar o fenômeno que deseja compreender” (Silva, Lopes e Diniz, 2008, p.255). Essa foi uma das bases epistemológicas mais desafiadora no sentido da compreensão, em especial pelo seu viés subjetivo.
Seguindo nossa jornada, em um processo em constante mudança dada a própria dinâmica da vida dos cenários políticos, econômicos e sociais, nos enveredamos pela literatura da Democracia, vendo como possibilidade de abordagem epistêmica a Democracia Participativa na qual “qual a participação cidadã vai além do voto, alcançando diversas esferas da vida social, incluindo o local de trabalho e a vida comunitária” (Carolen Patman, 2012).
Apesar das suas categorias analíticas se mostrarem bastante promissoras, notamos que ainda não daríamos conta de aplicá-las, ainda que com ajustes. Contudo, essa teoria, juntamente com as aulas sobre Políticas Públicas e com as reuniões de orientação nos aproximaram de outras teorias tais como a Teoria dos Movimentos Sociais, a Decolonialidade Latino-americana e a Afrocentricidade de Molefi Asante.
A Afrocentricidade, conforme proposto por Asante (2009), é uma abordagem que coloca os africanos e a diáspora africana no centro das análises históricas, culturais e sociais, como contraponto às perspectivas etnocêntricas; ou seja, enfrenta um conjunto de crenças que sofrem distorções advindas do pensamento eurocêntrico que têm sido predominantes no discurso acadêmico, o que coadunou com nosso contexto e agentes da pesquisa.
CONCLUSÕES:
Algo que há em comum nas abordagens, todas tem característica a corrente Pós-moderna, salvo a Fenomenologia. Se faz mister ressaltar como o próprio percurso segue uma linha relativamente conexa, vão se aproximando gradativamente.
Outro destaque é que nesse processo de encontro de uma abordagem teórica-metodológica, enriqueceu o processo formativo e ampliou a compreensão da relação entre o que se pretende investigar e a escolha de como fazer, pois há a grande possibilidade dos objetivos exigirem um determinado método, com adaptações na sua aplicabilidade.
REFERÊNCIA:
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