Interações mutualísticas e comensais com elasmobrânquios: uma revisão sistemática

  • Autor
  • Ana Clara Barros de Araújo
  • Co-autores
  • Renato Hajenius Aché de Freitas
  • Resumo
  • As interações ecológicas desempenham um grande papel na natureza e estão presentes de diversas formas, podendo envolver benefícios ou malefícios entre indivíduos de espécies diferentes ou da mesma espécie. Simbiose é uma delas e pode ser dividida em três categorias, mutualismo (ambos os indivíduos presentes na interação são beneficiados), comensalismo (um é beneficiado e o outro não se prejudica e nem é beneficiado) e parasitismo (o simbionte utiliza o hospedeiro como fonte de nutrientes e recursos, causando prejuízos). Em elasmobrânquios, grupo dos peixes cartilaginosos que inclui os tubarões e raias, essas interações são diversas e incluem associações com uma variedade de organismos já descritas, como peixes ósseos, crustáceos e até microorganismos simbiontes. Embora interações simbióticas envolvendo elasmobrânquios já tenham sido descritas, ainda são pouco exploradas em um caráter sintético. Esta revisão sistemática teve como objetivo sintetizar o conhecimento atual sobre interações mutualísticas e comensais entre elasmobrânquios e outros animais, destacando as principais espécies envolvidas e identificando lacunas na literatura, uma vez que a maioria dos estudos existentes foca em aspectos ecológicos gerais ou em relações parasitárias, enquanto interações mutualísticas e comensais permanecem subdocumentadas. Isso limita a compreensão do papel ecológico dos elasmobrânquios nas redes tróficas e na manutenção da biodiversidade marinha. Foi realizada uma busca sistemática de artigos científicos na base de dados do Scopus com combinações das seguintes palavras-chave: elasmo*, shark, batoid, skate, symbiosis, mutualism e cleaning station. Resultados não relacionados à simbiose em elasmobrânquios foram descartados com base na triagem por título e resumo, excluindo também estudos sobre parasitismo e revisões bibliográficas. Além disso, foi realizada uma análise das referências bibliográficas dos artigos selecionados com o objetivo de identificar estudos relevantes não detectados na busca preliminar. As informações extraídas dos artigos incluíram: região de estudo, método de pesquisa empregado, zonas ecológicas das espécies analisadas (demersais (vivem próximos ao fundo, mas não são estritamente bentônicos), pelágicos (vivem na coluna d’água, sem associação direta ao substrato), bentopelágicos (vivem próximos ao fundo, mas possuem a capacidade de se deslocar eventualmente na coluna d’água logo acima do substrato), semipelágico (vivem parcialmente na zona pelágica e parcialmente próximos ao fundo, mas pouco associado a esse)), dados taxonômicos tanto dos elasmobrânquios quanto das espécies com as quais interagiram e tipos de interações realizadas (mutualismo ou comensalismo). Foi utilizado o teste de Goodman para as comparações estatísticas em termos de proporções. Um total de 81 artigos foram encontrados e, desses, 22 foram selecionados e outros sete a partir das análises das referências bibliográficas, totalizando 29 artigos. Foi encontrado que 48% dos estudos foram conduzidos em ilhas oceânicas, 33% em ilhas continentais e 19% em recifes de corais, sem diferenças em termos proporcionais. A maioria dos estudos foi realizado nas Bahamas (23%), seguido por Austrália (13%), Brasil, Filipinas, Maldivas e México (10% cada), Equador (7%) e Colômbia, Golfo do México, Hawaii, Quiribati e Reino Unido (3% cada). Um total de 31 espécies de elasmobrânquios apresentaram alguma interação mutualística ou comensal, sendo que somente 6 espécies de raias (24%) foram estudadas. Essa predominância de estudos com tubarões, em contraste com a escassez de pesquisas sobre raias, evidencia uma lacuna persistente em estudos com elasmobrânquios, que pode estar ligada à maior atenção voltada para tubarões. A raia mais presente entre os artigos foi a Mobula birostris (quatro artigos), enquanto o tubarão mais frequente foi o Rhincodon typus (sete artigos). A família dos Carcharhinidae foi a família mais estudada com 11 artigos. Foi encontrado um total de 16 espécies de peixes com registros de interações com elasmobrânquios, sendo Echeneidae (28 interações)  Carangidae (27) e Labridae (27) as famílias mais representativas.  Os tipos de interação identificados nos artigos, mutualismo (47,5%) e comensalismo (52,5%), não apresentaram diferença significativa entre si. Por outro lado, quando analisados os tipos específicos de interação limpeza (47,5%), carona (30,9%) e esfregar (21,6%), observou-se uma predominância significativa das interações de limpeza em relação às interações de esfregar. Das espécies estudadas 43,3% se encontram em perigo (EN) segundo a lista vermelha da IUCN, 33,3% se encontram vulneráveis (VU), 10% se encontram quase ameaçado (NT) e criticamente em perigo (CR) e 3,3% se encontra com baixa preocupação (LC). As análises estatísticas, indicaram que as espécies classificadas como NT, CR e LC são estatisticamente semelhantes entre si e as categorias EN e VU são estatisticamente semelhantes a todas as outras menos a LC. Isso evidencia uma predominância de estudos direcionados a espécies que se encontram em categorias alarmantes de ameaça, como "Em Perigo" (EN) e "Vulnerável" (VU), porém a categoria CR foi muito pouco representativa, o que pode estar relacionado com o fato das  populações estarem extremamente reduzidas. Foram encontrados cinco métodos (Imagens subaquáticas (74,2%),  Imagens aéreas (9,7%), BRUVS (6,4%), Observação em aquário (6,4%) e Entrevistas (3,2%)) e Observação em aquário (6,4%) sendo imagens subaquáticas significativamente a categoria mais representativa. A ampla utilização desse método evidencia o avanço tecnológico na área e também revela limitações quanto à diversidade de mecanismos utilizados, sugerindo a necessidade de diversificação metodológica. Quanto às zonas (habitats) ecológicas, os animais pelágicos costeiros foram os mais estudados (33,33%), seguido pelos pelágicos oceânicos e costeiros (20%), pelágicos oceânicos, semipelágicos costeiros, demersais costeiros (13,33% cada), bentopelágico oceanico e costeiro e bentopelágicos costeiros (3,33 cada), sem diferenças em termos proporcionais. Assim fica evidente um maior foco em espécies de habitats costeiros, especialmente pelágicos e uma menor representatividade de grupos associados ao substrato, evidenciando mais uma lacuna no conhecimento, possivelmente relacionada à menor acessibilidade e custos elevados envolvidos na pesquisa nesses ambientes. Este estudo sintetizou o conhecimento atual sobre interações mutualísticas e comensais envolvendo elasmobrânquios, destacando padrões importantes e revelando lacunas significativas (menor estudo com: (i) raias, (ii) espécies CR e (iii) de habitat oceânico e profundo), permitindo compreender melhor a diversidade dessas interações e importância para a ecologia marinha. Assim, a revisão contribui para consolidar a base teórica sobre o tema e fornece um panorama sobre as espécies, habitats e tipos de interações documentadas até o momento.

     

     

     Afiliação: LABITEL (laboratório de biologia de Teleósteos e elasmobranquios), Departamento de Ecologia e Zoologia, Centro de Ciencias Biológicas, Universidade Federal de Santa Catarina.

  • Palavras-chave
  • interação interespecífica, tubarões, raias
  • Modalidade
  • Pôster
  • Área Temática
  • AMBIENTAL
Voltar
  • MOLECULAR
  • SAÚDE
  • EDUCAÇÃO
  • AMBIENTAL
  • EXTENSÃO

Comissão Organizadora

Estudantes de biologia da Universidade Estadual de Campinas. 

 

 

Em caso de dúvida, envie um email para contato@caeb.com.br