14º Encontro Internacional de Música e Mídia
"O silêncio desses espaços infinitos me apavora"... A inquietante frase de Pascal, n’Os Pensamentos, está relacionada à nova ordem do universo, no século XVII, que abandonava o geocentrismo para adotar o heliocentrismo. Rompia-se um pensamento que dividia o mundo em duas partes: “dos céus” (superior) e “da Terra” (inferior, corruptível). Abalavam-se as crenças instituídas pela Igreja. A partir de então, o mundo fechado celeste, que se acabava, tornando-se gigante, infinito... Como bem já é bem sabido, a partir daí o mundo passou a ser percebido e sentido sob outros contornos.
Há séculos verificamos que tanto os conceitos como as percepções de tempo e espaço expandem os seus limites, despertando a curiosidade e dando origem a preocupações importantes no domínio da ciência e da arte. Pensando no caso muito particular das formas de criação, apreciação e performance musical, verificamos que estas dimensões espaço-tempo passaram, ao longo dos séculos, por diferentes formas de concepção. No que diz respeito à composição musical, espaço tornou-se, paulatinamente, um parâmetro, dando origem a outras categorias (ambiente, paisagens sonoras, etc.). Aos poucos, a apreciação estética foi, igualmente, condicionada aos diversos meios técnicos que surgiram (dispositivos, locais de escuta, territórios sonoros) e suas possibilidades de uso. Estas mesmas condições implicariam em mudanças na performance (um drama a três, diria Zumthor) em caráter irreversível.
Sob outro aspecto, o espaço desdobra sua dimensão física em simbólica, esquadrinhando-se em lugares e territórios. Músicas, práticas e repertórios, estão circunscritos à sua capacidade de propagação e aos grupos que os produzem, configurando comunidades acústicas. Para o geógrafo Milton Santos, o espaço possibilita a construção de territórios: praticados, vividos, disputados. Suas construções de sentido são pautadas pelos usos e apropriações que os grupos e sujeitos fazem, num complexo elaborado entre fixos e fluxos.
Na contemporaneidade, o espaço não se concebe, pois, como referencial fechado, mas permeado por for fluxos locais e globais e sentidos de cosmopolitismo. O espaço passa a ser considerado como campo de possibilidades porque locus de inter-relações, encontros, circulações e processos sempre dinâmicos e inacabados.
Numa outra direção, o universo acústico entra em colisão com a comunidade espacial. As principais tentativas de solução se restringem à elaboração de leis para delimitar a invasão do ruído, sendo o espaço fechado a rota de fuga do barulho presente nos ambientes ao ar livre.
Muitos destes temas foram publicados em livro pelo compositor R. Murray Schafer, há 40 anos, para quem o mundo é uma grande composição. Ao publicar o livro, os espaços e vias de circulação dos eventos sonoros estavam, segundo Schafer, bastante congestionados. Ainda assim, outras formas de produção e circulação do som ainda estariam por vir... Também na década de 1970, Henri Lefebvre em seu O direito à cidade, propunha uma concepção de cidade não determinada pelo poder e planejamento dos planejadores, mas aonde o cotidiano dos habitantes tivesse lugar fundamental na formulação do viver urbano.
O 14º Encontro Internacional de Música e Mídia convida interessados em debater e estudar temas relacionados a interface música/espaço em múltiplas abordagens. Dada a sua amplitude, propomos uma divisão em três eixos, disponíveis aqui.
11 de setembro de 2018, 10h00 até 13 de setembro de 2018, 19h30
EM&T - Escola de Música e Tecnologia - Avenida Engenheiro George Corbisier, 100. Ao lado da estação de metrô Conceição, saída pelo Terminal de ônibus, "saída B"., Bairro Jabaquara, São Paulo - São Paulo
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