Os Tardigrada são animais bilaterais microscópicos, que apresentam tamanho que varia de 50 a 1200 µm de comprimento, corpo segmentado, coberto com uma fina cutícula quitinosa e 4 pares de pernas que podem apresentar garras ou discos adesivos. São conhecidos, entre outras coisas, pela habilidade de entrar em diversos tipos de estados de dormência, coletivamente chamados de criptobiose. Esse mecanismo permite que esses animais sobrevivam a condições extremas, tais como altas e baixas temperaturas, altas doses de radiação e vácuo do espaço. Por causa desta habilidade, são excelentes modelos para estudos fisiológicos, farmacêuticos, astrobiólogicos, ecológicos ou sistemáticos. Os tardigrados habitam os mais variados ambientes, como água doce, marinha e até terrestre, neste último caso associados aos musgos ou serapilheira.
Por habitarem essa diversidade de ambientes, os protocolos de coleta, armazenamento e triagem divergem para cada um deles. Em tardigrados limnoterrestres por exemplo, esse método consiste na coleta de musgo por raspagem da casca da árvore, ou ambiente onde o musgo se encontra, e armazenamento deste conteúdo em um saco de papel para transporte. Esse método permite que a amostra desidrate lentamente, possibilitando que os animais entrem em anidrobiose (criptobiose por falta de água). Entretanto, ao entrarem neste estado de dormência, sua identificação durante a triagem fica muito prejudicada, pois o indivíduo perde todas as características que facilitam sua distinção. Por esse motivo, o musgo deve ser reidratado em laboratório, normalmente em água destilada ou água mineral para que o animal volte à condição ativa. Esse procedimento permite que os animais possam ser triados e separados, pois possibilita a quebra de sua criptobiose. Porém esse método, muitas vezes, pode resultar no aparecimento da condição de anoxibiose (criptobiose por falta de oxigênio), um estado em que é possível identificar as características morfológicas, mas os organismos não estão ativos, o que ainda pode dificultar a triagem.
O presente trabalho buscou testar dois tipos de tratamento para a reidratação de tardigrados limnoterrestres. Um deles usando água destilada, e outro utilizando água destilada previamente aerada por 48 horas, utilizando uma bomba de aquário com vazão de 4L/min e pressão de 0,10 MPa. Nossa hipótese é que, com o uso de uma água que sofreu um processo de aeração, aumenta as chances dos tardigrados retornarem para sua fase ativa (voltaram à atividade), aumentando a eficiência da identificação dos espécimes
Para isso foram feitas coletas de musgos em seis árvores diferentes da cidade de Campinas/SP, três em um pequeno bosque (Bosque dos Italianos) no dia 17 de março de 2025, três em área urbana (Av. Dr. Romeu Tórtima – Barão Geraldo) no dia 12 de abril de 2025. Em cada árvore foi coletada duas amostras de 8,8 cm2 de musgo a 1,5 m de altura, utilizando uma ferramenta de remoção do súber da árvore, totalizando 17,6 cm2 por árvore e 52,8 cm2 por localidade. Todas as amostras foram armazenadas em um saco de papel para transporte e secagem. No laboratório seis amostras (uma por árvore) foram separadas para o tratamento com água destilada e seis para o tratamento com a água aerada. Para a reidratação, cada amostra foi colocada em um becker com o respectivo tratamento por 8 horas, depois o conteúdo foi transferido para uma proveta e mexido para separar os tardigrados e o musgo do súber, deixado para decantar por uma hora, então sobrenadante foi descartado e o material decantado foi transferido para uma placa de petri para ser triado sob um estereomicroscópio Zeiss Stemi508 por 5 horas. Os tardigrados encontrados foram contados e caracterizados como ativos ou anoxibiose. Após a triagem e contagem, um teste Anova foi feito para o teste de hipótese utilizando a linguagem R no ambiente RStudio.
Nas amostras coletadas no bosque, foram encontrados 55 tardigrados inativos e 26 tardigrados ativos com o tratamento com água destilada e 26 inativos e 7 ativos com o tratamento com água aerada. Já nas amostras coletadas na avenida Dr. Romeu Tórtima foram encontrados 68 tardigrados inativos e 74 ativos com o tratamento em água destilada e 63 inativos e 39 ativos com o tratamento em água aerada. Apesar dos números brutos apontarem para uma conclusão de que a aeração prejudicaria a triagem e a amostragem, os resultados dos testes estatísticos mostraram que não há diferenças significativas entre os dois tratamentos. Portanto, o processo de aeração da água utilizada para a quebra do estado de dormência não foi relevante para o processo de triagem de tardigrados limnoterrestres. Apesar de não ser o objetivo do presente trabalho pode-se mencionar que o principal fator que impactou o número de indivíduos foi a localidade onde os animais foram coletados, sendo que o ambiente urbano teve uma abundância maior que o ambiente de bosque.
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