A maioria das plantas terrestres se associa a fungos, sendo esta dinâmica parte importante
de diversos processos ecossistêmicos. Tal relação é especialmente presente nas
orquídeas, que dependem de fungos micorrízicos para germinação, estabelecimento no
ambiente e sobrevivência. Variações nas comunidades fúngicas podem impactar na
abundância e distribuição dessas plantas, bem como na coexistência com outras espécies.
Dependendo das condições ambientais, a mesma espécie de orquídea pode ser colonizada
por diferentes fungos micorrízicos e endofíticos quando em habitats distintos. Epidendrum
fulgens é uma orquídea nativa e endêmica do Brasil, que ocorre tanto em restingas quanto
em afloramentos rochosos, incluindo diversas ilhas marinhas. Assim, este trabalho teve
como objetivo investigar os efeitos do isolamento geográfico insular e de diferentes
condições ambientais na composição populacional e diversidade de fungos associados às
raízes de E. fulgens. Para isso, foram coletadas raízes de populações de E. fulgens de 4
ambientes distintos, sendo dois deles de restingas (Bertioga - SP e Ubatuba - SP) e dois de
ilhas (Ilha do Montão de Trigo - SP e Ilha de Alcatrazes - SP). O DNA das raízes foi extraído
e submetido à PCR, utilizando primers específicos para amplificação da região ITS dos
fungos. Então, as sequências obtidas foram processadas e identificadas taxonomicamente,
além de serem realizadas medidas de diversidade alfa e beta. As análises revelaram
variações nos gêneros de fungos mais abundantes nas quatro populações, com
predominância dos filos Basidiomycota e Ascomycota. Além disso, a Ilha do Montão de
Trigo apresentou maior diversidade filogenética em relação às demais populações, assim
como um maior número de gêneros diferentes por indivíduo. Essa ilha é habitada por uma
comunidade caiçara tradicional, cujas práticas podem estar contribuindo com a conservação
da biodiversidade fúngica local. Os resultados também revelam limitações no atual
conhecimento sobre fungos neotropicais, evidenciadas pela dificuldade de identificação a
nível de espécie – possivelmente devido ao predomínio de espécies do norte global em
bancos de dados – e pela escassez de registros de associações micorrízicas e endofíticas
para muitos dos gêneros encontrados. A elevada diversidade de fungos observada
evidencia seu papel na adaptação e sobrevivência das orquídeas, ao mesmo tempo que
destaca lacunas importantes acerca dessas interações. Dessa forma, a compreensão
desses processos pode fornecer novas ferramentas para a conservação de orquídeas
nativas e auxiliar no entendimento de uma parcela da biodiversidade ainda negligenciada.
Comissão Organizadora
Estudantes de biologia da Universidade Estadual de Campinas.
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