Ao longo da evolução, as angiospermas desenvolveram, por meio da seleção natural, diversos mecanismos que garantem a dispersão do pólen. Dentre esses mecanismos, a variação de cores em flores de uma mesma espécie desempenha um papel crucial, influenciando diretamente a atração de polinizadores e a eficiência da polinização. Em Pleroma cf. sellowianum, cujas flores exibem um gradiente cromático que varia do branco com nuances de roxo até o rosa-magenta intenso. Essa diversidade pode estar associada a fatores genéticos, adaptações locais ou interações específicas com polinizadores. Diante desse cenário, o estudo da variação de cor em Pleroma cf. sellowianum, do branco-arroxeado ao rosa-magenta, em relação à taxa de visitação foi o objeto de estudo deste trabalho. A coleta dos dados foi realizada no alto do Pico dos Cabritos, a aproximadamente 1.470 metros de altitude. Foram observados, ao todo, 11 indivíduos da espécie Pleroma cf. sellowiana, distribuídos em localidades com boa exposição solar, iniciadas das 10h30 até às 12h. A amostragem considerou indivíduos floridos que apresentavam florescências com coloração branco-arroxeado e rosa-magenta. A escolha dos ramos amostrados foi feita de forma aleatória, contendo de 3 a 5 flores por coloração. Foram observadas visitas florais conduzidas com o auxílio de contadores manuais e pranchetas para o registro em tempo real de maneira pareada, dois observadores para cada conjunto de flores rosa-magenta e branca-arroxeada. Cada planta foi observada individualmente por um período contínuo de 15 minutos. As visitas foram definidas como qualquer pouso de animal polinizador diretamente sobre as flores, independentemente de ser o mesmo indivíduo realizando múltiplas visitas na mesma flor ou em flores diferentes do mesmo ramo. Além disso, o teste estatístico de Wilcoxon pareado foi utilizado para averiguar a probabilidade e significância das amostras em um cenário real. Os resultados de visitações entre as flores branca-arroxeadas e flores rosa-magenta da planta Pleroma cf. sellowianum tiveram discrepância em preferência. As brancas-arroxeadas receberam um total de 110 visitas, enquanto as flores rosa-magenta contabilizaram apenas 4 visitas ao longo de todas as sessões de amostragem. Quanto ao teste estatístico de Wilcoxon, foi obtido um valor de 0.00796, ou seja 0,8% de probabilidade de ocorrência ao acaso. Analisando o desenvolvimento das flores dos indivíduos, observamos que os botões florais evidenciaram as pétalas brancas-arroxeadas em seu interior, enquanto muitas das flores rosa-magenta já estavam perdendo seu tônus específico, secando e perdendo estruturas reprodutivas, apesar disso, ainda estavam fixas aos ramos da planta. Com isso, ficou evidente que as flores mais recentes e abundantes de néctar, são as brancas-arroxeadas, enquanto as rosas-arroxeadas são as mais velhas, com menos néctar, e com estruturas reprodutivas decadentes. Estudando mais sobre o porquê de tantas flores velhas ainda estarem presas no ramo, foram encontrados estudos demonstrando que existem casos em que é mais vantajoso para a planta, manter flores velhas vivas como um atrativo a longa distância, do que simplesmente fazer elas caírem do ramo. A análise dos frutos também corrobora essa ideia, pois em frutos ainda em desenvolvimento, foi possível observar restos de pétalas rosa-magenta ainda presas neles. Outro fator relevante a ser considerado em trabalhos futuros é a influência da luz ultravioleta, dado que alguns polinizadores são atraídos pelo reflexo de luz ultravioleta, assim, as flores brancas-arroxeadas possivelmente seriam mais chamativas e refletivas para as abelhas. Visto que muitos predadores especializados em polinizadores diurnos, tendem a exibir uma coloração esbranquiçada, ou tons mais claros, como por exemplo as aranhas da família Thomisidae, especialmente as aranhas do gênero Epicadus. Com base nos fatos supracitados, é possível interpretar que a variação cromática observada nas flores de Pleroma cf. sellowianum está fortemente relacionada ao estágio de desenvolvimento floral, apresentando implicações diretas na taxa de visitação por polinizadores. As flores branco-arroxeadas, associadas a estágios mais recentes e funcionalmente reprodutivos, foram significativamente mais visitadas (110 visitas) em relação às flores rosa-magenta, que se encontram praticamente inativas reprodutivamente (4 visitas). A análise estatística por meio do teste de Wilcoxon reforça a robustez dessa diferença, com um p-valor de 0.00796, indicando que a preferência observada dificilmente ocorreu ao acaso. Assim, esses resultados sugerem que a coloração floral em P. cf. sellowianum não apenas influencia a atratividade para os polinizadores, mas também atua como um indicativo visual do estágio reprodutivo da flor, auxiliando os visitantes a direcionarem seus esforços de forrageamento de maneira mais eficiente. A presença persistente de flores envelhecidas nos ramos, mesmo após a perda de estruturas reprodutivas, pode representar uma estratégia adaptativa da planta, servindo como um atrativo visual de longo alcance. Portanto, a variação de cor em Pleroma cf. sellowianum parece constituir uma estratégia evolutiva multifuncional, sendo uma forma de comunicação e direcionamento visual de polinizadores, pois a longas distâncias, a retenção de flores roxas ajuda a atrair polinizadores, e a curtas distâncias, a variação de cor direciona os polinizadores para as flores com mais recursos disponíveis.
Comissão Organizadora
Estudantes de biologia da Universidade Estadual de Campinas.
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