Centro Cultural Ocupa Ouvidor: Rupturas e reexistências através da arte em uma ocupação no centro urbano/SP.

  • Autor
  • Everton Vitor Pontes da Silva
  • Co-autores
  • Natalia Francisca da Silva
  • Resumo
  • Palavras-chave
  • Ocupa Ouvidor; Ocupação; Arte Urbana; Reexistência; Gentrificação.
  • Área Temática
  • Eixo 2 – Música, culturas e territórios
Voltar Download

14º Encontro Internacional de Música e Mídia

Compassos, Passos, Espaços: os lugares da música.

Escola de Música e Tecnologia

São Paulo/SP

11 a 13 de setembro, 2018

 

"O silêncio desses espaços infinitos me apavora"... A inquietante frase de Pascal, n’Os Pensamentos, está relacionada à nova ordem do universo, no século XVII, que abandonava o geocentrismo para adotar o heliocentrismo. Rompia-se um pensamento que dividia o mundo em duas partes: “dos céus” (superior) e “da Terra” (inferior, corruptível). Abalavam-se as crenças instituídas pela Igreja. A partir de então, o mundo fechado celeste, que se acabava, tornando-se gigante, infinito... Como bem já é bem sabido, a partir daí o mundo passou a ser percebido e sentido sob outros contornos.

Há séculos verificamos que tanto os conceitos como as percepções de tempo e espaço expandem os seus limites, despertando a curiosidade e dando origem a preocupações importantes no domínio da ciência e da arte. Pensando no caso muito particular das formas de criação, apreciação e performance musical, verificamos que estas dimensões espaço-tempo passaram, ao longo dos séculos, por diferentes formas de concepção. No que diz respeito à composição musical, espaço tornou-se, paulatinamente, um parâmetro, dando origem a outras categorias (ambiente, paisagens sonoras, etc.). Aos poucos, a apreciação estética foi, igualmente, condicionada aos diversos meios técnicos que surgiram (dispositivos, locais de escuta, territórios sonoros) e suas possibilidades de uso. Estas mesmas condições implicariam em mudanças na performance (um drama a três, diria Zumthor) em caráter irreversível.

Sob outro aspecto, o espaço desdobra sua dimensão física em simbólica, esquadrinhando-se em lugares e territórios. Músicas, práticas e repertórios, estão circunscritos à sua capacidade de propagação e aos grupos que os produzem, configurando comunidades acústicas. Para o geógrafo Milton Santos, o espaço possibilita a construção de territórios: praticados, vividos, disputados. Suas construções de sentido são pautadas pelos usos e apropriações que os grupos e sujeitos fazem, num complexo elaborado entre fixos e fluxos.

Na contemporaneidade, o espaço não se concebe, pois, como referencial fechado, mas permeado por for fluxos locais e globais e sentidos de cosmopolitismo. O espaço passa a ser considerado como campo de possibilidades porque locus de inter-relações, encontros, circulações e processos sempre dinâmicos e inacabados.

Numa outra direção, o universo acústico entra em colisão com a comunidade espacial. As principais tentativas de solução se restringem à elaboração de leis para delimitar a invasão do ruído, sendo o espaço fechado a rota de fuga do barulho presente nos ambientes ao ar livre.

Muitos destes temas foram publicados em livro pelo compositor R. Murray Schafer, há 40 anos, para quem o mundo é uma grande composição. Ao publicar o livro, os espaços e vias de circulação dos eventos sonoros estavam, segundo Schafer, bastante congestionados. Ainda assim, outras formas de produção e circulação do som ainda estariam por vir... Também na década de 1970, Henri Lefebvre em seu O direito à cidade, propunha uma concepção de cidade não determinada pelo poder e planejamento dos planejadores, mas aonde o cotidiano dos habitantes tivesse lugar fundamental na formulação do viver urbano.

O 14º Encontro Internacional de Música e Mídia convida interessados em debater e estudar temas relacionados a interface música/espaço em múltiplas abordagens. Dada a sua amplitude, propomos uma divisão em três eixos, como relacionamos, abaixo:

 

Eixo 1 - Estéticas composicionais e modos de escuta:

 

Historicamente, verifica-se que ao longo dos séculos a população mundial somente cresceu, levando à expansão de povoados a grandes metrópoles. A vida no campo igualmente cedeu lugar à cidade, compactando o espaço urbano. Tais modificações trouxeram sensíveis mutações na constituição do(s) espaço(s) mas, sobretudo, nas formas de sensibilidade das dimensões físicas do espaço: distância, extensão, tempo tornam-se escalas de diferentes padrões. Traçando e percorrendo trajetos, as pessoas se comunicam sonora e musicalmente com suas vozes, passos e máquinas, deixando sua marca (sonora) no caminho. Este eixo pretende reunir trabalhos que se preocupem com a planificação e apropriação poética do espaço físico, possibilitando a composição e reconfiguração de paisagens sonoras e musicais; como a arquitetura das edificações possibilita, limita, conforma a sensibilidade da escuta e sua performance: do palco teatral, ao estádio esportivo; do estúdio de gravação à transmissão por satélites; ainda: como os processos de criação musical se ampliam com artefatos de natureza artística, como jardins sonorizados, instalações urbanas, móbiles e esculturas.

 

Eixo 2 – Música, culturas e territórios:

Este eixo se dedica a reunir e discutir trabalhos que relacionem a música e as práticas musicais às noções de uso e apropriação dos espaços, pensados não só pelas elaborações impostas pelos poderes (ideológicos, políticos, urbanísticos), mas nos seus usos e apropriações pelos sujeitos, configurando territorialidades e produção de sentidos de lugar. (Re)invenção de territórios urbanos, construção de lugares da memória, políticas públicas e espaços, formas de articulação corporalidades/performances/espaços, processos de (des)(re)territorialização, imaginários ligados às espacialidades, usos e disputas pelos lugares da cidade, noções de criatividade/inovação ligadas às urbes, são alguns dos temas que, articulados à música e suas práticas, serão aqui contemplados.

 

Eixo 3 - Projetos urbanísticos, arquitetônicos e poéticas criativas:

Os pontos apresentados acima pleiteiam, além das discussões teóricas, proposições e iniciativas. Este eixo agrega propostas votadas à experimentação e práticas que envolvam as relações entre paisagens e territórios, ambiente e arquitetura, em suas concepções construtivas, sob o aspecto artístico ou funcional: intervenções urbanas, instalações, projetos acústicos etc.

 

Comissão Organizadora

Heloísa de Araújo Duarte Valente

Ricardo Santhiago

Raphael Fernandes Lopes Farias

Everton Vitor Pontes

 

Comissão Científica

Heloisa Valente

João Marcelo Brás

Juliano Oliveira

Juliano Pita

Laan Mendes de Barros

Lina Noronha

Marcel de Oliveira

Marcos Júlio Sergl

Rafael Righini

Ricardo Santhiago

Sandro Figueredo

Simone Luci Pereira

Wlad Mattos

Coordenação:

musimid@gmail.com

 

Secretaria:

rapharias20@gmail.com