Introdução: A subnutrição, intrauterina, pós-natal ou durante a primeira infância pode desencadear desequilíbrio na homeostase energética, tornando os indivíduos mais propensos à obesidade na vida adulta, especialmente em contextos de ampla disponibilidade de alimentos com alta densidade energética. Essa condição nutricional, caracterizada pela associação entre a subnutrição e obesidade é conhecida como dupla carga de má nutrição. O tecido adiposo desempenha um papel fundamental na regulação da homeostase energética, em especial, o tecido adiposo marrom que contribui significativamente com o aumento do gasto energético através da sua capacidade termogênica. Durante a obesidade, esse tecido apresenta alterações morfofuncionais significativas. Nesse contexto, o ácido biliar tauroursodesoxicólico (TUDCA), tem sido investigado como um possível tratamento contra a obesidade e suas comorbidades. Objetivo: Este estudo teve como objetivo avaliar os efeitos do TUDCA sobre a obesidade e o gasto energético em camundongos submetidos a dupla carga de má nutrição. Metodologia: Camundongos machos da linhagem C57Bl/6J (30–75 dias de idade) foram divididos em grupos controle (C) e com restrição proteica (R), alimentados com dieta normoproteica (14%) e restrita (6%), respectivamente. Metade de cada grupo recebeu uma dieta rica em gordura 35% (HFD) por 12 semanas (CH, RH). Nos últimos 15 dias, durante o período da tarde os camundongos foram tratados via intraperitoneal com 300mg/kg/ de peso corporal de TUDCA (CHT, RHT) e os demais, PBS. Assim, foi avaliado o perfil nutricional, o gasto energético, a temperatura corporal, a adiposidade e a morfologia do tecido adiposo marrom. Os dados foram analisados por two-way ANOVA no software GraphPad Prism 9. p<0,05, p<0,01, p<0,001e p<0,0001foram adotados como critério de significância. (CEUA UNICAMP: 5768-1/2021). Resultados: Os grupos CH e RH apresentaram maior peso corporal (37,4±1,6g e 34±0,6g), consumo alimentar (1,8±0,04 e 1,9±0,05 Kcal) e eficiência alimentar (0,05±0,002g e 0,05±0,002g) em comparação com o grupo C (25,4±0,7g; 1,3±0,04 Kcal; 0,029±0,001g) e R (22,4±0,4g; 1,5±0,04 Kcal; 0,024±0,0009g). Embora o tratamento com TUDCA não tenha alterado o consumo alimentar, ele reduziu o peso corporal e a eficiência alimentar nos grupos CHT (29,5±1,1g; 0,03±0,001g) e RHT (29,5±0,8g; 0,03±0,002g). Além disso, camundongos CH e RH apresentaram aumento dos depósitos de gordura retroperitoneal (1,02±0,08g e 0,74±0,1g), inguinal (1,64±0,2g e 1,21±0,2g) e do tecido adiposo marrom interescapular (0,18±0,02g para RH) em comparação aos grupos C (0,23±0,01g; 0,34±0,03g; 0,11±0,005g) e R (0,19±0,01g; 0,30±0,02g; 0,10±0,007g). O tratamento com TUDCA reduziu esses estoques de gordura em camundongos CHT (0,48±0,07g; 0,65±0,05g; 0,11±0,01g) e RHT (0,33±0,08g; 0,49±0,1g; 0,12±0,001g). Durante o tratamento com o TUDCA, a temperatura corporal manteve-se inalterada. Algo similar ocorreu durante o teste de tolerância ao frio. Avaliamos também o gasto energético durante o dia e a noite e observamos que foi menor nos grupos CH (145,5±2,0 e 150,3±2,8 Kcal/dia) e RH (145,7±3,6 e 157,7±6,1 Kcal/dia) em comparação aos grupos C (165,1±4,3; 170,7±4,5 Kcal/dia) e R (164,7±3,8; 184,6±6,1 Kcal/dia). O tratamento com TUDCA aumentou o gasto energético noturno apenas no grupo RHT (180,2±4,6 Kcal/dia). Ainda, o grupo RH apresentou menor quociente respiratório durante o dia e a noite (0,82±0,01; 0,79±0,02 VCO?/VO?) em comparação ao grupo R (0,97±0,02; 0,98±0,03 VCO?/VO?), mas o tratamento com TUDCA não alterou esse parâmetro. A partir da análise histológica do tecido adiposo marrom, o grupo RH (53,5±3,6%) demonstrou maior área lipídica branca em comparação ao grupo R (39±2,2%), porém o tratamento com o TUDCA não alterou a morfologia desse tecido. Conclusão: A ingestão de HFD associada ou não a subnutrição levou ao desenvolvimento da obesidade. O tratamento com o TUDCA reduziu a adiposidade, podendo esse efeito estar relacionado com o aumento do gasto energético. Se a ativação do tecido adiposo marrom desempenha um papel na redução da adiposidade é uma hipótese que requer estudos adicionais.
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Estudantes de biologia da Universidade Estadual de Campinas.
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