Estudo in vitro do efeito da suplementação com leucina e extrato hidroetanólico de acerola (Malpighia emarginata DC.) na modulação dos efeitos da caquexia do câncer.

  • Autor
  • Gabriella Gonçalves da Silva Rezende
  • Co-autores
  • Ianca Carneiro Ferreria , Bruno Sergio Maia Madeira , Marcos José Salvador , Maria Cristina Cintra Gomes Marcondes
  • Resumo
  • O câncer representa a segunda principal causa de mortes no mundo, com número crescente de novos casos a cada ano (WHO, 2022). Um dos efeitos adversos associados à progressão tumoral é a caquexia, uma síndrome multifatorial que pode acometer até 80% dos pacientes, a depender da classificação e estágio da neoplasia (Siegel et al., 2023; Baracos et al., 2018). Essa condição é caracterizada principalmente pela perda de massa muscular esquelética, comprometendo diversas vias metabólicas, ativando a apoptose e reduzindo a capacidade regenerativa do tecido (Fearon et al., 2010). Diante disso, o músculo esquelético torna-se um alvo terapêutico prioritário, visto que sua preservação é essencial para a manutenção da função física, qualidade de vida e prognóstico dos pacientes oncológicos.

    Além das abordagens convencionais no tratamento do câncer, estratégias coadjuvantes têm sido amplamente estudadas para atenuar os efeitos deletérios da caquexia. A leucina, aminoácido essencial de cadeia ramificada, destaca-se por sua capacidade em ativar a síntese proteica e o metabolismo energético através da via mTORC1, favorecendo a manutenção da massa muscular (Duan et al., 2016; Manifava et al., 2016). Paralelamente, compostos bioativos presentes na acerola (Malpighia emarginata DC), como ácido ascórbico e polifenóis — incluindo antocianinas, flavononas e flavonóis — têm sido investigados devido às suas propriedades antioxidantes e ao potencial em modular vias metabólicas, prevenindo danos celulares causados pelo estresse oxidativo (Abuajah et al., 2015; Ferreira et al., 2021; Nascimento et al., 2018). Considerando que o microambiente tumoral apresenta desequilíbrio redox e aumento da produção de espécies reativas de oxigênio (EROs) (Deberardinis & Chandel, 2016), o emprego de antioxidantes naturais representa uma alternativa promissora para a terapia adjuvante.

    Neste contexto, o presente estudo propõe a hipótese de que o suplemento dietético contendo leucina e extrato hidroetanólico de acerola (EHA) pode proporcionar benefícios no contexto da caquexia associada ao câncer. Para tanto, foi realizada a caracterização química do EHA, seguida de análises in vitro sobre a viabilidade, proliferação, estresse oxidativo e perfil metabolômico de células mioblásticas L6. A acerola utilizada (variedade BRS Sertaneja) foi cultivada no Campo Experimental de Bebedouro da Embrapa Semiárido (Petrolina, PE), em clima semiárido tropical (BSh). Os frutos maduros foram submetidos à extração com solução hidroetanólica (70:30, etanol:água) em banho ultrassônico e os compostos fenólicos foram quantificados por HPLC-DAD, enquanto o teor de ácido ascórbico foi determinado pelo método de Tillman.

    As células L6 foram cultivadas em placas de 96 e 12 poços para diferentes análises e tratadas com leucina, EHA ou a combinação de ambos, por 24 horas (viabilidade) e 72 horas (proliferação, estresse oxidativo e metabolômica), com renovação diária dos tratamentos. Para simular o ambiente caquético, utilizou-se líquido ascítico (10% no meio de cultura) proveniente de ratos Wistar portadores do tumor de Walker 256, modelo clássico para estudos de caquexia. A viabilidade celular foi avaliada pelos ensaios MTT e Vermelho Neutro (VN), enquanto a proliferação foi mensurada pela contagem celular em câmara de Neubauer. O estresse oxidativo foi estimado pela quantificação de glutationa reduzida (GSH), atividade da glutationa S-transferase (GST) e da fosfatase alcalina. Por fim, o perfil metabolômico foi obtido por espectroscopia de ressonância magnética nuclear (RMN) e analisado no software Chenomx®.

    Os resultados indicaram que a leucina não provocou efeitos citotóxicos, mantendo a viabilidade celular similar ao controle, e estimulou a proliferação celular, aumentando em 1,6 vezes o número de células. Por outro lado, o EHA apresentou citotoxicidade dose-dependente nas concentrações elevadas (2000, 3000 e 4000 ?g/mL), especialmente no ensaio VN. A presença do líquido ascítico reduziu significativamente a viabilidade e a proliferação celular, confirmando seu impacto deletério. A combinação de leucina e EHA em ambiente com líquido ascítico (AEL) minimizou esses efeitos, atenuando a redução da proliferação (63%) em comparação ao líquido ascítico isolado (decréscimo em 86%).

    No que concerne ao estresse oxidativo, os níveis de GSH permaneceram estáveis entre os grupos, porém a atividade da GST aumentou significativamente no grupo tratado com a combinação AEL em relação ao controle e à leucina isolada, sugerindo resposta antioxidante potencializada pela associação dos compostos. A análise metabolômica revelou alterações importantes, especialmente no metabolismo energético e na proteólise, impactando as vias do metabolismo da alanina, da fenilalanina e do ciclo do ácido tricarboxílico. Foi observada elevação do lactato nos grupos com líquido ascítico, com maior aumento no grupo tratado em comparação ao controle, indicando intensa glicólise anaeróbica, em resposta ao efeito tumoral. A glicose apresentou redução no grupo tratado, corroborando seu maior consumo. O aumento do fumarato também sugeriu ativação parcial do ciclo de Krebs. Em relação à proteólise, metabólitos relacionados ao catabolismo proteico, como creatinina, ?-metilhistidina e glutamato, apresentaram níveis reduzidos no grupo tratado frente ao grupo ascítico, sugerindo possível efeito protetor da suplementação na inibição da degradação muscular.

    Em síntese, a leucina demonstrou perfil de segurança e potencial terapêutico ao promover a proliferação celular, enquanto o extrato hidroetanólico de acerola (EHA) evidenciou citotoxicidade em concentrações elevadas. A exposição ao líquido ascítico reproduziu fielmente os danos patológicos característicos da caquexia, ao passo que a associação da leucina com o EHA evidenciou efeito protetor parcial, refletido na preservação da proliferação celular e no incremento da capacidade antioxidante. 

  • Palavras-chave
  • Caquexia, Acerola, Leucina
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