O Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Humanidades (PPGECH) se consolida em um curso a nível de mestrado proposto por um coletivo de docentes vinculados ao Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente (IEAA), campus do interior da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), localizado no município de Humaitá-Amazonas. O programa inicia sua primeira seleção no final de 2016 com início do semestre em março de 2017.
Nesta primeira turma de aprovados estava a presente autora deste relato, ainda sem ter colado grau e finalista do curso de Licenciatura em Pedagogia do mesmo instituto, mas que enxergava naquela possibilidade o caminho para a qualificação profissional. Afinal, para quem nasce, cresce e desenvolve em territórios do interior do Amazonas, compreende e vive a força das políticas públicas educacionais em múltiplos contextos de exclusão.
A possibilidade de cursar um mestrado em um município do interior do Amazonas ainda hoje é uma realidade inacessível para os profissionais existentes nos 61 municípios, visto que, metade da população total do estado reside na Capital (Manaus). Diante disto, o PPGECH possui a relevância de impulsionar a pesquisa a partir das identidades, processos formativos e saberes experenciais de quem vive e pesquisa no mesmo território.
O ingresso no Programa de Pós-Graduação teve grande influência em minha orientação profissional, de modo que, viabilizou minha entrada no mercado de trabalho como professora substituta na Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Durante quase dois anos de atuação no Ensino Superior, pude iniciar minha carreira docente em um ambiente acadêmico que ampliou minha forma de perceber as nuances da formação de professores em múltiplos contextos da Amazônia. Em sequência, novas possibilidades se abriram na Educação Básica do município de Humaitá, onde, já titulada como mestre, exerci funções docentes em diferentes etapas e modalidades da educação: Educação Infantil, Anos Iniciais do Ensino Fundamental e Educação Especial. Essa diversidade de experiências fortaleceu minha prática pedagógica e minha identidade profissional, evidenciando o impacto direto da formação stricto sensu na ampliação dos espaços de atuação docente no interior da Amazônia.
Além disso, reconheço que o PPGECH exerceu papel decisivo na transformação da minha trajetória profissional e acadêmica. A formação recebida no programa foi fundamental para minha aprovação, em 2021, no doutorado do Programa de Pós-Graduação em Educação na Amazônia (PGEDA/EDUCANORTE/UFAM), culminando na obtenção do título de doutora em 2025. Em continuidade a esse percurso, fui nomeada, em 2023, como professora efetiva da Universidade Federal do Amazonas, por meio de concurso público, consolidando minha inserção na carreira docente do Ensino Superior.
Hoje, ao relatar minha construção identitária docente, ressalto o PPGECH como propulsor do meu destino e transformador da minha realidade. De modo que, ingressei no mestrado ainda saindo da graduação então, não tive experiências profissionais sem a formação recebida no programa. Desde a inserção no mercado de trabalho como professora universitária substituta até o presente momento como professora universitária efetiva, o PPGECH emerge em minha narrativa docente como o percurso formativo responsável pela ascensão social de muitos professores do interior do Amazonas, possibilitando a formação de nível de pós-graduação na região do Sul do Amazonas e ampliando os contextos de atuação de seus egressos.
Desta forma, o Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Humanidades, ao se consolidar no município de Humaitá, rompe com a lógica centralizadora da formação acadêmica e promove a valorização dos saberes locais, das trajetórias docentes e das territorialidades amazônicas. Ao possibilitar o acesso à formação avançada sem a necessidade de deslocamento para os grandes centros urbanos, o PPGECH amplia horizontes profissionais, fomenta a produção científica situada e fortalece a identidade docente de seus egressos.
Contudo, falar de pós-graduação no interior do Amazonas é comunicar o anseio de quem deseja possuí-la, além de alimentar o poder da pesquisa nas múltiplas territorialidades que compõem a Amazônia amazonense. Mais do que um curso de mestrado, o programa se configura como um espaço de resistência, pertencimento e emancipação, reafirmando que a interiorização da pós-graduação é uma política essencial para a equidade educacional e para o desenvolvimento sustentável da/na Amazônia.
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