Educação, Pesquisa e Sociedade: Atuação do Projeto Mergulhando na Conservação no Parque Estadual da Ilha Anchieta O Parque Estadual da Ilha Anchieta (PEIA), criado em 1977, é uma Unidade de Conservação de Proteção Integral localizada no litoral norte de São Paulo, no município de Ubatuba. A ilha abriga sete praias com ecossistemas naturais de alta relevância ecológica, configurando-se como um espaço estratégico para a conservação da biodiversidade, o desenvolvimento de pesquisas científicas e ações de educação ambiental. O Mergulhando na Conservação é uma iniciativa do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), desenvolvida em parceria com o PEIA, que atua por meio de ações de educação ambiental e levantamento de dados da ictiofauna, realizadas por voluntários nas praias da ilha. O objetivo do projeto é integrar a pesquisa científica à sociedade através da ciência cidadã, da educação ambiental e de ações voltadas à conservação oceânica, tendo como espécie-alvo a raia-chita (Aetobatus narinari).
Este resumo relata as ações desenvolvidas por oito estudantes de Ciências Biológicas e Oceanografia, provenientes de diferentes universidades do país, durante a execução do projeto Mergulhando na Conservação em janeiro de 2024.
Durante o período de voluntariado, os participantes receberam capacitação para as atividades e ficaram alojados na sede administrativa do parque por um mês. A convivência diária também contou com a presença de outros quatro voluntários de um projeto simultâneo na ilha. As atividades eram organizadas por meio de uma escala, que direcionava cada voluntário para diferentes tipos de tarefas.
Em parceria com o projeto Tenda Oceano (IO-USP), foram realizadas ações de educação ambiental na praia das Palmas, dentro do parque, onde os visitantes aprendiam sobre biodiversidade marinha por meio da exposição de animais taxidermizados, equipamentos de pesquisa oceanográfica e apresentação das atividades do projeto Mergulhando na Conservação em uma tenda montada na areia. Os voluntários também conduziam mergulhos livres guiados, oferecendo máscaras de snorkel, flutuantes e coletes salva-vidas, promovendo a observação da fauna marinha e estimulando reflexões e o engajamento do público na conservação dos oceanos. Outra abordagem importante do projeto foi a incorporação da ciência cidadã à coleta de dados: os visitantes eram orientados a identificar e registrar avistamentos da raia-chita em Ubatuba, contribuindo com informações valiosas para o monitoramento e conservação da espécie no litoral norte de São Paulo.
Nas redes sociais, o projeto divulga conteúdos relacionados à conservação oceânica e ciência cidadã, incentivando a participação da comunidade no reconhecimento e registro da raia-chita, ampliando o alcance da conscientização ambiental. Por isso, os voluntários também colaboraram com a produção de conteúdo digital sobre as atividades desenvolvidas.
Por fim, para o levantamento de dados sobre a ictiofauna e o monitoramento da raia-chita, foram utilizadas duas metodologias complementares: Diving Operated Video (DOV), que consistiu em mergulhos livres de aproximadamente 20 minutos com o uso de uma câmera GoPro fixada em suporte, realizados em transectos nas praias do Sul, Palmas e Engenho, em horários anteriores à abertura do parque. E o Baited Remote Underwater Video (BRUV), na qual câmeras submersas com iscas eram lançadas no píer, permanecendo por cerca de uma hora para posterior análise. A triagem e identificação das espécies registradas em vídeo de turmas anteriores também faziam parte da rotina dos voluntários.
Como resultado das atividades realizadas ao longo de 17 dias, considerando folgas programadas e dias de tempestade que impossibilitaram as ações, a Tenda Oceano, recebeu 1.798 visitantes no período das 9h às 17h. Nesse contexto, também foram conduzidos 81 mergulhos livres guiados ao longo do costão rochoso do lado direito da praia, promovendo a observação de diversos animais marinhos, como arraia-manteiga (Gymnura altavela), arraia-viola (Rhinobatos percellens), tartaruga-verde (Chelonia mydas), sargentinho (Abudefduf saxatilis), entre outros, além da sensibilização ambiental dos participantes, que relataram a emoção proporcionada pela experiência. Cada voluntário foi responsável por analisar ao menos um vídeo completo dos transectos, preenchendo uma plataforma de dados de avistamento com diversas informações relevantes sobre a fauna local. A equipe produziu nove conteúdos para as redes sociais do projeto, ampliando a divulgação científica e fortalecendo as ações de educação ambiental. No monitoramento da ictiofauna, foram obtidos 58 registros audiovisuais: 8 lançamentos com a metodologia BRUV, realizados no píer da ilha, e 50 filmagens com a metodologia DOV, aplicadas em 22 transectos nas praias do Sul, Palmas e Engenho. Entre os registros, destacam-se avistamentos da raia-chita (Aetobatus narinari) captados em vídeo, incluindo também gravações enviadas por visitantes da ilha, que contribuíram com o banco de dados do projeto e reforçaram a relevância da ciência cidadã para o monitoramento participativo e a conservação marinha.
Os métodos aplicados foram fundamentais para atingir o objetivo central do trabalho, que envolvia a integração entre pesquisa científica, ciência cidadã e educação ambiental voltada à conservação marinha. As ações educativas realizadas diariamente na Tenda Oceano e durante os mergulhos guiados possibilitaram a sensibilização direta de centenas de visitantes, promovendo o engajamento do público na valorização dos ecossistemas marinhos.
O projeto tem como público-alvo turistas e moradores que visitam o Parque Estadual da Ilha Anchieta. Ao participar das atividades, esses visitantes têm a oportunidade de observar a fauna marinha, aprender sobre os impactos das ações humanas e contribuir com registros de espécies, como a raia-chita, reforçando o papel da ciência cidadã no monitoramento participativo. Essa abordagem contribui para o fortalecimento da consciência ambiental e do letramento oceânico, promovendo o entendimento sobre a importância dos oceanos para a vida no planeta.
A participação ativa dos estudantes, tanto nas ações de educação ambiental quanto na coleta e análise de dados, demonstra como o envolvimento social fortalece a produção de conhecimento e as práticas de conservação. As metodologias de monitoramento aplicadas, como o Diving Operated Video (DOV) e o Baited Remote Underwater Video (BRUV), permitiram a obtenção de registros da ictiofauna local, incluindo avistamentos da raia-chita.
Os materiais registrados foram triados pelos voluntários, contribuindo para a atualização da base de dados do projeto com informações relevantes para a pesquisa e conservação marinha. A contribuição dos visitantes, por meio de registros audiovisuais, complementou esse processo e reforçou o impacto positivo da integração entre ciência e sociedade.
Comissão Organizadora
Estudantes de biologia da Universidade Estadual de Campinas.
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