Tardígrados são microinvertebrados (0,050 a 1,2 mm) amplamente distribuídos, conhecidos por sua resistência a condições ambientais extremas devido à capacidade de criptobiose. Apesar dessas características, esses animais ainda são pouco estudados, principalmente em países fora do continente europeu. No Brasil, o filo Tardigrada foi pioneiramente estudado nas décadas de 1930 a 1950, pelo grupo de pesquisadores Rosina de Barros, Eveline Du Bois-Reymond Marcus e Ernest Marcus. Dentre o(a)s pesquisadore(a)s pioneiro(a)s, a Dra. Rosina de Barros teve um papel fundamental por revelar a diversidade do grupo no Brasil. Ela foi responsável pela realização das primeiras descrições de espécies novas de tardígrados limnoterrestres no país (principalmente a partir de coletas de musgos na cidade de Campos do Jordão, SP) e de registrar vários novos registros de outras espécies, descritas originalmente para a Europa. Contudo, as limitações tecnológicas da época e a ausência de séries-tipo em coleções museológicas dificultam a reavaliação e delimitação dessas espécies, segundo os critérios taxonômicos contemporâneos. Com isso, este trabalho tem como objetivo redescrever as espécies originalmente descritas por Rosina de Barros utilizando taxonomia integrativa (usando dados morfológicos e moleculares) e com designação de neótipos. Para isso, foram analisadas amostras de musgos coletadas entre 2018 e 2021 em 5 pontos de Campos do Jordão. Para realizar a triagem dos tardígrados, os musgos coletados foram submergidos em água destilada ou mineral por pelo menos 4 horas, após isso, a amostra foi agitada com uma bastão de vidro para soltar os indivíduos dos grumos de musgos, e por fim, a amostra foi colocada em uma proveta a fim de decantar os indivíduos soltos e aqueles que ainda estão presos em pedaços do musgo. Posteriormente, o produto decantado foi colocado em uma placa de petri e triado com o auxílio de um estereomicroscópio Zeiss Stemi 508. Os tardígrados encontrados foram separados e anestesiados em um banho de água destilada em estufa, com temperatura em torno de 60°C por 40 minutos. A partir disso, os indivíduos foram fixados em etanol 70% e preparados para análise morfológica com microscopia óptica (DIC e PCM) e eletrônica de varredura (MEV). Paralelamente, selecionou-se indivíduos que foram fixados em etanol 100%, para futuramente serem analisados do ponto de vista molecular. Os caracteres taxonômicos utilizados para a identificação foram a presença ou ausência de placas esclerotizadas dorsais, cirros, papilas orais, formato e tamanho das estruturas do aparato buco-faríngeo e por fim, simetria e morfologia das garras. Ao analisar as amostras, foram encontrados mais de 250 indivíduos, dentre eles, temos espécimes identificados como pertencentes aos gêneros: Milnesium, Echiniscus, Pseudoechiniscus e Hypsibius, além de diversos indivíduos da família Macrobiotidae. Dentre essas observações, utilizando apenas as carcterísticas morfológicas, foi possível resgatar as espécies: Pseudoechiniscus juanitae, P. novaezeelandiae marinae e Echiniscus spiniger mencionadas pela Dra. Rosina no início dos anos 40. Destas espécies, apenas a espécie P. juanitae foi originalmente descrita para o Brasil e o presente material condiz com as informações da descrição original. Por outro lado, P. novaezeelandiae marinae e Echiniscus spiniger exibem discrepâncias dos indivíduos observados com as descrições originais, e com a tendência atual da tardigradologia, de restringir espécies as regiões biogeográficas aos seus locais tipos, essas espécies têm grande chance de serem novas. Assim, como próximos passos, estão a extração do DNA e realização do sequenciamento de genes específicos para obtenção de informações moleculares de cada uma dessas espécies e a formalização das descrições das espécies novas (neste caso, essa ação já está em desenvolvimento para Pseudoechiniscus aff. novaezeelandiae marinae). A partir dos fatos supracitados, fica claro o papel fundamental das redescrições para elucidar problemas taxonômicos atuais do filo Tardigrada. Evitando o registro errôneo de espécies, e contribuindo para a desconstrução da ideia de cosmopolitismo para algumas espécies dentro do táxon. Além disso, a importância de uma série tipo completa e devidamente depositada na coleção científica de museus, sendo em lâminas permanentes, ou em fotos de alta qualidade é essencial para que se possam haver estudos futuros com o táxon, podendo se atualizar conforme a ciência avança.
Comissão Organizadora
Estudantes de biologia da Universidade Estadual de Campinas.
Em caso de dúvida, envie um email para contato@caeb.com.br