Avaliação da eficiência de detecção de cães farejadores em função da distância percorrida e do hábitat

  • Autor
  • Pollyanna Dias Moimas
  • Co-autores
  • Francisco Grotta-Neto , José Maurício Barbanti Duarte
  • Resumo
  • Estimativas populacionais consistem em informações fundamentais para a avaliação do status de conservação de espécies e formulação de estratégias de manejo das populações in situ. No entanto, a obtenção de dados populacionais pode ser um desafio para espécies de comportamentos esquivos e crípticos. Essa dificuldade torna imprescindível a adoção de métodos alternativos eficientes e adaptados às condições específicas de cada espécie e tipo de ambiente para garantir dados mais confiáveis e subsidiar políticas de manejo eficazes. A utilização de cães farejadores tem se consolidado como uma ferramenta promissora em pesquisas ecológicas aplicadas, especialmente em estudos que envolvem a detecção de fezes. A elevada sensibilidade olfativa desses animais proporciona taxas de detecção superiores às obtidas por humanos, permitindo um aumento das precisões nos dados obtidos. A combinação de cães farejadores ao método Faecal Standing Crop (FSC) — baseado na contagem de fezes acumuladas em uma determinada área e tempo — tem se mostrado particularmente eficaz nas estimativas populacionais, elevando significativamente a confiabilidade dos resultados. Contudo, a eficiência dos cães farejadores pode variar de acordo com fatores bióticos e abióticos. A vegetação densa em ambientes florestais pode dificultar o deslocamento do cão e a detecção das fezes, enquanto em áreas abertas o vento pode dispersar ou dificultar a concentração de odores. Adicionalmente, a atividade de besouros coprófagos e o tempo de exposição das amostras fecais ao ambiente podem influenciar na degradabilidade e na persistência das fezes no ambiente. Além disso, o esforço físico investido pelo cão na busca afeta diretamente sua fisiologia, reduzindo sua capacidade olfativa empregada para a termorregulação em decorrência da ofegação. Nesse contexto, este estudo teve como objetivos 1) estimar o deslocamento percorrido pelo cão em relação ao trecho do transecto amostrado e 2) avaliar a detectabilidade do cão farejador em função do trecho do transecto amostrado, do tipo de habitat (floresta e campo) e do tempo de exposição (idade) das amostras fecais no ambiente. Nós conduzimos a pesquisa no Campus da UNESP em Jaboticabal-SP, região de Cerrado, entre janeiro e maio de 2025. Selecionamos duas áreas das fitofisionomias florestal e campestre, nas quais se instalaram quatro transectos, sendo dois em cada fitofisionomia, de 400 m cada. Em cada transecto, 20 amostras fecais de veado-catingueiro (Subulo gouazoubira), coletadas em cativeiro, foram distribuídas ao longo do transecto (a cada 20 m) e perpendicularmente ao transecto em diferentes distâncias (0, 5, 10 e 15 m) e em quatro períodos temporais (1, 8, 12 e 14 dias). Após a última deposição, foi realizada a procura por amostras fecais no transecto por um cão farejador treinado para encontrar amostras de cervídeos e equipado com um GPS para estimar sua trajetória. Nós conduzimos a busca em linha reta e velocidade constante, permitindo a livre movimentação do cão. Ao encontrar as amostras, o cão foi recompensado e a busca foi retomada até o fim do transecto. Avaliamos a detectabilidade do cão por meio da razão da quantidade de amostras encontradas pela quantidade de amostras disponíveis no local. A detectabilidade em relação ao trecho de transecto percorrido, ao tipo hábitat e à idade das amostras foram avaliadas, respectivamente, em trechos com cinco classes de distância (a cada 80 m), entre transectos de cada hábitat e entre as amostras com diferentes idades. Para isso, avaliamos o deslocamento do cão e sua detectabilidade em relação ao trecho de transecto amostrado utilizando o teste de Kruskal-Wallis. Adicionalmente, o mesmo teste foi utilizado para avaliar a detectabilidade em relação à idade da amostra fecal. Por fim, avaliamos o efeito do habitat no deslocamento do cão e na detectabilidade das fezes pelo teste de Wilcoxon. O nível de significância que utilizamos foi de 0.05 e todas as análises estatísticas foram realizadas no programa R. O deslocamento médio do cão foi de 226,50 m +/- 71.7 a cada 80 m (trecho) de transecto e não houve diferenças de deslocamento entre os trechos percorridos (p = 0.7) e entre os habitats (p = 0.09). Em contrapartida, a detectabilidade no primeiro trecho apresentou desempenho superior (35%) em comparação aos trechos subsequentes (18.1%; p = 0.005), indicando que o cão possui maior eficiência de detecção até os 80 metros iniciais do transecto. A partir desse ponto, o desempenho tende a diminuir e se estabilizar. Assim, embora o deslocamento do cão continue estável ao longo de todo transecto, a ofegação causada pelo cansaço e esforço físico pode atrapalhar na detecção das amostras fecais após os primeiros 80 metros. Ainda, houve diferença significativa da detectabilidade em relação à idade das amostras (p < 0.001), sendo a maior parte das fezes detectadas aquelas depositadas no mesmo dia da busca, ou seja, fezes frescas (46,6%). A maior detecção de fezes frescas deve-se, possivelmente, ao fato de que fezes mais antigas sofrem degradação por fatores abióticos, como radiação solar e umidade, e bióticos, como atividade microbiana e remoção por coleópteros. Isso afeta diretamente as características físico-químicas e, consequentemente, diminui a dissipação do odor. Concluímos que a eficiência de detecção do cão é influenciada pela idade das amostras e pelo trecho percorrido, mas não pelo tipo de hábitat. Por outro lado, o tipo de habitat e o trecho percorrido não tiveram impacto significativo no deslocamento do cão. Dessa forma, amostragens com cães farejadores podem representar defecações feitas a curto prazo e que as condições físicas do cão podem afetar a eficiência de amostragem, devendo esta ser baseada em transectos de menor extensão.

  • Palavras-chave
  • Ecologia, Conservação, Cervídeos Neotropicais.
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Estudantes de biologia da Universidade Estadual de Campinas. 

 

 

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