A fauna associada ao briozoário exótico Amathia verticillata do litoral norte do estado de São Paulo

  • Autor
  • Luis Henrique Ricci Versalli
  • Co-autores
  • Paula Moretti , Pedro Augusto Alves De Campos , Silvana Gomes Leite Siqueira , Fosca Pedini Pereira Leite
  • Resumo
  • ¹Departamento de Biologia Animal, Laboratório de Interações entre Comunidades Marinhas (LICOMAR), Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas

     

     

    Os briozoários são invertebrados aquáticos sésseis que formam colônias compostas por numerosos indivíduos microscópicos chamados zoóides. Esses organismos desempenham um papel ecológico importante como engenheiros de ecossistema, ao criarem estruturas que oferecem abrigo, alimento e substrato para diversas espécies associadas.  Amathia verticillata é uma espécie cosmopolita, distribuída em regiões tropicais e subtropicais, frequentemente associada a substratos artificiais (piers, cascos de navios e material flutuante) e ambientes comumente impactados pelas atividades humanas, como costões rochosos. Estudos mostram que essa espécie é criptogênica e possivelmente invasora no litoral norte do estado de São Paulo. Considera-se que a introdução deste briozoário em São Sebastião tenha ocorrido através de embarcações, visto que a Baía do Araçá, local de grande ocorrência da espécie, está localizada ao lado de um porto. Dada sua elevada abundância e capacidade de formar extensas colônias, essa espécie pode alterar significativamente a estrutura da fauna local, promovendo ou restringindo a ocorrência de outras espécies. Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo caracterizar a comunidade faunística associada ao briozoário Amathia verticillata, por meio da identificação dos principais grupos taxonômicos e dos organismos até o nível específico. Para compreender o papel ecológico dessa espécie como substrato biológico, foram realizadas análises de riqueza e diversidade das espécies associadas, bem como comparações com amostras coletadas em outros tipos de substrato da região. Dessa forma, buscou-se avaliar a contribuição de A. verticillata para a estrutura da comunidade bentônica local e sua possível influência sobre os padrões de biodiversidade em ambientes costeiros impactados. As amostras foram coletadas no outono de 2014, na Ilha de Pernambuco, localizada na Baía do Araçá, litoral norte do estado de São Paulo. Foram coletadas 6 réplicas de 100cm² do substrato em costões rochosos de forma aleatorizada, utilizando o método de raspagem com o auxílio de espátulas e sacos plásticos. As amostras foram colocadas em álcool 70% e levadas para o Laboratório de Interações entre Comunidades Marinhas (LICOMAR) localizado no Instituto de Biologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), onde foram triadas separando a fauna do substrato. Posteriormente, a fauna foi identificada e contabilizada em grandes grupos e em espécies. Para o cálculo da densidade, foram obtidos os pesos seco e úmido do substrato correspondente a cada amostra. Ao todo, foram registrados 243 indivíduos, com uma média de 40 por amostra, distribuídos entre as ordens Amphipoda (146), Decapoda (82), Isopoda (8), Gastropoda (6) e Bivalvia (1). Amphipoda foi o grupo mais representativo, com os seguintes táxons: Elasmopus brasiliensis, Elasmopus pectenicrus, Cymadusa filosa, Caprella scaura, Hyale niger, Ampithoidae, Monocorophium acherusicum, Ericthonius brasiliensis, Pseudaeginella montoucheti, Lysianassidae e Batea catharinensis. Decapoda foi representada por Hippolyte obliquimanus, Hexapanopeus schmitti e um indivíduo da família Majidae. Isopoda apresentou a espécie Paracerceis sculpta; Gastropoda contou com Bittiolum varium, Mitrella dichroa e Costoanachis sp.; e Bivalvia, com um único indivíduo de Brachidontes sp.. Entre os grupos amostrados, Amphipoda e Decapoda destacaram-se como os mais abundantes, representando, respectivamente, 60,08% e 33% do total de indivíduos, sendo Elasmopus brasiliensis e Hippolyte obliquimanus os táxons de maior dominância. As análises foram conduzidas com cinco amostras, uma vez que uma das réplicas apresentou riqueza igual a zero, o que pode indicar uma falha na coleta ou, alternativamente, um ambiente altamente comprometido. Por esse motivo, optou-se por excluir essa amostra das análises de riqueza. Os valores de riqueza variaram entre 2 e 12 espécies. Os índices de diversidade de Shannon oscilaram entre 0,56 e 2,07, indicando variações na complexidade das comunidades entre as réplicas. O índice de Simpson apresentou valores entre 0,375 e 0,839, refletindo diferentes graus de dominância nas comunidades analisadas. A equitabilidade variou de 0,649 a 0,968, sugerindo que algumas amostras apresentaram distribuição relativamente uniforme das abundâncias entre os táxons. A utilização de um maior número de réplicas em estudos ecológicos é fundamental para aumentar a confiabilidade dos resultados, permitindo uma melhor representação da variabilidade natural da comunidade e maior poder estatístico nas comparações. A ampliação do esforço amostral favorece a detecção de padrões ecológicos mais consistentes e reduz a influência de outliers associadas a fatores locais. Entretanto, é importante destacar que a triagem de substratos formados por briozoários, como Amathia verticillata, impõe desafios técnicos relevantes. A estrutura densa e ramificada dessas colônias dificulta a separação da fauna associada, tornando o processo extremamente trabalhoso e demorado. Em função disso, o esforço amostral neste estudo foi limitado, a fim de garantir maior precisão e qualidade nas identificações taxonômicas realizadas. De maneira geral, observou-se a presença de comunidades com diversidade e equitabilidade moderadas a altas, sendo que, mesmo em amostras com menor riqueza, a distribuição das abundâncias foi relativamente equilibrada. Ressalta-se, ainda, que a consolidação das identificações até o menor nível taxonômico possível é essencial para uma descrição mais precisa da biodiversidade e para aumentar a robustez das análises comparativas. A presença de diferentes níveis de identificação pode inflar artificialmente os índices de riqueza e comprometer a interpretação da estrutura comunitária, como observado no caso de Cymadusa sp.. Além disso, diferentemente dos resultados obtidos neste estudo, pesquisas recentes sobre comunidades faunísticas associadas a Ulva sp. em São Sebastião (litoral norte do estado de São Paulo) apontam para uma alta abundância, porém com baixa riqueza de espécies. Esses contrastes destacam o papel ecológico dos briozoários na sustentação de comunidades mais diversas, evidenciando a importância de Amathia verticillata como substrato estruturador e potencial promotor de biodiversidade.

  • Palavras-chave
  • Baía do Araçá, Briozoário cosmopolita, Espécie introduzida
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