Como os fatores ambientais e sociais podem contribuir para o estabelecimento de uma epidemia de dengue? Uma visão local

  • Autor
  • Breno Lucas Souza
  • Co-autores
  • João Vitor Almeida-Santos , Patrícia Jacqueline Thyssen
  • Resumo
  • A dengue, causada pelo arbovírus DENV (Flaviviridae), é uma doença que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo. Decorrente de suas epidemias reemergentes, a doença tem sido um desafio constante aos órgãos de saúde pública brasileiros devido ao número de pessoas acometidas, gerando o afastamento temporário de adultos dos postos de trabalho, lotação de hospitais e unidades de saúde, e óbitos, particularmente na faixa etária mais sensível como crianças e idosos. A curva de crescimento do número de casos de dengue passou a ser mais acentuada a partir de 2018. Por exemplo, em 2019, foram diagnosticados cerca de 807 e 850 casos e mortes por 100 mil habitantes, respectivamente, tendo atingido o ápice em 2024 com o maior número de casos registrados neste século. O vetor Aedes aegypti (Insecta, Diptera, Culicidae) é o principal agente disseminador do vírus, uma vez que possui hábito hematófago. Com um ciclo de vida ovo-adulto relativamente curto, entre 10 e 7 dias sob temperaturas médias de 25 e 28ºC. A deposição de ovos pela fêmea não é feita diretamente sobre a água, mas em recipientes que constituirão reservatórios temporários para o desenvolvimento das larvas e pupas. Chama a atenção o fato de que o mosquito está totalmente adaptado ao ambiente urbano considerando fatores inerentes ao inseto tais como a alta resistência dos ovos a longos períodos de seca, baixa mobilidade da fêmea de seu criadouro inicial, uso de reservatórios com pequeno volume de água, e aqueles inerentes às condições ambientais tais como o crescimento desordenado das cidades, medidas insuficientes de coleta de resíduos sólidos, falta de educação social, elevação das temperaturas médias e volume de precipitação associadas às mudanças climáticas do planeta, entre outros. Desse modo, foi objetivo deste estudo levantar informações a respeito da distribuição do A. aegypti e de potenciais fatores associados para o estabelecimento do mosquito tomando como base uma localidade da região Sudeste do Brasil. Coletas de larvas foram feitas, semanalmente, entre fevereiro de 2023 e dezembro de 2024, utilizando larvitrampas (N= 25) instaladas em locais estratégicos no campus universitário de Barão Geraldo, Campinas, SP. Dados meteorológicos (médias de temperatura ambiente e umidade relativa do ar, e precipitação acumulada) foram obtidos a partir de consulta a estações de aferições automáticas disponibilizadas pelo INMET. Em 2023, registrou-se a presença de larvas de A. aegypti em quatro meses: abril (N= 316), maio (N= 394), junho (N= 108) e outubro (N= 656). Já em 2024, em apenas três meses não houve registro de larvas; nos demais a abundância por mês foi: abril (N= 63), maio (N= 483), junho (N= 34), julho (N= 21), agosto (N= 175), setembro (N= 151), outubro (N= 111), novembro (N= 453) e dezembro (N= 637). As médias de temperatura e as mínimas mensais foram ligeiramente maiores em 2024 (22,6ºC; mínima 18,6ºC) do que em 2023 (21,4ºC; mínima 16,2ºC). Quanto às médias de umidade relativa e precipitação acumuladas mensais, no ano de 2023 foram registrados índices discretamente mais elevados (74,9% e 3,2 mm) do que em 2024 (66,1% e 2,5 mm). Notadamente, em meses cujo acúmulo de precipitações esteve em cerca de 7 mm e a umidade do ar acima de 85% não foram coletadas larvas do mosquito, embora tenha sido um fator relevante para a abundância expressiva de larvas encontradas nas armadilhas no período subsequente, tal como fora observado entre os meses de abril-junho de 2023 e 2024. Como esperado, em 2023 não foram registradas larvas de A. aegypti entre os meses de julho-setembro. Com condições ambientais ainda mais acentuadamente desfavoráveis para a proliferação do A. aegypti, especialmente relativas à precipitação e umidade, entre julho-setembro de 2024 a presença de larvas foi inesperadamente registrada nas larvitrampas. É de amplo conhecimento que a taxa de desenvolvimento dos insetos sofre forte influência da temperatura, uma vez que são organismos ectotérmicos. Não é questionável que as altas temperaturas em 2024 possam ter contribuído fortemente com a explosão populacional de A. aegypti aqui relatada. Mas considerando que as larvas necessitam da água para completar uma etapa importante do seu desenvolvimento e que a escassez hídrica no período foi predominante na maioria dos meses, outros fatores também precisam ser considerados. No que diz respeito aos fatores sociais, a negligência na eliminação de resíduos como copos e demais recipientes descartáveis, além das obras para a manutenção ou adequação da infraestrutura têm levado à constituição de reservatórios temporários no campus. Ao longo dos trabalhos de coleta foram observados acúmulos de descartáveis em certos pontos de maior circulação fora dos locais destinados ao armazenamento e recolhimento deste material, além de lonas, covas e utensílios com acúmulo de água, os quais estavam associados com obras paradas por semanas. Conclui-se então que para o estabelecimento bem sucedido de medidas para prevenir a proliferação de A. aegypti não deve-se considerar apenas os aspectos ambientais.

  • Palavras-chave
  • entomologia médica, ecologia, saúde pública, mosquito
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