A biotecnologia tem acompanhado a espécie humana há muito tempo, mesmo antes da noção que seres vivos participavam dos processos. Cita-se a fermentação na produção do pão e bebidas como exemplo clássico de biotecnologia. Com o passar do tempo, seguindo o desenvolvimento da sociedade e da ciência, novas técnicas surgiram e trouxeram com elas várias aplicações. A partir da década de 70, técnicas de edição do DNA viraram uma tendência e, com cada vez maior conhecimento sobre biologia molecular e genética, mais refinadas e complexas essas técnicas se tornam. Em 2012, Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna, ao estudarem o sistema imunológico bacteriano, propuseram uma nova técnica de engenharia genética capaz de modificar qualquer sequência genética de forma guiada: o sistema CRISPR-Cas9 (Clustered Regularly-Interspaced Short Palindromic Repeat, CRISPR-Associated Proteins 9). As Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas correspondem a uma região específica no cromossomo bacteriano. Quando um vírus ataca uma célula, ele insere seu material genético nesta. O sistema de defesa da bactéria capta esse DNA e o insere à região CRISPR. Esta informação fica impressa no DNA da bactéria e é passada geracionalmente. Já a Cas9 é uma enzima de restrição associada a esta região. Esta classe de enzimas tem a capacidade de cortar o DNA em determinadas partes. Muitas dessas enzimas já são conhecidas e usadas na engenharia genética, mas nenhuma é como a Cas9, que pode ser guiada como por GPS. Neste caso, o GPS é um RNA correspondente à sequência do material genético viral capturado e produzido no CRISPR, que se acopla à enzima Cas9 e, a partir daí, lerá todo o genoma, cortando o DNA correspondente ao RNA e neutralizando assim o vírus. Com a capacidade científica de criar-se uma sequência de RNA sintética em laboratório, a partir do DNA, ficou viável o potencial de uso desta tecnologia. Este trabalho teve como objetivo fazer uma revisão sobre o CRISPR-Cas9, indicando seu funcionamento e suas implicações medicinais, morais e éticas. Para a elaboração desta pesquisa teórica foram utilizados artigos científicos relacionados às cientistas propositoras da técnica e demais autores de referência em anos mais recentes. A pesquisa também foi enriquecida com discussões registradas em disciplina afim, Genética Humana, na Universidade do Estado da Bahia. A CRISPR-Cas9 é uma técnica com potencial revolucionário, capaz de curar doenças causadas por mutações, como a anemia falciforme; capaz de revolucionar os tratamentos imunoterápicos; apagar doenças hereditárias e aumentar o índice de sucesso de transplantes. Contudo, abre também brechas para questões éticas que incluem os chamados bebês projetados, possibilitando a alteração da diversidade humana, assim como poderia aumentar as já existentes diferenças entre classes sociais. Outra importante questão é o conhecimento limitado sobre o funcionamento dos genes: sabemos a função de alguns, mas existem vários genes que atuam em poligenia, o que a longo prazo poderia ter desdobramentos imprevisíveis nas proles. Novas técnicas mais aprimoradas começam a surgir, mas a questão vai permanecer. A responsabilidade do cientista com ética passa a ser cada vez mais decisiva para o futuro da humanidade.
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