Introdução:
O Cerrado é a savana mais biodiversa do mundo e berço de diversas bacias hidrográficas brasileiras. Nos últimos anos, a expansão agropecuária tem levado a perda e a fragmentação de suas áreas naturais. Esse processo tem provocado uma ameaça a biodiversidade do bioma, pelo decréscimo de habitats para os organismos. A fragmentação dos habitats resulta na formação de fragmentos menores de vegetação natural, cercados por áreas antropizadas chamadas de matriz. Assim, com o isolamento dos fragmentos pela matriz, os indivíduos sofrem de diversos desafios, como: o isolamento genético das populações e maior permissibilidade da matriz, gerando uma maior vulnerabilidade à invasão por espécies exóticas generalistas.
Portanto, entender os níveis de fragmentação e em que locais os fragmentos estão presentes, é fundamental para um planejamento de conservação dessa biodiversidade isolada, criando conexões entre os fragmentos, como na criação de “steeping stones” e corredores ecológicos estratégicos. Diante disso, este trabalho analisou a região do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (PNCV), uma unidade de conservação reconhecida como patrimônio natural da humanidade pela UNESCO, com importância fundamental na preservação da biodiversidade e fisionomias do Cerrado. Apresentamos de forma visual a heterogeneidade da paisagem do PNCV, utilizando de imagens de satélite disponibilizadas gratuitamente, evidenciando áreas com diferentes níveis de fragmentação da cobertura natural.
Metodologia e Resultados:
Inicialmente, sobrepusemos uma malha de células de 10x10 km ao PNCV e seus arredores. Utilizamos o mapa de fitofisionomias do Cerrado do trabalho “Mapping native and non?native vegetation in the Brazilian Cerrado using freely available satellite products” (Kennedy et al., 2020), com autorização da autora Kennedy Lewis e colaboração de Guilherme G. Mazzocini. A partir desses dados, elaboramos um mapa de Falsa Cor com base nas classificações presentes em cada célula da malha. Foram consideradas 14 classes de fisionomias: as classes de 1 a 4 representam áreas antropizadas, e as de 5 a 14 correspondem a vegetações naturais.
Com isso, representamos visualmente um gradiente de fragmentação: tons de vermelho indicam maior presença de áreas antropizadas, enquanto tons de azul indicam predominância de vegetações naturais. Áreas intermediárias no gradiente indicam regiões com fragmentos de vegetação nativa cercados por matriz antropizada.
Complementarmente, aplicamos um modelo de classificação supervisionada baseado no algoritmo Random Forest. O Random Forest funciona a partir de um conjunto de dados de treinamento, realizando uma combinação de diversas árvores de decisão, as quais, selecionam a classificação mais provável para um determinado conjunto de variáveis. Para nosso modelo, realizamos o treinamento utilizando imagens do satélite Landsat-8 entre 2023 e 2024. O treinamento foi realizado para classificar três variáveis principais na paisagem: Área antropomorfizada, Vegetação Natural e Água. O resultado foi um segundo mapa com três cores distintas: verde-claro, verde-escuro e azul, representando respectivamente as três classes. O modelo apresentou acurácia superior a 90%, validada por meio de matriz de confusão.
Conclusão:
Nossos resultados evidenciam, de forma clara e visual, os impactos da degradação do Cerrado e da fragmentação do bioma na região da Chapada dos Veadeiros. Destacamos a importância das unidades de conservação, como o PNCV na manutenção da integridade ecológica do Cerrado. Observamos que as áreas com maior degradação estão localizadas fora e mais afastadas do perímetro da unidade de conservação, enquanto as áreas internas ao PNCV mantêm, em sua maioria, fisionomias naturais bem preservadas.
Além disso, identificamos regiões com alto grau de fragmentação, ou seja, áreas que ainda apresentam remanescentes de vegetação nativa, estando imersas em uma matriz antrópica de agricultura ou pastagem. Assim, o mapeamento desses fragmentos é fundamental para subsidiar políticas públicas e estratégias de conservação voltadas à conectividade da paisagem, como a criação de corredores ecológicos e “stepping stones”.
Portanto, compreender a distribuição espacial e o grau de fragmentação em uma escala regional permite mitigar efeitos da fragmentação dos habitats, como a perda de biodiversidade, a redução do fluxo gênico entre populações e o avanço da conversão de áreas naturais em usos antrópicos. Por fim, nossos resultados fornecem subsídios para um planejamento territorial e de conservação do Cerrado, contribuindo diretamente para a mitigação dos efeitos da fragmentação e o fortalecimento de redes de áreas protegidas.
Comissão Organizadora
Estudantes de biologia da Universidade Estadual de Campinas.
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