Composição, abundância e riqueza de dípteros (Insecta: Muscomorpha) saprófagos associados ao ambiente urbano em uma área litorânea do Sudeste brasileiro

  • Autor
  • Jenifer Reis Vergilio
  • Co-autores
  • Gabriel Souza de Lima , Letícia Bianca dos Santos , Aline Marrara do Prado , Carina Mara de Souza , Patrícia Jacqueline Thyssen , Claúdio José Von Zuben , Gustavo Maruyama Mori
  • Resumo
  • Diptera (Insecta) é um grupo com grande número de especializações tróficas entre os quais estão a hematofagia, saprofagia, predação e o parasitismo. A infraordem mais numerosa de Diptera é a Muscomorpha, com cerca de 90 mil espécies conhecidas, das quais muitas são saprófagas e sinantrópicas. A expansão desordenada do ambiente urbano frequentemente é acompanhada por deficiências sanitárias, incluindo o acúmulo de resíduos orgânicos sólidos, os quais podem ser explorados por espécies saprófagas. Alterações climáticas, especialmente associadas às elevadas médias de temperatura aceleram a taxa de desenvolvimento e consequentemente promovem um aumento populacional de dípteros sinantrópicos, que irão se alimentar de resíduos e potencialmente veicularão agentes infecciosos. Nesse contexto, compreender a dinâmica populacional de dípteros muscóides associados ao ambiente urbano torna-se relevante para avaliar riscos atuais e futuros no contexto de saúde pública. Assim, neste estudo objetivou-se analisar a composição, abundância e riqueza de dípteros saprófagos em uma área urbana litorânea do Sudeste brasileiro. Coletas de dípteros adultos foram conduzidas ao longo de duas semanas em duas estações, inverno e verão. Armadilhas confeccionadas com duas garrafas plásticas de dois litros, com a parte inferior pintada de preto, continham em seu interior uma isca atrativa composta por porção de tecido animal putrefeito, a qual era trocada a cada 24 h. As armadilhas foram posicionadas em um transecto em forma de cruz, distantes 50 m uma das outras a partir de um ponto central, no município de São Vicente, SP. Temperatura média diária e precipitação acumulada dos períodos de coleta foram obtidos a partir de consulta aos dados aferidos por estação meteorológica automática (A765 de Bertioga, SP). Em laboratório, os espécimes coletados foram individualizados, identificados com uso de chaves taxonômicas e armazenados em tubos plásticos contendo etanol 70%. As abundâncias total e relativa por espécie e dentro de cada estação foram medidas e comparadas entre estações por meio do teste de qui-quadrado. A diversidade foi estimada a partir dos índices de Shannon (H’) e Simpson (D1). Ao todo 479 espécimes de 16 espécies e 6 morfoespécies foram coletados, distribuídos em quatro famílias: Calliphoridae (N= 294), Sarcophagidae (N= 109), Drosophilidae (N= 44) e Ulidiidae (N= 31). Como esperado, por insetos serem organismos ectotérmicos, a abundância foi maior no verão (N= 444) do que no inverno (N= 35) (X2= 349,23; p<0,05), exceto em relação a Drosophilidae. Em sentido contrário ao reportado na literatura, a diversidade não diferiu entre as estações (inverno: H'= 1,649, D1= 0,795; verão: H'= 1,487, D1= 0,642) devido, sobretudo, à dominância de Calliphoridae no verão e as condições climáticas atípicas do inverno, tais como médias de temperatura e precipitação mais elevados para a região. As seguintes espécies, por ordem decrescente de abundância, foram coletadas: Lucilia eximia (Wiedemann) (N= 190), Chrysomya megacephala (Fabricius) (N= 42), C. albiceps (Wiedemann) (N= 40), Lucilia cuprina (Wiedemann) (N= 10), C. putoria  (Wiedemann) (N= 8), Hemilucilia segmentaria (Fabricius) (N= 1), e Chrysomya sp. (Robineau-Desvoidy) (N= 3) (Calliphoridae); Tricharaea (Sarcophagula) occidua (Fabricius) (N=2), Boettcheria aurifera (Lopes) (N= 1), Helicobia morionella (Aldrich) (N= 1), Microcerella halli (Engel) (N= 1), Peckia (Sarcodexia) lambens (Wiedemann) (N=1), Oxysarcodexia sp. (Townsend) (N= 3), Microcerella sp. (Macquart) (N= 1), Peckia (Sarcodexia) sp. (Robineau-Desvoidy) (N= 1), Sarcophaga sp. (Meigen) (N= 1), e spp. fêmeas (N= 97) (Sarcophagidae); sp1. (N= 8), sp2. (N= 7), sp3. (N= 8), sp4. (N= 3), sp5. (N= 6), spp. (N= 12) (Drosophilidae); e Otitinae sp1. (N= 30), Otitinae sp2. (N= 1) (Ulidiidae). A espécie L. eximia foi a mais dominante (51,2%), seguida por C. megacephala (11,9%), C. albiceps (10,9%), L. cuprina (2,7%) e C. putoria (2%). É importante notar que Calliphoridae compôs mais de 60% da fauna saprófaga e sinantrópica desta região, denotando a capacidade destes insetos em viver em ambientes modificados e de explorar recursos orgânicos efêmeros, a exemplo das iscas utilizadas neste estudo. Além disso, na literatura é reportado que os califorídeos L. eximia, C. megacephala e L. cuprina, estão adaptadas a viver em ambientes modificados e por terem comportamento endofílico, isto é, adentrar o interior de habitações, podem vir a representar um potencial risco sanitário na veiculação de patógenos, sobretudo em áreas carentes de manejo adequado de resíduos. Por fim, os resultados obtidos neste estudo ressaltam a importância do monitoramento da fauna saprófaga para a elaboração de estratégias mais eficazes de vigilância e controle de vetores nos centros urbanos.

  • Palavras-chave
  • Moscas, Biodiversidade, Entomologia médica
  • Modalidade
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