Quanto custa restaurar ecossistemas abertos do Cerrado? Avançando na necessidade de aliar a teoria com a prática

  • Autor
  • Lavínia A. de Oliveira
  • Co-autores
  • Natashi Pilon , Bethina Stein
  • Resumo
  • A restauração de ecossistemas abertos tropicais, como campos e savanas, é um grande desafio para a ciência e órgãos competentes. Atualmente, as técnicas mais utilizadas são a regeneração passiva, semeadura direta e o plantio de mudas arbóreas. Porém, sabe-se que o transplante de material vegetal pode ser uma técnica com maior potencial de trazer grupos funcionais chaves para a resiliência desses sistemas. A técnica de transplante consiste na transferência do solo superficial com estruturas subterrâneas e/ou plantas inteiras de um local doador, geralmente conservado, para um local em processo de restauração. A efetividade do processo de restauração em ecossistemas abertos tropicais depende da introdução de todo componente herbáceo e lenhoso característico desses sistemas (e.g.,ervas, gramíneas, arbustos e subarbustos), componentes que o transplante de material vegetal tem se mostrado promissor em recuperar. No entanto, o custo dessa técnica alternativa ainda não foi avaliado ou comparado com outras técnicas mais usuais, fato que limita sua aplicação para além de experimentos científicos. Dessa forma, objetivamos elucidar o custo da técnica de transplante de material vegetal para ecossistemas abertos do Cerrado, assim como comparar os valores encontrados com técnicas tradicionalmente utilizadas na restauração em larga escala. Nesse sentido, avançando na necessidade de relacionar a teoria com a prática, buscamos responder: (i) Qual o custo da aplicação da técnica de transplante de material vegetal? e (ii) O quanto os valores diferem de técnicas já consagradas na restauração de campos e savanas? Esperamos que os custos associados à técnica de transplante de material vegetal serão maiores, quando comparada à semeadura direta ou plantio de mudas arbóreas, porém devido à maior recuperação da diversidade, torna-se uma opção mais viável. O estudo foi realizado a partir de uma base de dados coletadas em 2013 e 2017, onde realizamos o resgate e atualização de todos os custos operacionais da instalação e manutenção de áreas em processo de restauração. Utilizamos áreas em processo de restauração por transplante de material vegetal (7 anos de idade), áreas em processo de regeneração natural, ambas na Estação Ecológica de Santa Bárbara, São Paulo (EEcSB), e por fim valores encontrados na literatura para a semeadura, plantio de mudas arbóreas e regeneração natural. Cabe ressaltar que nivelamos os valores com base na Portaria 118, de 03 de outubro de 2022, IBAMA. Encontramos que para a aplicação dessa técnica de transplante de material vegetal o valor associado foi de R$15.921,42 por hectare, incluindo a remoção da espécie exótica invasora (Pinus sp.), queima prescrita, limpeza de área, retirada de capins e touceira da área doadora, plantio e manutenção. Por outro lado, a partir dos dados coletados na literatura para a semeadura direta, o custo foi de R$15.561,00/ha. Os custos para plantio de árvores típicas do Cerrado foram estimados em R$16.132,50/ha e para condução da regeneração natural R$1.580,50/ha. Dessa forma, a semeadura foi R$ 360,42/ha menos onerosa que o transplante e o plantio de árvores R$ 211,08/ha mais onerosa. A técnica menos onerosa foi a condução da regeneração natural, sendo aproximadamente 9 vezes menor que o transplante.  

    Apesar da semeadura direta ser a técnica mais aplicada em larga escala para os ecossistemas abertos do Cerrado, há o aumento da proporção de espécies arbóreas e plantas ruderais nas áreas em processo de restauração. Assim, estudos têm demonstrado que há adensamento lenhoso, resultando em fitofisionomia diferente do encontrado nas áreas de referência. Esse adensamento lenhoso, promove menor disponibilidade de luz para as espécies herbáceas, reduzindo o estabelecimento e diversidade de espécies típicas. Além disso, espécies savânicas e campestres apresentam baixo potencial de dispersão e germinação de sementes, inviabilizando a restauração com maior diversidade através da semeadura direta e regeneração natural. Embora o transplante de material vegetal apresente um maior custo, essa é a técnica mais efetiva na recuperação da diversidade de plantas nativas, principalmente, por garantir a introdução de espécies que não se estabelecem adequadamente por sementes, como a maioria das gramíneas nativas do Cerrado. O plantio de árvores, além de ser a técnica mais onerosa, também tem resultado em uma vegetação com maior cobertura de copas, em proporções diferentes do ecossistema de referência, ou quando plantadas com espaçamento amplo o estrato rasteiro é dominado por espécies exóticas invasoras. Apesar de várias limitações que restringem a técnica de transplante em larga escala, a prática pode ser adotada como complementação a outras abordagens de restauração.  

    Dessa maneira, contribuímos para avanços consideráveis na prática da restauração em ecossistemas abertos do Cerrado, proporcionando uma análise profunda econômica, com discussão ecológica, para uma técnica promissora visando recuperar a biodiversidade de campos e savanas tropicais. 

  • Palavras-chave
  • custos, restauração ativa, ecossistemas abertos
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