Diversidade de nematocistos em Cnidaria e inferências sobre a taxonomia das cnidas.

  • Autor
  • Thales Cauã da Silva
  • Co-autores
  • Amanda Ferreira e Cunha
  • Resumo
  • Nematocistos são organelas especializadas, encontradas em células conhecidas como cnidócitos, presentes nos cnidários. São um tipo de cnida — estruturas exclusivas do filo Cnidaria — junto a espirocistos e pticocistos. Formados a partir de vesículas do complexo de Golgi, os nematocistos consistem em uma cápsula contendo um túbulo eversível, enrolado internamente durante sua formação. Essas estruturas desempenham funções essenciais na defesa, captura de presas e, em alguns casos, auxiliam na locomoção. As primeiras propostas de classificação taxonômica dos nematocistos se basearam na morfologia do túbulo evertido, do shaft (região alargada na base do túbulo) e dos espinhos que revestem sua superfície para propor a definição dos diferentes tipos de nematocistos observados no filo. Com o avanço dos estudos e descrições dos cnidomas de diversas espécies, os autores passaram a levar também em consideração o formato e o tamanho da cápsula para a identificação dos nematocistos. Isso, contribuiu para o surgimento de diferentes critérios e terminologias entre os pesquisadores, o que tem tornado a identificação de nematocistos em Cnidaria bastante desafiadora. Neste sentido, o presente estudo tem como objetivo revisar o histórico taxonômico de classificação das cnidas em Cnidaria, e descrever as variações observadas nas terminologias utilizadas para identificação, assim como na relevância dada a diferentes caracteres para delimitação dos tipos de cápsula. Para isso, foram selecionadas espécimes de diferentes classes do filo Cnidaria, considerando a grande diversidade de nematocistos entre elas, relacionada ao modo de vida de cada grupo. Após a seleção, os materiais conservados em álcool 70% foram transferidos para formol a 4%, onde permaneceram por sete dias. Em seguida, foram colocados em água por tempo indeterminado. Esse processo facilita a visualização dos nematocistos, especialmente em espécies com tecidos mais densos, como em algumas medusas de Cubozoa. A visualização dos nematocistos foi realizada de duas formas: (1) montagem direta de uma parte do tecido animal (geralmente um fragmento do tentáculo de medusas, ou o hidrante com tentáculos no caso dos pólipos) em lâmina e lamínula, mantendo o tecido intacto; (2) esfregaço, aplicando-se pressão sobre a lamínula, o que dissocia o tecido e dispersa os nematocistos, facilitando sua visualização ao microscópio. As primeiras amostras analisadas foram de hidrozoários em estágio de pólipo, uma vez que essa classe apresenta a maior diversidade de nematocistos dentro do filo Cnidaria, podendo conter cerca de 25 tipos distintos. Em espécies como Pennaria disticha, foram identificados nematocistos do tipo estenotelos, caracterizados por cápsulas geralmente ovais e shaft com a porção distal em formato de estilete, além de pseudoestenotelos (parte distal do shaft também em forma de estilete, porém com espinhos menores) inseridos na estrutura (tamanhos variando entre 9,4 e 17,6 µm). Na espécie Eudendrium carneum, observou-se que os principais tipos de nematocistos presentes eram as anisorhizas heterótricas — com cápsula geralmente circular, túbulo expandido na base proximal do opérculo, sem shaft visível e espinhos de tamanhos variados ao longo da superfície —, além de isorhizas, que apresentam cápsula circular, túbulo com diâmetro uniforme ao longo de toda a extensão, sem shaft e com espinhos visíveis com facilidade. Em espécies com forma medusoide, como Olindias sambaquiensis — popularmente conhecida como "medusa reloginho" —, os nematocistos são maiores, o que facilita sua visualização. Nessa espécie, foram identificados nematocistos do tipo microbásico mastigóforo, caracterizados por cápsulas em formato de banana ou oval, shaft curto e, geralmente, sem túbulo visível na extremidade; quando presente, o túbulo é extremamente reduzido e, por isso, muitas vezes desconsiderado na classificação. Também foram observados nematocistos do tipo microbásico euritelo, definidos por shaft curto e distalmente dilatado. Assim, após a análise de diferentes espécies pertencentes a distintas classes do filo Cnidaria, juntamente com uma revisão da literatura, as diferentes categorias descritas inicialmente por Mariscal (1974), podem ser organizados da seguinte forma: desmonemos tem túbulo fechado e forma espiral ao disparar, isorhizas e anisorhizas possuem túbulos uniformes, sem shaft visível, e, se diferenciam pela dilatação na base da base do túbulo (região mais próxima do opérculo). Isorhizas e Anisorhizas podem ser classificadas como átricas (sem espinhos), holótricas (com espinhos ao longo do túbulo) e basítricas (com espinhos mais proeminentes na base do túbulo). Nematocistos do tipo rhabdoides têm shaft visível e variam conforme seu comprimento, podendo ser classificados como, microbásicos, mesobásicos e macrobásicos. Também podem ser classificados como mastigóforos (quando o túbulo continua após o shaft) ou amastigóforos (quando o túbulo termina no shaft), e seus espinhos podem ser do tipo homótricos (espinhos iguais em todo shaft) ou heterótricos (shaft com mais de dois tipos diferentes de espinhos). Euritelos têm shaft dilatado na ponta, também podendo ser classificado como heterótricos ou homótricos. Estenotelos possuem shaft em forma de estilete com três espinhos iguais. Birropaloides têm shaft com duas dilatações, que podem estar separadas (tipo 1) ou unidas (tipo 2). Com essa proposta, espera-se tornar mais claras e precisas as informações para identificação dos nematocistos em Cnidaria, além de contribuir para a estabilização da taxonomia das cnidas.

  • Palavras-chave
  • Cnidoma, cnidócitos, classificação
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