Cristhy Nacamura Inoue1; Gabriel do Prado Vilaça1; Gustavo Alves Agostinho1; Isabelle Nicoli De Paula Silva1; Kenji William Onaga Mees1; Rafael Beckedorff1; Daiane Montoia-Comparsi2
1Graduação em Ciências Biológicas, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo, Brasil
2Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Laboratório de Interações Multitróficas e Biodiversidade (LIMBio), Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo, Brasil
Macroinvertebrados não correspondem a um conceito taxonômico oficial, sendo geralmente utilizados como uma delimitação artificial que abrange múltiplos grupos de animais invertebrados, especialmente os artrópodes. Tal heterogeneidade implica em uma vasta variabilidade de formas, estratégias de alimentação, nichos ecológicos e habitats. Os ambientes aquáticos de água doce apresentam uma grande diversidade de macroinvertebrados, que desempenham papéis essenciais na ciclagem de nutrientes e energia nas cadeias tróficas, estruturando o ambiente, além de servirem como importantes indicadores de qualidade da água. Dentro desses ambientes, existem dois sistemas principais: sistemas lênticos e lóticos. Os sistemas lênticos correspondem a corpos d’água estagnados, como lagos, lagoas e reservatórios, caracterizados pela ausência de correnteza. Em contrapartida, a presença de corrente de água é a principal característica de sistemas lóticos, como riachos e rios. Assim, diferentes sistemas aquáticos refletem pressões adaptativas específicas, moldando as características encontradas nos organismos. O presente estudo visa avaliar os diferentes grupos de macroinvertebrados encontrados em sistemas aquáticos lênticos e lóticos de uma unidade de conservação. Nossa hipótese é que (H1) a diversidade de espécies não difere entre ambientes lênticos e lóticos, mas (H2) a composição das espécies varia. Prevemos que, embora o número de espécies seja semelhante, a composição será distinta, uma vez que as características abióticas específicas de cada ambiente podem atuar como filtros, selecionando táxons diferentes para habitar e estruturar esses locais. Para isso, realizamos coletas na Reserva Biológica Municipal da Serra do Japi, Unidade de Conservação de Proteção Integral, localizada em uma região montanhosa em que há o encontro das florestas ombrófilas (Serra do mar) e das florestas mesófilas estacionais semidecíduas do planalto paulista. Para a amostragem dos macroinvertebrados aquáticos, utilizamos peneiras com malha de 5 milímetros de abertura. Como modelo de sistema lótico, a amostragem foi realizada em um riacho localizado dentro da zona de conservação, em um trecho sombreado e cercado por vegetação prístina. Foram selecionados três pontos de coleta ao longo do riacho, espaçados a 2 metros entre si, com esforço amostral de três peneiradas em cada ponto. As coletas foram realizadas contra o sentido da correnteza (sentido jusante à montante) para evitar que o sedimento remexido influenciasse os pontos subsequentes. Como modelo de sistema lêntico, a amostragem ocorreu em uma lagoa, em áreas próximas à margem, parcialmente expostas ao sol e com densa população de plantas aquáticas (macrófitas) na superfície. Foram escolhidos três pontos de amostragem espaçados entre si, utilizando o mesmo esforço amostral descrito anteriormente. Os macroinvertebrados coletados foram triados e identificados no menor nível taxonômico possível com o auxílio do “Manual de Identificação de Macroinvertebrados Aquáticos do Estado do Rio de Janeiro”. Indivíduos pertencentes ao mesmo grupo taxonômico, mas com diferenças morfológicas, foram segregados em morfotipos distintos e considerados como grupos diferentes na análise estatística. Para avaliar as diferenças dos grupos taxonômicos, utilizamos o teste-t de Student, implementado pela função t.test do software R, para comparar a riqueza (número de grupos taxonômicos) e a abundância (número de indivíduos) entre os locais. Também calculamos os índices de diversidade de Simpson e Shannon, utilizando a função diversity do pacote vegan, para investigar diferenças na diversidade entre os ambientes. Para testar as diferenças na composição de espécies (H?) entre os ambientes lênticos e lóticos, calculamos matrizes de distância com a função vegdist do pacote vegan, aplicando os métodos de Bray-Curtis (baseado em abundância) e Jaccard (baseado em presença/ausência). Esse procedimento permitiu investigar se as dissimilaridades entre os ambientes são impulsionadas pela abundância ou pela identidade dos organismos. Em seguida, realizamos a Análise de Variância Multivariada Permutacional (PERMANOVA) para testar as diferenças na composição. Por fim, para determinar se o tipo de ambiente (lêntico/lagoa ou lótico/riacho) influencia a composição de espécies, ajustamos um Modelo Linear Generalizado Multivariado (MLGM). Todas as análises foram realizadas no ambiente RStudio, versão 4.3.3. A partir das análises, avaliamos que a riqueza total (número de grupos taxonômicos) no sistema lêntico foi de 10 grupos, sendo eles: Anisoptera, Belostomatidae sp.1, Belostomatidae sp.2, Chironomidae, Ephemeroptera sp.1, Ephemeroptera sp.2, Gastropoda, Notonectidae, Zygoptera sp.1 e Zygoptera sp.2. Já no sistema lótico, a riqueza total foi de 12 grupos, sendo eles: Anisoptera, Dolichopodidae, Dysticidae, Ephemeroptera sp.1, Hydrophilidae, Mesoveliidae, Oligochaeta, Planariidae, Plecoptera, Tabanidae, Trichoptera e Zygoptera sp.1. Quanto à abundância total (número total de macroinvertebrados), encontramos 24 indivíduos no sistema lótico e 15 indivíduos no sistema lêntico. Em relação à diversidade, não observamos diferenças significativas. No entanto, a composição dos organismos é distinta entre os ambientes. Nossas análises indicaram que, neste estudo, a identidade dos organismos presentes nos diferentes ambientes é mais relevante do que sua abundância. Essa diferença pode decorrer das condições específicas de cada meio, que implicam na seleção de características adaptativas. Sugerimos que tais diferenças podem estar relacionadas às estratégias de sobrevivência desses organismos, especialmente no que diz respeito à fixação no ambiente e à aquisição de oxigênio. Concluímos que, embora os sistemas lóticos e lênticos compartilhem algumas espécies, as condições abióticas específicas podem atuar como filtros ecológicos, moldando comunidades com composições únicas. Este estudo reforça a importância de considerar a composição de espécies, além da diversidade, para compreender a estrutura dos sistemas aquáticos. Além disso, os resultados destacam o papel das pressões seletivas na manutenção da biodiversidade em diferentes tipos de habitats aquáticos. A avaliação de comunidades de macroinvertebrados aquáticos não apenas contribui para o entendimento de processos ecológicos, mas também fornece subsídios para estratégias de conservação e monitoramento ambiental em áreas de proteção integral, como a Reserva Biológica Municipal da Serra do Japi.
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Estudantes de biologia da Universidade Estadual de Campinas.
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