Diversidade de espécies de aranhas Mygalomorphae na Serra do Espinhaço

  • Autor
  • Analice Gabrielle Marquezin Gomes
  • Co-autores
  • Arthur Galleti Lima , Rafael Fonseca Ferreira , Pedro Henrique Martins , Victor M. Ghirotto , Rafael Prezzi Indicatti , Antônio Domingos Brescovit , José Paulo Leite Guadanucci
  • Resumo
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    A Serra do Espinhaço (SE) é a segunda maior cadeia de montanhas do Brasil, com 1200km de extensão e até 2000m de altitude. É formada por quatro grandes unidades orográficas disjuntas, o Quadrilátero Ferrífero e o Espinhaço Meridional, em Minas Gerais, e o Espinhaço setentrional e a Chapada Diamantina, na Bahia. A SE está no ecótono das fitofisionomias da Mata Atlântica (leste), do Cerrado (oeste e sul) e da Caatinga (norte), bem como a presença de campos rupestres acima de 900m de altitude, que funcionam como área de transição ou refúgio. A SE apresenta um perfil de biodiversidade único, com níveis excepcionais de endemismo, apesar de gravemente ameaçado, muito por ações antrópicas. Essas características tornam a SE em um dos hotspots mais críticos do Brasil.

    A infraordem Mygalomorphae é uma linhagem monofilética de aranhas, representadas pelas caranguejeiras, aranhas de alçapão, teia de funil e lençol. Das 31 famílias de Mygalomorphae, 12 tem registro no Brasil: Actinopodidae Simon, 1892, Barychelidae Simon, 1889, Dipluridae Simon, 1889, Halonoproctidae Pocock, 1901, Idiopidae Simon, 1889, Ischnothelidae F.O. Pickard-Cambridge, 1897, Mecicobothriidae Holmberg, 1882, Microstigmatidae Roewer, 1942, Paratropididae Simon, 1889, Pycnothelidae Chamberlin, 1917, Rhytidicolidae Simon, 1903 e Theraphosidae Thorell, 1869. A riqueza de aranhas Mygalomorphae na Serra do Espinhaço ainda é desconhecida, dados poucos estudos de diversidade, em especial de invertebrados, na região. Baseado nas expedições de coleta do Laboratório de Aracnologia de Rio Claro (LARC – Universidade Estadual Paulista) e do Instituto Butantan, registros em coleções zoológicas e da literatura, o presente trabalho apresenta a primeira lista taxonômica de Mygalomorphae na Serra do Espinhaço. Dado o estado de hotspot de biodiversidade, esta lista contribui não somente para a taxonomia e sistemática desse grupo, mas também para futuros planos de conservação na SE.

    Material e métodos

    As expedições foram realizadas nas porções do Espinhaço Meridional, em Minas Gerais, e da Chapada Diamantina, na Bahia. As coletas no Espinhaço Meridional incluem quatro localidades: Parque Nacional (PARNA) da Serra do Cipó, Santana do Riacho - MG, Conceição do Mato Dentro, Diamantina, e Lapinha da Serra, Santana do Riacho - MG. Na Chapada Diamantina, foram 10 localidades: Barra da Estiva - BA, Mucugê - BA, Igatu, Andaraí - BA, Vale do Pati/PARNA Chapada Diamantina, Guiné, Mucugê - BA, Palmeiras - BA, Morro do Chapéu - BA, Camirim, Morro do Chapéu - BA, Riacho do Mel, Iraquara - BA e Iraquara - BA. Os espécimes coletados foram preservados em álcool 70%, identificados e depositados na Coleção Aracnológica Diamantina (CAD), Unesp, Rio Claro-SP. Foram consultados trabalhos de descrição e revisão de 1985 a 2024, disponíveis no sítio eletrônico World Spider Catalog. As espécies com registro de ocorrência na SE foram organizadas em planilhas, com os nomes científicos devidamente corrigidos e atualizados.

    Resultados

    Nos registros da literatura e da CAD, foram recuperadas 42 espécies, de 27 gêneros representantes de oito famílias, sendo Theraphosidae a mais diversa entre as famílias (57% das espécies listadas) 24. Em Actinopodidae, seis espécies possuem ocorrência na SE (Actinopus rufipes (Lucas, 1834), A. azaghal Miglio, Pérez-Miles & Bonaldo, 2020, A. bocaina Miglio, Pérez-Miles & Bonaldo, 2020, A. itacolomi Miglio, Pérez-Miles & Bonaldo, 2020, A. Pampulha Miglio, Pérez-Miles & Bonaldo, 2020 e A. tutu Miglio, Pérez-Miles & Bonaldo, 2020); em Barychelidae, três espécies (Neodiplothele irregularis Mello-Leitão, 1917, N. martinsi Gonzalez-Filho, Lucas & Brescovit, 2015 e N. aureus Gonzalez-Filho, Lucas & Brescovit, 2015); em Dipluridae, três espécies (Trechona diamantina Guadanucci, Fonseca-Ferreira, Baptista & Pedroso, 2016, Harmonicon candango Wermelinger-Moreira, Castanheira & Baptista, 2024, e uma espécie não determinada de Diplura C.L. Koch, 1850); em Idiopidae, uma espécie (Idiops pirassununguensis Fukami & Lucas, 2005); Ischnothelidae, uma espécie (Ischnothele annulata Tullgren, 1905); em Microstigmatidae, cinco espécies (Tonton            emboaba (Pedroso, Baptista & Bertani, 2015), Tonton itabirito Passanha, Cizauskas & Brescovit, 2019, Tonton matodentro Passanha, Cizauskas & Brescovit, 2019, Tonton   queca Passanha, Cizauskas & Brescovit, 2019, Tonton sapalo Passanha, Cizauskas & Brescovit, 2019); em Pycnothelidae, cinco espécies (Pycnothele rubra Passanha, Indicatti, Brescovit & Lucas, 2014; Lycinus sp., Pselligmus sp., Rachias sp. e Stenoterommata sp.); e em Theraphosidae, 24 espécies (Acanthoscurria gomesiana Mello-Leitão, 1923, Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917, Avicularia taunayi (Mello-Leitão, 1920), Catanduba flavohirta (Simon, 1889), Crypsidromus nondescriptus (Mello-Leitão, 1926), Crypsidromus multicuspidatus (Mello-Leitão, 1929), Dolichothele exilis Mello-Leitão, 1923, Dolichothele diamantinensis (Bertani, Santos & Righi, 2009), Dolichothele mineirum (Guadanucci, 2011), Dolichothele rufoniger (Guadanucci, 2007), Iridopelma katiae Bertani, 2012, Lasiocyano sazimai (Bertani, Nagahama & Fukushima, 2011), Lasiodora benedeni Bertkau, 1880, Lasiodora franciscana Bertani, 2023, Lasiodora sertaneja Bertani, 2023, Pachistopelma sp., Parvicarina felipeleitei (Bertani & Leal, 2016), Plesiopelma minense (Mello-Leitão, 1943), Tmesiphantes hypogeus Bertani, Bichuette & Pedroso, 2013, Tmesiphantes nordestinus Fabiano-da-Silva, Guadanucci & DaSilva, 2019, Tmesiphantes nubilus Simon, 1892, Tmesiphantes perp Guadanucci & Silva, 2012, Tmesiphantes riopretano Guadanucci & Silva, 2012, Typhochlaena paschoali Bertani, 2012).

     

    Discussão

    A Serra do Espinhaço é uma área de grande diversidade famílias e espécies de Mygalomorphae. Identificamos 12 espécies de Mygalomorphae com registros de ocorrência apenas na SE: Crypsidromus nondescriptus, Dolichothele diamantinensis, Iridopelma katiae, Lasiocyano sazimai, Parvicarina felipeleitei, Tmesiphantes hypogeus, Tmesihantes riopretano, Tonton emboaba, Tonton itabirito, Tonton matodentro, Tonton sapalo e Trechona diamantina. Dentre elas, três estão formalmente ameaçadas de extinção: Dolichothele diamantinensis (em perigo – EM), Lasiocyano sazimai (vulnerável - VU) e Tmesiphantes hypogeus (criticamente em perigo – CR). Complementarmente, existem 12 novas espécies de Pycnothelidae a serem descritas e poderão ser inclusas nesta lista posteriormente. Apesar da SE apresentar diversas Unidades de Conservação (UC) nacionais e estaduais, essa região permanece ameaçada pela antropização causada especialmente pela perda de hábitat. Trabalhos de levantamento e listagem da biodiversidade de táxons são importantes fontes de dados para estudos de biogeografia e para projetos de conservação do habitat. Além disso, são indicadores de áreas com poucos registros de coleta, como a porção do Espinhaço Setentrional que, baseado do presente trabalho, não apresenta registos para Mygalomorphae. Para além da importância de realizar o levantamento da diversidade de invertebrados na Serra do Espinhaço, trabalhos como esse fazem-se cada vez mais necessários para o registro da existência da biodiversidade da região, dado o estado de vulnerabilidade desse ecótono ímpar frente ao avanço das mudanças climáticas e antropização dos habitats.

     

     

  • Palavras-chave
  • ecótono, endemismo, Araneae
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Comissão Organizadora

Estudantes de biologia da Universidade Estadual de Campinas. 

 

 

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